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Cidades

Portador de autismo usa crachá para evitar abordagem em UPP

Moradores do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, tomaram a iniciativa para resguardar a segurança do rapaz, que já fugiu ao ser abordado

23 jul 2015 - 12h33
(atualizado às 14h06)
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Eduardo de Souza Silva, o Dudu, de 21 anos, passou a usar um crachá que o identifica como portador de autismo para evitar abordagem da PM em comunidade no Rio de Janeiro
Eduardo de Souza Silva, o Dudu, de 21 anos, passou a usar um crachá que o identifica como portador de autismo para evitar abordagem da PM em comunidade no Rio de Janeiro
Foto: Divulgação

Uma medida extrema foi tomada por moradores do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, com intenção de garantir a segurança do morador da comunidade Eduardo de Souza Silva, de 21 anos. Na noite de quarta-feira (22), o jovem recebeu um crachá que o identifica pelo nome e também expõe sua condição especial, de portador de autismo. A intenção com a iniciativa foi evitar que se repita uma situação vivida pelo rapaz na manhã desta terça-feira.

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De acordo com denúncia de moradores da localidade conhecida como Grota, Dudu, como é conhecido, foi abordado por um policial da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Assustado, ele correu da abordagem e por pouco não teria sido atingido por disparos. Ainda de acordo com moradores e parentes, esta não foi a primeira vez em que o jovem foi alvo de abordagem dos policiais.

Segundo o produtor cultural Helcimar Lopes, que teve a ideia de fazer a identificação por um crachá, em outras situações, o menino teve que ser socorrido durante abordagem policial. “Só que desta vez foi mais grave, porque o policial engatilhou a arma para atirar nele, já que o Dudu não atendeu ao chamado para parar”. Ele conta que o pior só não aconteceu porque uma senhora gritou e pediu para o PM não atirar “explicando que ele é especial, autista”.   

A partir do fato, Helcimar Lopes teve a ideia de fazer o crachá para evitar novas abordagens ao menino. Antes disso, no entanto, a história ganhou as redes sociais numa velocidade que chamou atenção. Foram mais de 1.300 curtidas na foto do menino postada pelo produtor cultural e mais de 700 compartilhamentos, só na terça e quarta-feira. No post, a história da abordagem era denunciada como forma de alerta à própria comunidade. “Fiz a postagem depois que uma amiga me pediu. O Dudu é negro, mora em favela, que dizer, polícia não quer saber, sai mandando tiro”.

Um parente do garoto, que preferiu não se identificar, disse que por várias vezes Dudu foi abordado pela polícia. Com medo, não costuma atender ao apelo dos policiais. “Eu fiquei surpresa quando eu soube do que aconteceu. Ele podia ter morrido. Tá todo mundo com medo, porque todo dia morre alguém”, afirmou.

Rotina de tensão

É pelas redes sociais que os moradores do Alemão, um dos principais complexos de favelas do Rio, tem tornado públicos os casos de aumento de violência na comunidade. Diariamente, é possível acompanhar posts sobre tiroteios, balas perdidas e confrontos entre policiais e traficantes. Helcimar Lopes denuncia: “o Alemão está há 22 dias com tiroteios diários. A gente sofre bastante porque eles (polícia) acabam generalizando, achando que todo mundo é bandido. Querem olhar nosso celular, nossas conversas. É bem difícil”.

Em nota, o comando da UPP informou que “não recebeu nenhuma denúncia relacionada a abordagens ao jovem e nem de que policiais teriam ameaçado atirar contra ele. O comandante da UPP esclarece que os policiais não conhecem todos os moradores do complexo de favelas em questão e que abordagens são atitudes necessárias no processo de pacificação pela qual passa a região”.

A nota encerra afirmando que “a unidade de polícia local está à disposição da família do rapaz para qualquer esclarecimento”.

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Fonte: Especial para Terra
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