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Corpo de canoísta britânica foi jogado no rio Solimões após roubo de celular e câmera, diz delegado

Segundo Frederico Mendes, delegado-geral da Polícia Civil no Amazonas, sete pessoas foram identificadas sob a suspeita de terem participado do crime.

19 set 2017 - 18h13
(atualizado às 18h43)
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Bote usado por Emma Kelty
Bote usado por Emma Kelty
Foto: BBC News Brasil

A preocupação em encobertar o roubo de dois celulares e uma câmera GoPro teria feito com que um grupo de assaltantes matassem a canoísta britânica Emma Kelty, de 43 anos, que desapareceu às margens do Rio Solimões no último dia 13.

Essa é a conclusão preliminar do delegado-geral da Polícia Civil no Amazonas Frederico Mendes, responsável pela investigação do caso. De acordo com eles, que falou à BBC Brasil com exclusividade, um adolescente de 17 anos foi apreendido após confessar a participação no crime.

Foi o jovem quem relatou os detalhes da ação. De acordo com a confissão do menor, ele agiu com a ajuda de outros seis comparsas - já identificados pela Polícia Civil. No fim da tarde desta terça, a polícia apreendeu mais um menor e prendeu um homem, todos suspeitos de participar do crime. Outras quatro pessoas tiveram a prisão preventiva decretada.

Com base no depoimento do adolescente, o delegado-geral disse que Kelty estava acampada na ilha do Bueiro, próximo à comunidade de Lauro Sodré, em Coari (AM), quando foi abordada por "barrigas d'água" ou "ratos d'água" - como são conhecidos ladrões de objetos de pequeno valor na região.

Dois homens teriam feito a primeira abordagem à canoísta e, em seguida, outros cinco criminosos - entre eles, o adolescente - reforçado a ação. O grupo teria roubado os objetos pessoais da mulher, como dois celulares, uma câmera GoPro, um tablet e dinheiro em espécie.

"Como sabiam que a turista já teria visitado e conhecia a comunidade, os marginais quiseram encobrir a autoria do crime por medo de serem descobertos. Por isso, resolveram executá-la", conta o delegado-geral.

A execução teria sido feita com dois tiros de uma espingarda calibre 20 e o corpo, jogado no rio em seguida. Mergulhadores do Corpo de Bombeiros, com a ajuda da Marinha e Polícia Civil, fazem buscas na região em busca da canoísta. O caiaque e o colete salva-vidas da britânica foram encontrados e apreendidos para perícia.

O delegado-geral objetos pessoais de Kelty também foram localizados. Os assaltantes tentaram negociar parte desses objetos com moradores de comunidades na região.

O adolescente envolvido no crime afirmou à polícia que a britânica não sofreu abuso sexual. O delegado-geral, porém, disse que nenhuma hipótese está descartada e que o corpo passará por exames assim que for encontrado para saber se há sinais de resistência da vítima, como unhas quebradas, ou outros indícios de abuso.

A polícia não vai divulgar a identidade dos suspeitos antes de apurar a participação de cada um deles no crime.

Piratas e o narcotráfico

O rio Solimões (chamado de Amazonas em alguns trechos) é tido como uma das principais rotas de entrada de cocaína do Brasil. O delegado-geral Frederico Mendes diz, no entanto, que os assaltantes não têm ligação com o narcotráfico e cometeram o crime pela oportunidade.

"O narcotraficante não vai abordar uma turista para tomar um celular. Esse crime foi cometido por pequenos criminosos que perceberam uma oportunidade ao ver uma mulher sozinha, viajando num caiaque e parada numa ilha deserta. Os piratas atuam para tomar toneladas de drogas, como cocaína e skunk (maconha de alta qualidade), que passam pela região", afirmou.

Ele contou à BBC Brasil que há um histórico de casos em que piratas ligados a narcotraficantes mataram tripulações inteiras em barcos carregados de drogas que passavam pelo rio. Por outro lado, não considera a região entre os municípios de Codajás e Coari, a cerca de 400 quilômetros antes de Manaus, onde a turista foi morta, como o ponto mais perigoso do rio.

Encontro do rio Negro com o Solimões
Encontro do rio Negro com o Solimões
Foto: BBC News Brasil

"Não se trata de dizer: 'ali é o perigo'. Toda a margem do rio, de Tabatinga (na tríplice fronteira com Peru e Colômbia) até Manaus é cheia de piratas. Eles não abordam os outros para tomar drogas num único lugar. É flexível. Já fizemos prisões de piratas envolvidos com narcotraficantes em diversos trechos diferentes (do rio)", disse.

Frederico Mendes explicou ainda que, ao contrário dos criminosos que atacaram a canoísta, os piratas usam armas de grande porte, como fuzis 762 e metralhadoras de uso restrito das forças armadas. Um dia antes de desaparecer, Kelty chegou a postar em sua conta no Twitter mensagens em que descrevia ter visto entre 30 e 50 homens armados "com rifle e arco e flecha" circulando em barcos na área.

Corpo

Questionado sobre a possibilidade de encontrar o corpo da canoísta britânica, o delegado-geral reconheceu a dificuldade de trabalho nas águas barrentas do rio Solimões.

Como exemplo de fracasso nesse tipo de busca, ele citou o caso do delegado Thiago Garcez, que teria sido assassinado em um conflito com traficantes de drogas que atuam no mesmo local onde Kelty foi morta. O corpo dele nunca foi localizado, possivelmente porque foi lançado ao rio.

"Isso ocorre porque o rio tem uma correnteza muito forte e o corpo se desloca em alta velocidade. Há jacarés e algumas espécies de peixes, como piraíba, pirarara e candiru, que vivem nesse rio e comem carne humana. Fizemos uma simulação com um objeto semelhante a um corpo para saber onde ele poderia estar e percebemos que ele pode se deslocar de forma muito veloz", afirmou.

O delegado-geral disse que policiais fizeram diversas operações recentemente na área onde Kelty desapareceu. Em uma delas, houve um tiroteio que terminou com dois suspeitos mortos.

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