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Tragédia em Santa Maria

RS: poeira que sai da Kiss vai orientar ações de saúde

O Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) poderá fazer um protocolo de saúde voltado aos trabalhadores que tiveram contato com os materiais tóxicos

26 mar 2013 - 22h50
(atualizado às 22h59)
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<p>Servidores do Cerest retiraram da boate cerca de um quilo de poeira e fuligem</p>
Servidores do Cerest retiraram da boate cerca de um quilo de poeira e fuligem
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

Servidores do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) de Santa Maria retiraram da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), na tarde desta terça-feira, cerca de 1 quilo de poeira e fuligem. O material será analisado para que se descubra quais produtos tóxicos há nesses resíduos. O resultado vai orientar o acompanhamento e o tratamento de trabalhadores que estiveram na casa noturna durante e depois do incêndio e também vai direcionar o destino que será dado a esse material e a maneira como o local será limpo. 

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Sob o acompanhamento de policiais civis, o trabalho começou na manhã de terça, mas teve que seguir à tarde por causa da falta de iluminação. No final, foram recolhidos dois pequenos baldes com as amostras.

"Coletamos amostras da poeira para fazer uma análise de resíduos químicos, produtos tóxicos que podem existir nela. O plástico elimina vários resíduos químicos quando queima. Alguns são clorados, que a natureza não consegue degradar. Precisa ser analisado para ver o destino que vai se dar a esse material", explicou a médica Rosa Wolff, do Cerest.

O material recolhido ontem agora será processado e coado. Quando restar só a poeira, vai ser enviado para a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). O resultado deve sair em até 60 dias. Com os dados em mãos, o Cerest poderá fazer um protocolo de saúde voltado aos trabalhadores que tiveram contato com os materiais tóxicos.

Duas empresas que vendem bebidas também retiraram dezenas de garrafas ontem, principalmente de cerveja. Seguindo orientação da Vigilância Sanitária, os produtos serão descartados. Para comprovar que o material foi mesmo fora, as empresas deverão apresentar laudos.  

Servidores da Vigilância Sanitária também retiraram da cozinha da boate alimentos que estão impróprios para o consumo, como óleo de soja e ovos de codorna. 

Comandante dos bombeiros não aparece na Câmara de Vereadores

O comandante regional dos bombeiros de Santa Maria, Moisés da Silva Fuchs, não apareceu na Câmara de Vereadores na tarde desta terça-feira. Ele havia prometido na segunda-feira que iria usar a Tribuna Livre - concedido a entidades e instituições da cidade por até 15 minutos -, que ocorre antes da sessão plenária. Fuchs reservou o tempo, mas não compareceu à Câmara.

Familiares de vítimas e até um policial civil que trabalhou no inquérito que investigou a tragédia foram até o plenário da Câmara para ouvir o que Fuchs iria dizer sobre os apontamentos feitos na conclusão da investigação, onde o militar foi indicado com indícios de que tenha cometido homicídio culposo (sem intenção) e improbidade administrativa. Porém, depois que a sessão plenária começou, a maioria foi embora.

Por telefone, Fuchs disse que não foi à Câmara porque, nesta terça-feira, a Associação dos Oficiais da Brigada Militar (ASOFBM) daria uma posição a respeito das conclusões do inquérito em seu nome. Até quinta-feira, ele deve ser afastado.

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 241 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas. 

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A intenção é oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Fonte: Especial para Terra
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