Summit Mobilidade: Pequenas cidades, grandes projetos
No interior, municípios adotam tecnologia para avançar em mobilidade urbana
Identificados como bons laboratórios em mobilidade, pequenos e médios municípios brasileiros vêm apostando no uso de softwares livres para desenhar soluções ajustadas a seus caixas, com a urgência de economizar o tempo perdido no trânsito e melhorar a vida de motoristas e pedestres, de acordo com participantes do painel Mobilidade e Tecnologia, apresentado digitalmente no dia 21.
"O movimento de cidades inteligentes no Brasil está cada vez mais forte", disse a pesquisadora de cidades inteligentes Stella Hiroki. Segundo ela, são as pequenas e médias localidades que lideram em projetos inovadores. "No Brasil, é mais dinâmico usar essas cidades como plataforma, para conferir se funcionam, do que em grandes capitais", afirmou.
Em Joinville (SC), por exemplo, com 600 mil habitantes e 410 mil veículos, um projeto virou referência mundial em mobilidade. A Secretaria de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável (Sepud) utilizou dados do Waze For Cities para adotar melhorias e mudanças viárias, sem a necessidade de desenvolver um novo software ou gerir custos adicionais. "Criaram uma metodologia inovadora no mundo, com um processo de design thinking, e também conversando com a população, para assegurar que o projeto dessa cidade inteligente estava de acordo com a necessidade deles (dos habitantes)", acrescentou Hiroki.
Utilizando informações da plataforma, foi possível realizar simulações, e até mesmo criar digitalmente viadutos e outras intervenções viárias, para prever o impacto de eventuais soluções no trânsito e na mobilidade da população.
Em um caso, a conclusão foi de que uma simples rotatória e a eliminação de semáforos em algumas conversões conseguiria modificar a mobilidade. "A prefeitura devolveu 72 horas por ano aos moradores e cerca de R$ 7 milhões aos cofres públicos", afirmou Stella.
Para ela, Joinville mostrou que é possível buscar softwares livres para fazer simulações, extrair mapas, filtrar, fazer a gestão interna para diminuir a burocracia, sem prescindir da participação popular. "É olhar quais dados já são produzidos em nosso espaço urbano e que podem ser traduzidos em soluções para as nossas cidades", disse. Stella defendeu parcerias entre prefeituras, universidades e iniciativa privada para que outros lugares consigam replicar o modelo, seguindo as suas especificidades.
Olhar regional
Outro projeto - desenvolvido em oito cidades de pequeno porte no nordeste catarinense - também foi apresentado. Criado para auxiliar esse grupo de municípios no desenvolvimento dos planos de mobilidade simultaneamente, o PlanMob utilizou dados coletados na plataforma Google.
São cidades com perfis, vocações, usos e papéis diferentes dentro da própria região, o que influenciou na metodologia adotada. "O projeto ainda contemplou uma análise de expansão urbana das cidades, observando questões de sustentabilidade, territoriais, com a possibilidade de soluções conjuntas", comenta Renata Cavion, professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Ela afirmou que muitas prefeituras carecem de equipes, tecnologia e sofrem com a restrição orçamentária. "Mas as tecnologias vêm para auxiliar os pequenos municípios a acessarem dados que antes não eram possíveis." Se a oferta de dados pode ajudar municípios a estudar as melhores alternativas para dinamizar espaços públicos, a privacidade de informações dos cidadãos não pode ser negligenciada, alerta Stella. "Em Cingapura, que é uma cidade inteligente consolidada, o banco de dados é tão grande, que, se a população permitir, governo e empresas conseguem mapear o deslocamento e o perfil de produtos que mais compram para direcionar comportamentos. Há um debate ético muito forte sobre isso", afirmou.
O caminhar nas cidades, como a garantia ao acesso a direitos básicos como saúde e educação, também estimulou o Google a desenvolver uma solução pensada na experiência do pedestre, que será lançada no País. "Utiliza realidade aumentada para o usuário conseguir ver as faixas de pedestre no Google Maps e atravessar com mais segurança", diz Newton Neto, diretor de Parcerias do Google.
Segunde ele, a empresa busca melhorar a qualidade do mapa-base, para oferecer informações de alta qualidade no nível da calçada. "É preparar o futuro para quando carros autônomos puderem entrar em circulação, para que entendam e naveguem pela complexidade que é o nosso sistema de cidades."