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Ideia de 'felicidade' brasileira esconde maior taxa de depressão da A.Latina

24 jun 2017 - 14h36
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Pau Ramírez.

Rio de Janeiro, 24 jun (EFE). - A imagem do Brasil como um lugar alegre que emana felicidade contrasta com o relatório feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que indica que o país tem a maior taxa de depressão da América Latina.

De acordo com o organismo, 5,8% dos brasileiros (ou 11,5 milhões de pessoas) sofrem de depressão, superando a média mundial, que é de 4,4% (ou 322 milhões de pessoas).

Para a psicóloga Celia Resende, o aumento da depressão no Brasil se deve à "falta de valores" da sociedade.

"Existe uma insegurança econômica muito grande, os jovens estão sem esperança e a droga está muito espalhada", disse ela à Agência Efe.

Segundo Celia, existe uma questão cultural de perda de valores, em um país "extremadamente erotizado".

"Existia um pedido de liberdade através do sexo que começou nos anos 60. Era um movimento com uma filosofia por trás, mas isso se perdeu nos anos 90 e agora só existe a erotização pela erotização", afirmou.

Já para o psicólogo e psiquiatra Alexandre Keusen, os números refletem o fato de o Brasil ter uma vida muito mais urbana do que a maioria dos países vizinhos.

"No Brasil, tudo está muito mais concentrado nas metrópoles", disse Keusen à Efe.

Segundo a OMS, a taxa de depressão no mundo subiu 18% em apenas uma década. Na América Latina, o Brasil aparece seguido de Cuba (5,5%) e Paraguai (5,2%). Chile e Uruguai ocupam a mesma posição, ambos com 5%.

No continente, só os Estados Unidos, com 5,9%, superam o índice brasileiro. O país com a menor taxa do grupo é a Guatemala, com apenas 3,7%.

Para Keusen, uma das causas que explicam o aumento dos casos de depressão no mundo é o ritmo de vida atual.

"Hoje, as pessoas, em geral, querem respostas imediatas. O organismo fica sobrecarregado e, consequentemente, existem mais pessoas ansiosas", analisou.

A nível mundial, a incidência da doença é maior nas mulheres (5,1%) do que nos homens (3,5%). Os dois psicólogos, no entanto, são céticos sobre os números.

Segundo Celia, os dados sobre as mulheres podem ser atribuídos "a uma questão hormonal" e em sua opinião a taxa de depressão feminina seria menor do que a taxa masculina.

"Os homens estão perdendo valores, poder e liderança. Estão desorientados e não estão colocando outros valores. Ainda existem pensamentos machistas, como há 50 anos, e isto já não funciona mais. Existe um vazio na busca de poder através do sexo", sentenciou.

Por outro lado, para Keusen, as mulheres "assumem mais a depressão do que os homens", mas ele afirmou que não descarta que a realidade seja muito diferente.

"Às vezes a depressão aparece com o alcoolismo. Muitos alcoólatras são deprimidos e muitas vezes os homens acabam expressando a depressão de uma forma que não está reconhecida como tal", explicou.

Keusen criticou os preconceitos que cercam à doença e lamentou que ela seja "ridicularizada socialmente" e que "poucas pessoas admitam ter".

"Existem muitos preconceitos com depressão. Ela é vista como uma fraqueza, e muitas pessoas não entendem que alguém que está deprimido perde a vontade e a alegria de viver. Enxerga tudo preto", disse.

Segundo a OMS, a depressão é a doença que mais provoca suicídios no mundo, 800 mil casos por ano. Além disso, 264 milhões de pessoas sofrem de transtornos de ansiedade, em média 3,6% da população, 15% a mais do que em 2005.

O Brasil também lidera esse ranking na América Latina, com 9,3% da população com algum tipo de transtorno de ansiedade (18,6 milhões de pessoas), quase o triplo da média mundial, superando Paraguai (7,6%), Chile (6,5%) e Uruguai (6,4%).

"A depressão é uma forma de ansiedade depressiva, andam lado a lado. Existe um grande vazio nas pessoas, uma falta que nunca será preenchida fora", afirmou Celia.

EFE   
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