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Geddel é preso em Salvador, juiz vê atuação "sorrateira" de ex-ministro

8 set 2017 - 14h09
(atualizado às 15h14)
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O ex-ministro Geddel Vieira Lima, preso pela Polícia Federal nesta sexta-feira, continuou a praticar crimes e agiu de forma "sorrateira" ao esconder mais de 51 milhões de reais em espécie --apreendidos pela PF-- em um apartamento de um conhecido em Salvador, disse o juiz federal Vallisney de Souza Oliveira no despacho que determinou a prisão preventiva de Geddel.

Ex-ministro Geddel Vieira Lima
17/05/2016
REUTERS/Ueslei Marcelino
Ex-ministro Geddel Vieira Lima 17/05/2016 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

Ao classificar o fato como "gravíssimo", o juiz da 10ª Vara Federal de Brasília disse que o regime de prisão domiciliar de Geddel não garante que ele não volte a praticar delitos. Para o magistrado, isso nota-se pela "dinheirama" encontrada, sem documentação e sem comprovação de origem, perto da residência em que se encontrava desde julho.

"A decretação da prisão preventiva de Geddel Quadros Vieira Lima se impõe dentro desse novo contexto de reiteração delitiva ao ser localizado, no apartamento objeto de busca e apreensão em Salvador/BA, mais de cinquenta milhões de reais, mesmo estando o investigado em cumprimento de prisão domiciliar, medida esta que se torna agora ineficaz para garantia da ordem pública, aplicação da lei penal e conveniência da instrução criminal", disse Vallisney, em sua decisão.

Para o magistrado, não há, diante das novas circunstâncias, nenhuma possibilidade de assegurar que Geddel esteja cumprindo e possa cumprir "rigorosamente todos os requisitos da cautela".

"Aliás, como se pode ver, tudo evidencia que não está executando fielmente a medida alternativa à prisão, pois foram encontradas fragmentos de impressões digitais no material apreendido, e tanto de Geddel quanto de Gustavo Pedreira", disse o magistrado, também se referindo a um aliado do ex-ministro preso nesta sexta.

O juiz afirmou que, quando Geddel foi ouvido pela Polícia Federal e por ele mesmo anteriormente, ele não revelou que era dono do dinheiro apreendido nem deu sequer indicação nesse sentido.

"De modo que reitera na atividade delituosa de lavagem de capitais e outros delitos de forma sorrateira, em estado de permanência, pois os valores estavam ocultos em um apartamento cuja finalidade era exclusivamente para guardá-los", disse o juiz.

Para Vallisney, que já havia decretado no início de julho prisão preventiva de Geddel, convertida depois em domiciliar, são "fortes" os indícios da prática do crime de lavagem de dinheiro pelo ex-ministro. Há também, acrescentou o juiz, indícios do cometimento de outros crimes sob investigação, como organização criminosa e corrupção, por Geddel e por seu aliado preso.

O juiz determinou também a realização de busca e apreensão no apartamento da mãe do ex-ministro por considerar que há "grande probabilidade" de que possa existir alguma prova documental relacionada à apreensão dos 51 milhões de reais.

Ele destacou que a Polícia Federal alertara para o fato de que Geddel e ela residiam no mesmo prédio, o que pode facilitar que se esconda elementos de prova para as apurações.

Aliado histórico do presidente Michel Temer e bastante próximo do presidente, Geddel foi preso em 3 de julho, acusado de tentar pressionar o doleiro Lúcio Funaro para evitar que ele fizesse uma delação premiada. O ex-ministro foi solto 10 dias depois para cumprir prisão domiciliar.

Preso nesta sexta como parte de uma nova fase da operação Cui Buono, Geddel é acusado de intermediar a facilitação de crédito para empresas na Caixa quando era diretor de Pessoa Jurídica do banco, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff.

Geddel, que é ex-deputado federal, também foi ministro da Integração Nacional na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A apreensão dos 51 milhões de reais em espécie no apartamento que seria usado por Geddel foi a maior do tipo já realizado pela PF. O ex-ministro já decolou em avião da polícia de Salvador (BA) com destino à capital do país.

Em nota, a defesa de Geddel informou que somente se manifestará quando tiver acesso aos autos da investigação, especialmente os documentos mencionados no decreto de prisão.

"Pesa dizer que o direito de defesa e, especialmente, as prerrogativas da advocacia, conferidas por lei, sejam tão reiteradamente desrespeitadas, impedindo-se o acesso a elementos de prova, já documentados nos autos", afirmou o advogado Gamil Föppel.

CRIMINOSO EM SÉRIE

No parecer favorável à prisão do ex-ministro, o Ministério Público Federal destacou que Geddel tem aparecido como investigado em diversos esquemas criminosos, como as operações Lava Jato, Sépsis, Cui Bono e Greenfield.

"Noutras palavras, Geddel Viera Lima adequar-se-ia à figura do 'serial criminal', ou criminoso em série, ou seja, criminoso habitual que faz de uma dada espécie de crime (neste caso, crimes financeiros e contra a Administração Púbica) sua própria carreira profissional", disse o MPF.

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