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Polícia investiga se ouro roubado de Cumbica está sendo enviado para a China

Há suspeita de que a carga esteja sendo escoada em pequenas quantidades para o exterior. Criminosos fugiram com 770 quilos de ouro, além 15 quilos de esmeralda, 18 relógios e um colar

6 ago 2019 - 17h49
(atualizado às 22h13)
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SÃO PAULO - Balanço do Departamento de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil de São Paulo, aponta que o prejuízo no mega-assalto ao terminal de cargas do Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, foi maior do que se sabia. A quadrilha conseguiu roubar cerca de 770 quilos de ouro, além de 15 quilos de esmeralda bruta, 18 relógios e um colar de luxo: o valor estimado supera R$ 125 milhões. Segundo investigadores, a carga pode estar saindo aos poucos do Brasil - há suspeita de que pequenas porções sejam escondidas até em celulares rumo à China.

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O Deic trabalha com o número de 14 criminosos envolvidos no assalto. Até o momento, a Polícia Civil identificou seis suspeitos e conseguiu prender quatro deles. Outros dois, no entanto, seguem foragidos - entre eles, o homem apontado como mentor intelectual do grupo: Francisco Teotônio da Silva Pasqualine, o Velho.

Segundo as investigações, a quadrilha seria composta por assaltantes experientes, com histórico de ataques a bancos em outros Estados. Integrantes do bando também teriam participado de um ataque violento à transportadora de valores Prosegur em Ciudad del Este, no Paraguai, em 2017. O assalto milionário terminou com quatro mortos e foi considerado o maior da história do país vizinho.

Para o assalto em Cumbica, realizado na tarde de 25 de julho, os ladrões usaram viaturas clonadas da Polícia Federal, fuzis e até munição antiaérea. Rápida, a ação terminou sem que fosse preciso disparar nenhum tiro. Não houve feridos.

Inicialmente, foi divulgado que a carga roubada era de 719 quilos de ouro e seria transportada para Estados Unidos e Canadá. Nesta terça-feira, 6, o Deic confirmou que mais 51 quilos de outra empresa, que iriam para os Emirados Árabes, também foram levados. A quadrilha ainda roubou pedras preciosas, que sairiam de Guarulhos para a Índia, e joias, que eram destinadas à Suíça.

A polícia investiga o paradeiro do material, mas até o momento nenhuma parte da carga foi recuperada. "Nós temos a informação de que boa parte do ouro é transportado para o mercado exterior, através de diversas modalidades distintas", afirma o delegado Pedro Ivo Corrêa, titular da Roubo a Bancos do Deic, responsável pelo caso. "Certamente, não vai ser comercializado nas proximidades (do Brasil)."

Segundo as investigações, o material roubado pode estar sendo escoado aos poucos. "Uma da forma que descobrimos foi através da 'formiguinha': chineses que compram peças de ouro, em filetes pequenos, de 9 por 6 centímetros, que pesam cerca de 100 gramas", diz o delegado Rogério Luís Marques, do Deic. "Colocam dentro do celular e encaminham para a China, possivelmente de avião."

Na segunda-feira, 5, um chinês foi preso no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, com cerca de 1 quilo de ouro ilegal. Ele foi autuado por evasão de divisas. "Nada impede que a gente consiga, através das investigações, vincular. Mas, de início, não se pode afirmar que esse ouro apreendido é derivado do roubo (de Cumbica)", diz Marques. Segundo o delegado, o comércio ilegal para a China seria "vantajoso". "O grama de ouro no Brasil vale R$ 180. Na China, passa de R$ 300."

Sequestro de família de funcionário foi real, diz Polícia

O transporte de material valioso faz parte da rotina do terminal de cargas de Cumbica. Segundo a Polícia Civil, o aeroporto chega a movimentar até duas toneladas de ouro em um único dia.

O assalto era planejado ao menos desde janeiro. De acordo com a investigação, a ação só foi possível após a quadrilha conseguir cooptar um funcionário do aeroporto. Para a Polícia Civil, este homem é Peterson Patrício, de 33 anos, que está preso.

Patrício teria sido responsável por repassar informações privilegiadas ao bando. "Ele anuiu, sabia e participou do planejamento", afirma o delegado Corrêa. A primeira parte do inquérito foi relatada nesta semana.

Segundo as investigações, a quadrilha tentou invadir o terminal de cargas outras duas vezes - em março e na semana anterior ao assalto -, mas o plano acabou não dando certo. Nessas ocasiões, Patrício teria "criado obstáculos" e, por isso, teve a família sequestrada.

"No final, quando começou a criar obstáculos, o pessoal da organização findou por sequestrar sua família para 'estimulá-lo', vamos dizer assim, a participar um pouco mais efusivamente", diz Corrêa. "A família não sabia disso (do assalto)."

Quem é quem, segundo a investigação

O funcionário do aeroporto teria sido convencido a participar do ataque por um amigo de infância, Peterson Brasil, que também teve a prisão decretada pela Justiça.

Por sua vez, Brasil teria ligação com Pasqualine, o Velho, que é apontado como autor intelectual do assalto em Cumbica. De acordo com o delegado Corrêa, os dois são cunhados e Pasqualine tem um filho com a irmã de Brasil.

Dono de extensa ficha corrida, Pasqualine foi preso pela primeira vez em 1982 e coleciona passagens por roubo a banco e a carro-forte, segundo a Polícia Civil. "Ele buscou contanto com o líder da parte operacional, que tinha armamento, know-how e conhecimento para poder arregimentar os demais", diz.

Ele, no entanto, não teria participado diretamente do assalto. Ficou no grupo que sequestrou e fez de refém a família do funcionário do aeroporto.

Para os investigadores, o líder da "parte operacional" seria Marcelo Ferraz, o Capim, que tem passagens por roubos. Ele é um dos criminosos que aparece na imagem do circuito de segurança de Cumbica e foi preso no Guarujá, no litoral, onde estava escondido, segundo o inquérito.

O quarto preso por suspeita de envolvimento no assalto de Cumbica é o pintor Célio Dias, de 45 anos. Ele é acusado de ter definido o local para intermediar a fuga: um estacionamento na zona leste de São Paulo. Também foi autuado em flagrante por estar com um carregador de fuzil contendo projéteis calibre 7.62 mm.

Já Joselito de Souza também foi indiciado, mas está foragido. Ele teria relação próxima com Ferraz e seria proprietário de um estacionamento onde foram clonadas as viaturas da PF. Segundo a investigação, a quadrilha comprou os veículos e mandou blindá-los para o assalto.

Os indiciados devem responder pelos crimes de roubo, extorsão mediante sequestro, falsidade ideológica e formação de organização criminosa. A soma das pensa ultrapassa 20 anos de cadeia.

Estadão
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