SP: zona sul tem bairros onde mais e menos se matam jovens
Em Marsilac, taxa de assassinatos de jovens é 44 vezes superior à da Vila Mariana; dados estão no Mapa da Desigualdade, divulgado hoje
Ambos estão presentes na zona sul de São Paulo, mas têm entre si bem mais que os 40 km de distância que os distanciam. Os distritos de Engenheiro Marsilac e Vila Mariana, respectivamente no extremo e na porção mais oeste do sul paulistano, se separam também pela diferença na quantidade de jovens de 15 a 29 anos mortos em decorrência de assassinatos a cada grupo de 100 mil habitantes: são 28,60 assassinados nesse intervalo em Marsilac, contra 0,643 na vila – ou seja, 44,45 vezes menos. Ambas as regiões representam, respectivamente, onde mais e menos se matam jovens nessa faixa etária entre todos os 96 distritos da capital.
Os números foram apresentados nesta terça-feira no Mapa da Desigualdade de São Paulo, estudo comandado pela ONG Rede Nossa São Paulo com dados de 2013 e 2014. O levantamento considera dados fornecidos pelas secretarias estaduais e municipais, além de órgãos do governo federal. No caso dos dados relativos à segurança pública, os pesquisadores também cruzam dados do setor com os da saúde.
À parte a Vila Mariana, outros 16 distritos paulistanos não tiveram um único registro de assassinatos juvenis no período – entre os quais, o de Perdizes, na zona oeste, onde também é mais baixa, entre os 96, a quantidade total de assassinatos por grupo de 10 mil habitantes: 0,178. O distrito de Marsilac, por sua vez, lidera também nesse ranking, com 6,16 homicídios. É como se, no bairro do extremo sul, morressem, ao todo, cerca de 35 vezes mais pessoas que na área nobre da porção oeste de São Paulo, onde distritos como o Alto de Pinheiros não registraram um único assassinato a cada 10 mil moradores.
Apesar dos números e das taxas de desigualdade entre os distritos, tanto o registro geral quanto o de pessoas de 15 a 29 anos vem caindo, em São Paulo, desde 2005. Naquele ano, 2.785 pessoas haviam sido mortas em uma população de 10.865.573 habitantes; em 2013, foram 1616 assassinados, em um total de 11.403.873 habitantes. Já a população masculina assassinada entre 2005 e 2013, na faixa dos 15 aos 29 anos, passou de 1.409 para 644.
O coordenador executivo da Rede Nossa São Paulo, Maurício Broinizi, avaliou que os indicadores relativos à segurança pública na capital “apontam muito mais para um viés repressivo que necessariamente preventivo” da violência.
“São orientações equivocadas de política pública. Temos experiências no Rio Grande do Sul, por exemplo, em que populações locais foram mobilizadas e empoderadas , o que ajudou a reduzir a ação do crime organizado. São Paulo não tem isso: tenta resolver na base da repressão, em vez de prevenir. É possível reverter esse quadro, mas é preciso eleger prioridades – a expansão de rede de CEUs (Centros Educacionais Unificados) na periferia é um caminho”, destacou o coordenador. “Precisamos fazer um exame de consciência sobre a forma como aplicamos os recursos públicos”, concluiu.