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Summit Mobilidade: Para reduzir os trajetos, a carona é o plano diretor

Painel apresenta uma série de propostas, incluindo algumas que serão revisitadas na revisão da principal legislação urbanística de SP

28 mai 2021 - 15h05
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Melhorar a vida das pessoas nos grandes centros urbanos, rumo a metrópoles sustentáveis e funcionais, exige um plano que inclua diversidade de empregos, boas ofertas de serviços e habitação em todas as regiões da cidade. É o que defendem especialistas que participaram do painel Planejamento Urbano e Mobilidade, no Summit Mobilidade Urbana 2021.

A gerente de planejamento urbano da Ramboll Brasil, Alejandra Maria Devecchi, destacou o descompasso entre a alta concentração de empregos no centro expandido de São Paulo e a escassez de moradia na região como um entrave à mobilidade. Em sua tese de doutorado "Reformar não é construir/A reabilitação de edifícios verticais: novas formas de morar em São Paulo no século 21", ela apurou que o centro expandido da capital concentra 64% dos empregos, enquanto só 17% dos trabalhadores residem próximos a eles - são 5 milhões de empregos e 2 milhões de habitantes. "Isso faz com que as vagas sejam preenchidas pelo deslocamento da população. Temos essa necessidade de igualar o número de habitantes ao número de empregos. Com isso, a probabilidade de esse trajeto acontecer não motorizado, é enorme."

Uma solução apresentada por ela é a reconversão de imóveis subutilizados nos distritos da Sé e República, por exemplo. "Há um estoque construído na década de 1950, com um perfil de escritórios inadequados para a forma como a gente trabalha hoje: salas pequenas, um banheiro por andar. São espaços que ficam vazios, alguns transformados em galpões. Esses edifícios antigos poderiam ser reformados e virar moradia", afirma. Ao converter essa concentração de área, estimada em 6 mil metros quadrados, "seria possível chegar a 100 mil unidades, por meio de uma política habitacional".

Além disso, a arquiteta acrescenta a proposta do Arco Tietê - projeto urbanístico criado em 2016 e arquivado na gestão João Doria - como outra possibilidade de aproximar a população do centro e do trabalho e melhorar a mobilidade urbana. "Seriam cerca de 400 hectares a mais para a produção habitacional." No total, somando Arco Tietê, Sé e República, Alejandra avalia uma capacidade para atender de 4 milhões de pessoas.

Arco Tietê

A diretora de desenvolvimento da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento da Prefeitura de São Paulo (SPUrbanismo), Larissa Campagner, comentou que o Arco Tietê é um dos projetos que serão revisitados no Plano Diretor SP - que recebe inscrições da sociedade civil até segunda-feira -, assim como outras possibilidades no centro. "Estamos empenhados em desenhar um programa ligado ao retrofit, porque os imóveis no centro precisam de uma requalificação que vai além das reformas. Temos entraves legais, procedimentais, a questão da viabilidade econômica", disse.

Para ampliar a oferta de moradia em regiões de boa infraestrutura, com a qualificação das áreas em conjunto com as diretrizes urbanísticas, Larissa citou dois Projetos de Intervenção Urbana (PIU) adiantados na Câmara Municipal: os bairros do Tamanduateí e Vila Leopoldina.

Em outra direção, o diretor do Instituto de Urbanismo e Estudos para a Metrópole (Urbem), Gustavo Partezani Rodrigues, argumentou que o planejamento urbano deve se dirigir no caminho inverso também: do centro para a periferia. "A questão do emprego é central no problema da mobilidade e deve ser discutida como prioritária no aprimoramento do Plano Diretor SP, ou de outras cidades. Precisamos criar outros tipos de trabalho fora do centro, que não sejam só industriais. Não temos que pensar só em trazer pessoas da periferia para o centro, mas levar o centro para a periferia", afirmou.

Portanto, para o arquiteto, os desafios estão na oferta de condições e suporte de infraestrutura para que as pessoas se desloquem menos ou em menor tempo, com uma diversidade de empregos, lazer, universidades, escola técnicas, espaços culturais e esportivos nas bordas das cidades, enumera. "Com isso, seria possível reduzir as aglomerações no transporte público."

Estadão
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