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Doria: Bolsonaro é o maior desastre em política ambiental

Governador está com viagem marcada para a COP26, em Glasgow

16 set 2021 - 16h56
(atualizado às 17h20)
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O governador de São Paulo, João Doria, participará da próxima cúpula climática da ONU, a COP26, para apresentar o projeto de despoluição do Rio Pinheiros, uma antiga promessa do PSDB que ele promete entregar até o fim de 2022.

Embora garanta que sua ida a Glasgow não é motivada pelo desejo de se contrapor ao governo federal, que é criticado internacionalmente por causa da devastação da Amazônia, o pré-candidato tucano a presidente também não vê problemas em antagonizar com Bolsonaro na questão ambiental.

"Se alguns interpretarem como um antagonismo ao Bolsonaro, podem fazê-lo, porque Bolsonaro foi o maior desastre na política ambiental que o Brasil já teve nos últimos 50 anos", diz Doria em entrevista à ANSA no Palácio dos Bandeirantes.

Adepto do "Bolsodoria" em 2018, o tucano afirma que "nem na ditadura militar" o governo federal "produziu tantos atentados ao meio ambiente" como agora. Confira abaixo a entrevista:

Bolsonaro é maior desastre em política ambiental em 50 anos, diz Doria
20/4/ 2021 REUTERS/Amanda Perobelli
Bolsonaro é maior desastre em política ambiental em 50 anos, diz Doria 20/4/ 2021 REUTERS/Amanda Perobelli
Foto: Reuters

A ida do senhor à COP26 é uma forma de se contrapor ao presidente Bolsonaro, que é questionado no exterior por causa de suas políticas contra o meio ambiente?

Não é a razão que me motiva. Eu fui convidado para ir à COP, portanto não foi uma decisão minha, foi uma decisão da cúpula de convidar o governador de São Paulo para fazer uma palestra sobre políticas públicas na área ambiental. São Paulo respeita o meio ambiente, assinou o acordo Race to Zero [Corrida para o Zero], assinou também o acordo Race to Resilience [Corrida para a Resiliência] com a ONU para que em 2050 não tenhamos mais emissão de gases de carbono aqui no estado. E o maior investimento ambiental do país está sendo feito aqui, com a despoluição do Rio Pinheiros, são R$ 4 bilhões em investimentos. Se alguns interpretarem como um antagonismo ao Bolsonaro, podem fazê-lo, porque Bolsonaro foi o maior desastre na política ambiental que o Brasil já teve nos últimos 50 anos.    

O senhor acreditou em 2018 que Bolsonaro pudesse criar algo semelhante a uma política ambiental? Caso sim, o que levou o senhor a acreditar nisso?

Ele mentiu, e não só para mim, mas para milhões de eleitores que foram enganados. Ele falava em política ambiental na campanha, em política liberal, em desestatização, Lava Jato, ética, em respeitar o contraditório. E logo no início do governo, não foi nem depois da pandemia, ele simplesmente jogou no lixo todos esses compromissos. Um desastre absoluto, o Brasil tem o pior presidente da República de toda a sua história. Nunca houve um presidente tão ruim, tão nocivo, nem no período da ditadura militar se produziu tantos atentados ao meio ambiente, à educação, à saúde, à economia, aos princípios democráticos. Ele conseguiu performar mediocremente em tudo.    

O senhor e outros governadores se reuniram recentemente com o enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry. A desconfiança internacional quanto às políticas ambientais do Brasil atrapalha a busca dos estados por apoio no exterior?

Isso já acontece a nível do Brasil. Houve um afastamento de investidores internacionais por conta da falta de políticas ambientais. Já aconteceram perdas porque há investidores que não querem investir em um país que não respeita programas ambientais, que não tem políticas ambientais claras, que promoveu a devastação de parte da região amazônica. São Paulo tem uma história de estabilidade política, estabilidade jurídica, aqui sempre tivemos muito respeito pela questão ambiental, e também pelo fato de termos, em dois anos, aumentado a cobertura vegetal em 3%. Aqui não sofremos interrupção de internação de capital, principalmente europeu. Mantivemos esses investidores, e o diálogo com a comunidade internacional segue sendo bastante respeitoso com São Paulo.    

São Paulo se comprometeu a zerar emissões líquidas de carbono até 2050, mas muitos ambientalistas apontam que esse termo, "emissões líquidas", é na verdade uma pegadinha porque não significa necessariamente a redução da poluição, mas sim o aumento das ações de mitigação. O senhor acredita que essas medidas mencionadas anteriormente são suficientes para dizer que São Paulo está fazendo sua parte na luta contra a crise climática?

Estamos fazendo nossa parte, e com seriedade. Temos muito ainda para fazer, temos um longo caminho pela frente, mas estamos na direção certa. Quem diz e atesta isso são organizações não governamentais que atuam na área ambiental: WWF, Greenpeace, SOS Mata Atlântica. Temos ainda tarefas a ser cumpridas, mas é por isso que é "race", porque é uma corrida, uma trajetória, não é ligar a chave e desligar a chave. Isso exige planejamento, comprometimento e atitude.    

Em debate recente no Senado Federal, a ativista sueca Greta Thunberg disse que os líderes brasileiros estão fazendo um papel "vergonhoso" em relação à natureza e aos povos indígenas. O senhor concorda?

Eu lamento dizer que ela tem razão. As autoridades federais, hoje, são motivo não só de preocupação mundial na área ambiental, mas também de piada.    

O senhor vai apresentar na COP26 o projeto de despoluição do Rio Pinheiros, mas quando ele finalmente voltará a fazer parte da vida dos paulistanos e dos paulistas?

Até dezembro de 2022, nós vamos entregar o Rio Pinheiros limpo e despoluído. A cidade terá um rio inodoro, com vida. Será um rio tão limpo quanto o Tâmisa [em Londres] ou o Sena [em Paris]. Você não pode nadar no Tâmisa ou no Sena nem pode beber água desses rios, mas eles são limpos.    

O PSDB governa São Paulo desde 1995 e sempre prometeu a despoluição do Rio Pinheiros. O que garante que dessa vez será diferente?

Eu não respondo pelo passado, eu respondo pelo presente, e fui eleito para resolver os problemas do passado, mas no presente. Eu não posso voltar no tempo para fazer juízos sobre quem passou ou por que deixou de fazer. Eu prefiro investir meu tempo para fazer, e é o que estamos realizando.    

Como pré-candidato a presidente da República, o senhor acredita que ainda há espaço para romper a polarização Lula-Bolsonaro em 2022?

Essa polarização já está rompida, falta o candidato, mas ainda temos 13 meses até as eleições. 13 meses na política é uma eternidade. Quando eu fui candidato a prefeito, oito meses antes eu tinha 1% de intenções de voto. Eu venci as eleições com 53% dos votos no primeiro turno. Então aprendi que na política você precisa ter resiliência, planejamento, paciência e, obviamente, trabalhar muito, ir ao encontro dos eleitores.

Mas em 2016 o senhor era um novato na política. Agora o senhor já se indispôs com o eleitorado petista por causa de suas críticas a Lula e às gestões do PT, e também com o eleitorado bolsonarista por causa das críticas ao presidente. Como conversar com esses dois grupos que hoje polarizam a disputa?

Eu não sou populista, sou um gestor, um administrador público, não faço populismo e não faço concessões para o projeto pessoal. Cada eleitor tem de ter a capacidade de discernir e fazer sua própria escolha. Eu não vou mentir para o eleitor dizendo que sou uma coisa, mas sendo outra. Eu não sou Lula nem Bolsonaro. Não votarei em Lula nem em Bolsonaro, e se eu vencer as prévias do PSDB, disputarei com Lula ou Bolsonaro, e tudo farei para vencer democraticamente.    

O senhor já declarou apoio ao impeachment de Bolsonaro, mas por que seu partido ainda não se decidiu?

Essa pergunta você tem de formular para o presidente do meu partido, o Bruno Araújo. Ele já deu um passo importante, que foi colocar o PSDB como partido de oposição ao governo, coisa que não era. O PSDB usava essa bonita palavra, "independente". Um partido que não se posiciona contra um facínora e um negacionista não faz jus à sua história e tradição de 33 anos. Mas eu lembro que nós temos uma CPI, cujo relatório estará pronto nas próximas semanas, e a meu ver, será um relatório arrasador em relação a Bolsonaro em todos os aspectos: humanitário, de saúde, corrupção, tráfico de influência, incapacidade, inoperância, vai ser realmente vergonhoso para o presidente.

Como o senhor avalia a intervenção de Michel Temer para socorrer Bolsonaro após as manifestações antidemocráticas de 7 de setembro?

Eu não quero avaliar por que o presidente Temer fez isso, eu gosto do presidente Temer. Pessoalmente, eu não teria feito, mas eu não conheço os detalhes daquilo que o motivou a fazê-lo. Mas é vergonhoso para um presidente da República ter de recorrer a um ex-presidente para redigir uma carta que ele possa assinar.

Essa é a maior prova de incompetência, incapacidade e inutilidade de um presidente da República, ter de pedir apoio a um ex-presidente para redigir uma carta com pedido de desculpas pelas ameaças que fez à democracia, à Constituição, à Suprema Corte e ao Estado de Direito. .

Ansa - Brasil   
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