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Cidades

Summit Mobilidade: garantir segurança e diminuir desigualdades são desafios na pandemia

Em evento promovido pelo Estadão, especialistas abordaram incentivo a diferentes modais e a discussões que englobem as periferias

12 ago 2020 - 13h50
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Os desafios para garantir o deslocamento de milhares de pessoas nas cidades diante da pandemia do novo coronavírus estão sendo debatidos nesta quarta-feira, 12, durante o Summit Mobilidade 2020, evento promovido pelo Estadão. Soluções encontradas para incentivar outros modais, como a bicicleta, de usar a tecnologia para garantir a segurança dos usuários do transporte público e dos aplicativos de transporte individual, e como reduzir as desigualdades socioespaciais foram temas discutidos nesta manhã.

Representando o prefeito Bruno Covas, a secretária Municipal de Mobilidade e Transportes Elisabete França diz que o novo cenário fez com a gestão municipal trabalhasse para permitir o deslocamento da população na capital e que mudasse algumas prioridades traçadas no início do ano, como reduzir os congestionamentos na cidade.

"Hoje, precisamos garantir o transporte público e incentivar os novos modais, como as bicicletas, e a segurança de todos. A Prefeitura vem com um conjunto de ações para diminuir as mortes no trânsito, está com um plano cicloviário em implantação e acabou de regulamentar o estatuto do pedestre, que era uma demanda da população. Também estamos com o plano emergencial de calçadas. Até o final do ano, queremos reformar 1,5 milhão de metros quadrados de calçadas."

Segundo Elisabete, a cidade registrou queda acentuada na utilização do transporte público. "A gente viu cair muito. Estamos com 45% de usuários. Eram 3 milhões e estamos com 1,5 milhão, 1,6 milhão. Temos 86% da frota circulando com incentivo das campanhas e protocolos, como uso de máscara e álcool em gel."

Alternativas para evitar aglomerações, os aplicativos de transporte individual foram impactados pela disseminação do vírus e buscam alternativas para readequar suas operações adotando medidas para proteger os profissionais e passageiros. Presidente da Didi Chuxing, Jean Liu relatou que o uso da tecnologia, aliada a taxas mais baixas e a adoção de medidas de segurança, como a instalação de divisórias entre o passageiro e o motorista, foram algumas das medidas para a retomada das atividades na China, onde os primeiros casos da doença foram registrados.

"Na China, a crise tem dois símbolos: o medo e a ousadia para resolver o assunto. Vamos estar na batalha e vencer. O transporte tem de ser mais seguro, por isso que a 99 introduziu taxas mais baixas e divisória entre passageiro e motorista para que haja mais segurança para ambos."

A empresa também fez viagens gratuitas e distribuição de máscaras para passageiros e motoristas. "Estamos usamos nossas bicicletas elétricas, podemos ajudar as pessoas com o delivery. Por meio da tecnologia, da inteligência artificial, vamos fazer com que todos, em todos os níveis de receita, tenham a mobilidade de forma correta."

Diretor-presidente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto destacou a importância de debater o tema durante a pandemia. "Se as reflexões e análises sobre mobilidade eram importantes antes de a pandemia eclodir, esses assuntos ganharam mais significado. Em todas as cidades do mundo, os cidadãos precisam ter acesso a formas de deslocamento seguras, sem aglomeração e com preço acessível. Uma mobilidade urbana eficaz pressupõe todos os tipos de soluções e não podemos nos esquecer dos pedestres, que precisam de calçadas seguras e iluminadas."

DESIGUALDADES

Nem todos puderam se manter em total isolamento durante a quarentena nem foram beneficiados pelo home office. Essa realidade foi mais visível nas periferias nas cidades e traz a preocupação de que a pandemia aumente as desigualdades.

Presidente do entidade Gestão Urbana de Empreendedorismo, Trabalho e Tecnologia Organizada (GUETTO), Vítor Del Rey diz que a discussão sobre mobilidade não pode pensar apenas nas regiões centrais das cidades, o que acaba aumentando a exclusão das regiões periféricas. "Precisamos pensar a mobilidade pró-pobre. A questão, geralmente, é focada em entregar o pobre para a pessoa de classe de média alta para deixar o café da manhã na hora certa, em como fazer a pessoa chegar do ponto A para o ponto B em 40 minutos e não em duas horas, mas não pensa no fim de semana, nas horas de lazer para essa população. É preciso pensar em moradias nos bairros, distribuição dos empregos mais perto das pessoas e que a mobilidade ativa pode servir para ativar a economia dos bairros."

Uma pesquisa feita entre usuários da 99 apontou que houve um aumento de 55% no uso do serviço nas zonas periféricas e isso tem relação com as pessoas que não puderam ficar em casa durante a pandemia.

"Temos 20 milhões de usuários no Brasil em 1,6 mil cidades. Infelizmente, o Brasil não adotou de fato uma política de lockdown. Fizemos uma pesquisa e 20% das pessoas precisaram trabalhar todos os dias. São pessoas que estão mais expostas à contaminação e a problemas, porque não puderam se isolar. E 80% das pessoas tiveram economia impactada e são de áreas periféricas", diz Pâmela Vaiano, diretora de comunicação da empresa.

A segurança das populações mais vulneráveis, como idosos, deficientes e pessoas das periferias, também foi tema do evento. "A mobilidade tem de ser discutida no contexto de acesso efetivo. Tem de pensar em iluminação pública, na urbanização que permita que a gente conviva de forma saudável, em um Plano Diretor inclusivo, que não crie espaços e grupos excluídos, porque ,quando o sistema de segurança age, quando a polícia age, é porque o problema já aconteceu", avalia Melina Risso, diretora de programas do Instituto Igarapé.

Bianca Bianchi Alves, especialista sênior em Transporte Urbano do Banco Mundial, diz que olhar a mobilidade como algo multidisciplinar e com foco no indivíduo é uma tendência. "O que a gente é que as pessoas tenham autonomia para ir e vir. Melhorar para as mulheres, que são 50% da população, e para as pessoas com deficiência, é melhorar para todo mundo. O cuidado no detalhe e na acessibilidade local e informada pelo gênero é o que vai fazer a diferença."

Estadão
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