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Polícia faz operação contra comércio ilegal de gás no Jacarezinho

Em favelas cariocas, traficantes e milicianos cobram "taxa" sobre os botijões, inflando preços; segundo associação, 70% desse comércio paga ágio aos criminosos

24 jan 2022 - 19h35
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Rio - Cinco dias após o início da implantação, pelo governo do Estado do Rio, de um novo programa de segurança pública na favela do Jacarezinho (zona norte do Rio), a Polícia Civil fez na comunidade uma operação para combater a venda irregular de botijões de gás, nesta segunda-feira, 24. Três estabelecimentos que vendem o produto acima do preço de mercado foram identificados, e um homem foi preso. O Cidade Integrada foi anunciado no sábado, 22, três dias após a comunidade e outras na zona oeste serem ocupadas por policiais.

Em muitas favelas cariocas, a venda de gás de cozinha em botijões habitualmente é controlada por traficantes ou milicianos. Eles não vendem diretamente o produto aos moradores, mas cobram ágio dos comerciantes pela venda de cada botijão. No Rio, segundo a pesquisa periódica da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio do botijão de 13 quilos é R$ 92,31. Nas favelas dominadas por grupos criminosos, porém, não se compra por menos de R$ 110,00.

Essa diferença, de quase R$ 20 por botijão, é paga pelo consumidor ao revendedor. É entregue aos criminosos que dominam a região, para que eles permitam que o comerciante siga trabalhando.

70% das vendas paga ágio a criminosos, diz entidade

Segundo dados do setor, todo mês são vendidos no Estado do Rio cerca de 2 milhões de botijões. O presidente da Associação Brasileira dos Revendedores de GLP (Asmirg-BR), Alexandre Borjaili, estima que pelo menos 70% sejam comercializados em áreas dominadas por traficantes ou por milicianos. Nelas, o ágio é obrigatório. Segundo esse cálculo, os criminosos receberiam R$ 20 sobre cada um de 1,4 milhão de botijões negociados. Isso renderia R$ 28 milhões por mês às quadrilhas. A Polícia Civil estima que o controle do comércio de gás é uma das duas atividades mais lucrativas em áreas de milícias. A outra é o comércio do sinal de TV a cabo e internet.

O secretário estadual de Polícia Civil do Rio, Allan Turnowski, anunciou nesta segunda-feira nas redes sociais a operação no Jacarezinho.

"A Polícia Civil vai fiscalizar hoje os depósitos de gás no Jacarezinho, entender se existe monopólio na venda oficial de gás nas comunidades. Eles (criminosos) não roubam caminhão de gás, só que a população carente é obrigada a pagar um sobrepreço. Covardia. Esse é o foco", escreveu.

Operação idêntica à realizada nesta segunda-feira no Jacarezinho foi promovida na última quarta-feira, 19, na favela de Rio das Pedras, na zona oeste. Naquele mesmo dia, a favela da Muzema, vizinha da Rio das Pedras, começou a receber o programa Cidade Integrada, do governo do Estado. Em Rio das Pedras, foram fechados três depósitos ilegais de gás e detidas sete pessoas.

Para o presidente da Asmirg-BR, , combater o comércio de gás nas favelas dominadas pelo tráfico ou pela milícia não vai surtir efeito.

"Quem está lá vendendo o gás não é o traficante nem o miliciano, é o comerciante honesto, que trabalha para sustentar sua família", disse. "Se ele não aceitar as regras impostas pelos criminosos, não pode trabalhar e ainda corre risco de morte. Então, não tem como cobrar dele que denuncie os bandidos. Ele não é a polícia", afirmou Alexandre Borjaili. "O depósito pode ser ilegal, mas recebe botijões 'oficiais', porque nenhuma empresa clandestina envasa gás no Brasil. Então, o correto seria cobrar das empresas que deixam seus botijões chegarem a esses comércios. Mas com as empresas ninguém mexe."

Cláudio Castro acompanhou ações de limpeza de rios

O governador Cláudio Castro (PL) acompanhou nesta segunda-feira as primeiras ações de infraestrutura do pelo programa Cidade Integrada. Foi iniciada a limpeza dos rios Salgado e Jacaré. Há planos para urbanização do entorno com asfalto, iluminação e ciclovias.

Estadão
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