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Tragédia em Santa Maria

RS: sócio da Kiss pode aparecer nas audiências a qualquer momento

De acordo com os advogados de Mauro Hoffmann, réu tem acompanhado o andamento do processo criminal com atenção e está ansioso para falar

27 jul 2013 - 15h00
(atualizado às 15h48)
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Responsável pela defesa do sócio da Kiss, Mauro Hoffmann, Mario Cipriani afirmou que o empresário tem vontade de acompanhar pessoalmente as audiências
Responsável pela defesa do sócio da Kiss, Mauro Hoffmann, Mario Cipriani afirmou que o empresário tem vontade de acompanhar pessoalmente as audiências
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

Dos quatro réus do processo criminal da tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria, apenas os dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos, e o produtor de palco Luciano Bonilha Leão têm ido acompanhar as audiências. Os dois sócios da Kiss, Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, não compareceram. Mas o dia de pelo menos um deles aparecer está próximo. 

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“O Mauro tem muito vontade de acompanhar pessoalmente as audiências. Ele também tem uma angústia muito grande para poder falar. A gente desaconselhou para evitar qualquer represália, embora a gente não acredite que isso possa acontecer”, diz o advogado Bruno Seligman de Menezes, responsável pela defesa do sócio da Kiss ao lado de Mario Cipriani. Os dois têm mantido contato pessoalmente ou por telefone com Mauro, que, segundo eles, tem acompanhado as notícias na imprensa com atenção.

Encerrada a fase em que as vítimas listadas pelo Ministério Público (MP) foram ouvidas, a opinião dos defensores é que algumas convicções iniciais foram confirmadas. “Essa importante fase reafirma a nossa ideia inicial da não participação do Mauro na administração da casa e é uma demonstração que se tratou de um somatório de fatos imprudentes, negligentes, não só do Poder Público, mas também de pessoas que estavam gerenciando ou administrando a casa”, opina Cipriani.  

Na opinião dos defensores, o fato de a Kiss estar aguardando uma vistoria dos bombeiros, demonstra a boa fé dos donos da casa, que até tinham providenciado a recarga dos extintores. Além disso, eles defendem que, a partir do momento em que a prefeitura considerava que a boate estava com licenças e alvarás em dia, os proprietários poderiam acreditar que a situação da casa estava regular. “O normal é a aceitação de que os atos públicos estavam corretos, não o contrário”, argumenta Menezes. 

Juiz aguarda que defensores apresentem listas de vítimas 

O juiz Ulysses Fonseca Louzada, titular da 1ª Vara Criminal de Santa Maria, espera até segunda-feira pelas listas de vítimas que as defesas querem ouvir.  O advogado Jader Marques, que defende Elissandro Spohr, relacionou 48 pessoas, mas 23 não tinham endereço. O magistrado deu até prazo até segunda-feira para que o defensor apresente onde essas vítimas podem ser localizadas. O advogado Omar Obregon, que defende o vocalista da Gurizada Fandangueira, listou mais de 40 pessoas. 

Os outros defensores ainda não apresentaram suas listas, mas devem chamar menos pessoas. A expectativa é que cerca de 100 vítimas ainda sejam ouvidas em agosto e setembro. Depois, na ordem, serão ouvidas testemunhas de acusação, de defesa, peritos e réus. 

Desde a quinta-feira, o processo da Kiss está sob a análise do Ministério Público, que deve se manifestar sobre alguns pedidos feitos pelas defesas. O advogado Omar Obregon, por exemplo, fez um requerimento para que sejam ouvidos o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB), o deputado estadual Jorge Pozzobom (PSDB) e o promotor Ricardo Lozza. 

Incêndio na Boate Kiss
Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos
Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

Fonte: Especial para Terra
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