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Em reação anti-Cunha, Câmara elege Rodrigo Maia presidente

14 jul 2016 - 01h23
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Maia foi apoiado por partidos que queriam fugir de candidato mais próximo a Eduardo Cunha
Maia foi apoiado por partidos que queriam fugir de candidato mais próximo a Eduardo Cunha
Foto: Agência Brasil / BBC News Brasil

O deputado Rodrigo Maia, do DEM do Rio de Janeiro, foi eleito na madrugada desta quarta-feira presidente da Câmara. Ele comandará a casa até janeiro de 2017, quando terminaria o mandato de Eduardo Cunha, que renunciou na semana passada ao cargo.

O democrata conseguiu unir os votos da antiga e nova oposição em torno de um objetivo comum - derrotar Rogério Rosso, candidato apoiado pelo ex-presidente da Casa Eduardo Cunha. Ambos os nomes são da base do governo Temer e agradavam o Planalto.

Maia acabou ganhando de lavada, com 285 votos, contra 170 de Rosso. No total, a casa tem 513 deputados, mas Cunha, afastado do mandato, não votou.

Maia já abriu vantagem no primeiro turno, quando teve 120 votos, contra 106 de Rosso
Maia já abriu vantagem no primeiro turno, quando teve 120 votos, contra 106 de Rosso
Foto: Gustavo Lima / Câmara dos Deputados / BBC News Brasil

Dessa forma, o democrata contou com o apoio formal de seus tradicionais aliados (PSDB, PPS e DEM) e de partidos que eram da base de Dilma Rousseff, como PDT e PCdoB. O voto é fechado, mas certamente Maia também recebeu votos do PT, partido ao qual sempre fez oposição. Oficialmente, a legenda da presidente afastada orientou a bancada a se abster.

"Ambos são ruins, mas um, além de ruim, tem o carimbo de Eduardo Cunha", disse Silvio Costa (PTdoB-PE), fiel escudeiro de Dilma, ao defender voto em Maia.

Após a vitória, Maia chorou e disse que comandará a Casa com "simplicidade".

Ele venceu com um discurso de volta à política tradicional, com respeito entre governo e oposição, em claro contraponto ao estilo incendiário de Cunha. Ao discursar no plenário pedindo votos, defendeu a importância da Câmara para resolver a crise do país.

"Ali (na cadeira de presidente), serei um de 513. Nós vamos devolver ao plenário a sua soberania. (...) É melhor votar com clama, mas votar matérias que são corretas. É isso que cada um quer", disse, indicando que não seguirá o modelo de Cunha de pautar temas polêmicos em votações aceleradas.

Candidato que ficou com imagem ligada a Cunha, Rosso comemorou passagem para o segundo turno
Candidato que ficou com imagem ligada a Cunha, Rosso comemorou passagem para o segundo turno
Foto: Luis Macedo / Câmara dos Deputados / BBC News Brasil

Quando o resultado foi proclamando, os deputados gritaram em coro "Fora, Cunha! Fora, Cunha".

"Infelizmente tentaram colar essa imagem, e não era", disse Rosso, sobre ter sido tachado de candidato do peemedebista.

Questionado pela BBC Brasil se o resultado indicava que a Casa está cansada do estilo incendiário do ex-presidente, o candidato derrotado disse esperar que Maia atue com transparência.

"É, eu acha que tem que ser sensato agora, compartilhar com a Casa as decisões, ter transparência, ter participação do parlamentar, que fica muito angustiado quando já recebe pautas prontas, quando não sabe exatamente o que vai acontecer. Então, que o Rodrigo possa ter essa transparência".

Rosso vinha sendo apontado como favorito devido ao apoio do "centrão". De estilo simpático, o deputado tem bom trânsito com a maioria dos partidos.

Já Maia tem personalidade oposta, é conhecido por sua antipatia, mas tem fama de respeitar acordos.

"O Rodrigo não sorri. Mas o Rodrigo cumpre palavra. O Rodrigo é leal", ele mesmo disse, também ao discursar.

Ressurgimento

A vitória de Maia representa um ressurgimento do DEM, partido de direita liberal que havia encolhido bastante durante os governos petistas.

Também é a volta de sua família ao centro da política nacional - o novo presidente da Câmara é filho de César Maia, político que foi prefeito do Rio por três mandatos. Depois de deixar o comando da capital fluminense com baixa popularidade, não conseguiu se eleger em duas tentativas para o Senado e acabou virando vereador.

Em discurso na tribuna para pedir votos, Maia lembrou de quando esteve pela primeira vez na Casa, ainda adolescente, acompanhando o pai, que foi deputado da Assembléia que redigiu a Constituição de 1988.

Em discurso na tribuna, Maia lembrou de quando acompanhava o pai na Casa
Em discurso na tribuna, Maia lembrou de quando acompanhava o pai na Casa
Foto: Gustavo Lima / Câmara dos Deputados / BBC News Brasil

"Cheguei com 15, 16 anos quando meu pai era constituinte. Ficava ali ouvindo os discursos de Francisco Dornelles, César Maia, José Serra, José Genoino. Meu pai dizia: senta lá atrás e fica só aprendendo", contou.

No quinto mandato como deputado, e com 46 anos, Maia começou cedo sua vida política. Nasceu no exílio, no Chile, e acompanhou ainda menino a carreira do pai.

Aos 26 anos, foi nomeado secretário de governo da gestão Luiz Paulo Conde (1997-2000) na Prefeitura do Rio. Dois anos depois, em 1998, elegeu-se deputado federal com quase 100 mil votos. Depois, foi reeleito sucessivamente para o cargo. Também foi vice-líder (2003-2005), líder (2005-2007) e presidente do então PFL que, em 2007, virou DEM.

É casado com Patrícia Vasconcellos, enteada do ministro (Secretaria de Assuntos Estratégicos) e ex-governador do Rio Moreira Franco. Tem quatro filhos. Ressurgimento

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