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Impopular, Temer aposta na máquina e poder do MDB para ser protagonista em sucessão presidencial

19 jan 2018 - 18h11
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O presidente Michel Temer trabalha para ter papel de protagonismo na sucessão ao Palácio do Planalto com o discurso de que é preciso um nome para defender seu legado reformista e o trunfo de ter ascendência sobre o MDB, partido com maior capilaridade no país e maior tempo de rádio e TV, ativo importante na primeira eleição presidencial sem financiamento de empresas.

Presidente Michel Temer durante café da manhã com jornalistas em Brasília
22/12/2017 REUTERS/Adriano Machado
Presidente Michel Temer durante café da manhã com jornalistas em Brasília 22/12/2017 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

A tarefa não é simples porque Temer, a 10 meses das eleições, ostenta uma grande impopularidade e não tem um candidato natural para o cargo. Por ora, dois pré-candidatos do campo do governo --o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM)-- patinam nas pesquisas de intenção de voto e tentam viabilizar seus nomes até abril.

O presidente fez recentemente, no entanto, um aceno mais explícito ao tucano Geraldo Alckmin, que vinha defendendo o afastamento do PSDB do governo após denúncias apresentadas contra Temer pela Procuradoria-Geral da República.

Mesmo diante da tradicional força do governo, a corrida eleitoral está polarizada no momento entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), ambos críticos à agenda de reformas.

A intenção de Temer, segundo fontes próximas a ele ouvidas pela Reuters, é que haja um único candidato ao Planalto da base governista. Essa é uma forma de garantir um grande tempo de TV na campanha para fazer frente às demais candidaturas.

A preocupação é que o atual presidente não "apanhe" na campanha sem que haja alguém para defendê-lo. Após chegar à Presidência com o impeachment da petista Dilma Rousseff, o MDB também não quer perder espaço na Esplanada e pretende ter influência na sucessão presidencial.

Aliados de Temer admitem que houve um desgaste forte do governo em relação à agenda de reformas, principalmente pela dura proposta inicial de mudanças nas regras previdenciárias. Mas concordam que o peso da caneta presidencial --capaz de fazer nomeações para cargos e liberação de verbas-- é outro trunfo para uma aliança em torno do presidente.

"Entendemos que a união desse conjunto de forças é fundamental para que tenhamos condições de interferir na eleição", disse o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, em entrevista recente à Reuters. "Eu entendo que esse conjunto de forças que hoje compõe a base do governo vai ter um candidato ou apoiar algum candidato."

Para tanto, a aposta dos aliados do governo é que uma melhora nos indicadores econômicos reduza a impopularidade do presidente e aumente o cacife dele para sua própria sucessão. Se esse cenário prosperar, há quem chegue a defender até mesmo uma candidatura própria de Temer.

"O MDB terá papel importante e fundamental nas próximas eleições", disse o presidente do Senado e tesoureiro do partido, Eunício Oliveira (CE), ligado a Temer. "Candidatura própria não sei ainda se teremos ou se vamos apoiar outro candidato, mas estamos dentro do jogo. Ninguém pode ignorar o maior partido do Brasil com toda a estrutura que tem", completou.

O presidente do PTB, Roberto Jefferson, disse não acreditar numa candidatura à reeleição de Temer, mas avalia que a medida, ventilada por alguns aliados, tem por objetivo mantê-lo com força política na corrida presidencial. Entusiasta do nome de Alckmin, ele disse que o legado do candidato apoiado pelo presidente não pode ser apenas o da reforma, mas de alguém que trabalhou para a retomada do crescimento econômico e da criação de novos empregos.

Tesoureiro do PSDB e um dos tucanos mais próximos a Alckmin, o deputado federal Silvio Torres (SP) reconhece que, mesmo diante da adversidade, o presidente terá um papel relevante na eleição. "Ninguém deve subestimar o governismo, é uma coisa que está consolidada no eleitorado. O candidato do governo sempre tem um patamar, por pior que seja a popularidade", afirmou ele, para quem, se a economia se recuperar visivelmente, a influência de Temer aumentará.

Torres disse que é preciso aguardar uma definição do MDB sobre apoios na eleição, embora não acredite numa aliança entre os dois partidos. Ele disse que os tucanos não vão fazer uma campanha de "oposição ao governo", mas terão um programa de governo próprio que deverá ser lançado até meio do ano.

"Não fechamos as portas, vamos continuar acompanhando a situação", ressaltou.

Um dos tucanos mais próximos a Temer, o ex-presidente do partido José Aníbal considera que a força do presidente nas eleições vai aumentar em caso de aprovação da reforma da Previdência. "Se vota, certamente vai ter uma maior presença na sucessão", disse.

FATOR LULA

Um fator de preocupação para Temer concretizar seu plano é a candidatura de Lula, líder nas pesquisas de intenção de voto que corre o risco de ser barrado se eventualmente o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) confirmar a condenação dele na próxima semana no caso do tríplex do Guarujá. O ex-presidente pode virar ficha-suja e mudar o jogo eleitoral, caso os recursos judiciais que ele vai apresentar não prosperem.

Integrantes da base de Temer admitem que podem apoiar o ex-presidente. Eles não receiam que isso possa custar eventualmente a saída de ministros da Esplanada.

"Se Lula for candidato, a tendência da Executiva do PR é ir com ele já no primeiro turno", disse o líder do partido na Câmara, José Rocha (BA). Mesmo no partido de Temer, o MDB, há quem defenda o nome de Lula em outubro.

Ainda assim, a tendência dessa candidatura costurada pelo governo é polarizar com o ex-presidente. A avaliação corrente entre aliados é que Bolsonaro --segundo colocado nas pesquisas-- vai ser "desconstruído" durante a própria campanha.

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