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Witzel elogia PM e defende disparar em suspeito com fuzil

Witzel quer aval do STF para abater quem estiver com armamento pesado; sequestro difere de ação em favela, diz socióloga

22 ago 2019 - 12h44
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RIO - O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), usou o desfecho do sequestro do ônibus na Ponte Rio-Niterói para voltar a defender o uso de atiradores de elite em operações policiais em comunidades. Witzel afirmou que pretende apelar ao Supremo Tribunal Federal ( STF) para que haja jurisprudência para matar qualquer pessoa que porte armamento pesado. Na avaliação de especialistas, as situações do sequestro e das operações em favelas não são comparáveis

"Venho defendendo que os que estão portando fuzis são uma ameaça em potencial", afirmou o governador, acrescentando que vai recorrer ao STF. Desde a campanha eleitoral, Witzel defende o uso de snipers para abater criminosos. Em entrevista ao Estado, chegou a dizer: "A polícia vai mirar na cabecinha e...fogo!".

"A sociedade hoje é vítima de vários criminosos que ostentam um armamento bélico porque existe um entendimento de que não podem ser abatidos. Se a PM tiver a autorização para fazer o trabalho, muitas vidas serão poupadas. Mas ainda há doutrinadores que entendem que o criminoso só pode ser abatido se estiver apontando ou atirando. O meu entendimento é diverso, acho que a injusta agressão ocorre quando está portando o fuzil, que é uma arma de guerra."

Comparação

"O episódio de hoje não pode servir para encobrir, para jogar uma cortina de fumaça, em algo muito mais sério que é uma política de segurança que elogia a morte e estimula os policiais a serem mais letais do que jamais foram", afirmou a socióloga Sílvia Ramos, do Observatório da Violência da Universidade Candido Mendes. "Não tem como comparar um sniper, numa posição planejada, com tudo controlado, com o trânsito parado, tudo isolado, com um atirador dentro de uma comunidade, com criança passando, gente saindo para trabalhar."

Para sociólogo Ignácio Cano, do núcleo de violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), ainda que a polícia tenha agido corretamente no episódio do sequestro, "isso não tem nada a ver com atirar de cima de um helicóptero em movimento". Segundo Cano, nessas circunstância, um tiro de precisão é muito difícil, "colocando populações inteiras em risco".

O diretor da Open Society Foundation na América Latina, Pedro Abromovay, acusou o governador de estar politizando a tragédia. "Não há nada a ser celebrado no que aconteceu hoje", disse. "E uma atuação eficiente não pode ser extrapolada para o problema real do cotidiano das pessoas."

'Comemorei a vida', diz Witzel

Logo que chegou à Ponte Rio-Niterói, após a morte do sequestrador, Witzel desceu do helicóptero pulando e comemorou, fazendo um gesto com os punhos cerrados. Mais tarde, em uma coletiva de imprensa, ele afirmou que não estava comemorando a morte do sequestrador, mas sim a preservação da vida dos 37 reféns.

"No momento em que desci do helicóptero, a população aplaudiu. Não a morte de um criminoso, mas por termos salvado vidas humanas, eu não pude me conter ao ver aquelas pessoas que iam voltar para casa", disse. "Algumas pessoas estão dizendo que eu comemorei a morte, mas não, eu comemorei a vida, estava feliz de ver a atuação eficiente da PM."

Letalidade policial

De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), de janeiro a junho deste ano, 881 pessoas foram mortas em operações policiais no Estado - um número considerado recorde. Na semana passada, seis jovens morreram baleados durante ações da Polícia Militar em comunidades. ONGs vêm denunciando diariamente o uso do "caveirão aéreo", helicópteros blindados da polícia sendo usados como plataforma de tiro.

Estadão
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