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Política

Do Val afirma ter participado com Bolsonaro de reunião que discutiu plano para anular eleição

A fala de Do Val vem depois de a revista Veja publicar nesta quinta que o senador recebeu a proposta para gravar Moraes em uma reunião

2 fev 2023 - 13h43
(atualizado às 17h06)
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Foto: Tom Molina / Reuters

O senador Marcos do Val (Podemos-ES) afirmou nesta quinta-feira, 2, que participou em dezembro de uma reunião com o então presidente Jair Bolsonaro na qual Daniel Silveira, deputado federal à época, lhe propôs gravar uma conversa com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sem o conhecimento do magistrado.

A ideia discutida no encontro, segundo o senador, era tentar que Moraes falasse algo comprometedor, o que geraria uma tentativa de anular a eleição presidencial do ano passado e manter Bolsonaro no poder.

Entenda o suposto plano golpista de Jair Bolsonaro revelado por senador:

A fala de Do Val vem depois de a revista Veja publicar nesta quinta que o senador recebeu a proposta para gravar Moraes em uma reunião com Silveira e Bolsonaro.

"O presidente estava escutando comigo enquanto o Daniel falava", relatou Do Val em entrevista coletiva em seu gabinete no Senado. "Durante todo esse processo, o presidente estava em silêncio, quem falava era o Daniel", insistiu o senador.

Ao contrário do que relata Do Val, a reportagem da Veja --que afirma ter tido acesso a mensagens que comprovariam o encontro-- diz que foi Bolsonaro quem relatou os detalhes da operação para gravar Moraes.

Senador Marcos Do Val diz ter sofrido coação de Jair Bolsonaro para golpe de Estado:

A revista diz ainda que Bolsonaro afirmou que havia acertado com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e com a Agência Brasileira Inteligência (Abin) o fornecimento de suporte técnico e equipamentos de espionagem para gravar Moraes.

A Veja afirma que o encontro ocorreu no Palácio da Alvorada, mas na coletiva Do Val disse não se recordar ao certo, mas acreditar que a reunião ocorreu na Granja Torto, outra residência oficial em Brasília. Tanto a revista quanto o senador disseram que Silveira orientou Do Val a não ir à reunião em seu carro oficial, e que ele foi ao encontro em um veículo providenciado por Silveira.

Na coletiva, Do Val afirmou que não foi citado o GSI nem por Silveira nem por Bolsonaro, mas disse que o então deputado federal lhe disse que, caso aceitasse gravar Moraes, haveria um veículo estacionado nos arredores do Supremo para captar a conversa.

O senador negou que Bolsonaro o tenha coagido a gravar Moraes, mas que Silveira insistiu para que ele aceitasse a proposta por receio de ser novamente preso.

Nesta quinta, Moraes determinou a prisão de Silveira pelo descumprimento de medidas cautelares determinadas pelo STF e a Polícia Federal prendeu o ex-deputado nesta manhã em Petrópolis (RJ) --em ordem sem relação com a reunião relatada pelo senador.

Do Val disse que relatou tanto o encontro com Bolsonaro quanto a proposta para gravar Moraes ao ministro do Supremo, alegando que tomou essa decisão para não prevaricar.

O senador disse estar sendo alvo de ameaças pelo que chamou de investigação que está fazendo para apontar quem permitiu que ocorressem os ataques às sedes dos Três Poderes por vândalos bolsonaristas radicais em 8 de janeiro.

Ele também disse ter recebido informações de que tentativas seriam feitas para descredibilizá-lo por conta dessas investigações. O senador disse ainda ter informações que apontariam para os responsáveis.

Na madrugada desta quinta, Do Val chegou a publicar em sua conta no Instagram que renunciaria ao mandato e abandonaria a política.

Já na coletiva que deu em seu gabinete, o senador disse ter reconsiderado a ideia, afirmando que fez um desabafo diante de críticas que avaliou como injusta por ter cumprimentado o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), reeleito para o cargo na véspera, depois de ter defendido a candidatura de Rogério Marinho (PL-RN).

Ele acrescentou que mudou de ideia pois foi sensibilizado por um telefonema de sua filha e por ligações de outros senadores pedindo que ele mantenha o mandato.

Depoimentos à PF

Após a reportagem da Veja e da coletiva de Do Val, a Polícia Federal pediu a Moraes que autorize a corporação a ouvir o senador no âmbito do inquérito sobre os ataques aos Três Poderes em 8 de janeiro.

Em uma decisão separada, Moraes deu prazo de cinco dias para que a PF tome depoimento de Do Val em inquérito que investiga o Bolsonaro sobre atos que envolvem a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, por causa do relato de que recebeu proposta para participar de um plano cujo objetivo seria anular a eleição.

Não foi possível contactar de imediato um representante de Bolsonaro, que está nos Estados Unidos, para comentar a reportagem da Veja, e o PL, seu partido, disse que não tinham comentários a fazer por ora.

No plenário do Senado, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente, disse que o fato é que seu pai deixou a Presidência em 31 de dezembro.

"Essa reunião, que aconteceu, seria uma tentativa de um parlamentar de demover as pessoas que estavam nessa reunião e fazer algo absolutamente inaceitável, absurdo e ilegal. O que eu peço aqui é que obviamente todos os esclarecimentos sejam feitos. E eu nem digo abertura de inquérito, porque a situação que foi narrada não configura nenhuma espécie de crime", disse Flávio.

"Mas que todos os esclarecimentos sejam feitos para que não fiquem narrativas em cima de narrativas no intuito de superar os fatos. Fato é que dia 31 de dezembro o presidente Bolsonaro deixou a Presidência."

Procurada pela Reuters, a assessoria do ministro Alexandre de Moraes informou que ele não comentará a reportagem da Veja.

O advogado André Rios, que representa Silveira, disse que ainda está se inteirando dos fatos, mas classificou a prisão do ex-parlamentar de "aberração jurídica" devido ao perdão presidencial dado a Silveira por Bolsonaro.

"Ainda estou me inteirando dos fatos que soube há pouco pela imprensa. Cabe salientar que o Daniel Silveira obteve a graça constitucional, o que torna qualquer medida dessa natureza mais um triste capítulo no Estado democrático de Direito, entrando para o rol das arbitrariedades cometidas", afirmou.

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