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Papa Francisco se nega a comentar acusações de que teria acobertado abuso cometido por cardeal

'Não vou dizer nem uma palavra sobre este caso. Acho que o comunicado fala por si só', disse o pontífice sobre o texto do arcebispo Carlo Maria Vigano

27 ago 2018 - 07h00
(atualizado às 09h03)
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O papa Francisco considerou desnecessário no domingo, 26, comentar as graves acusações de que teria acobertado, durante seu mandato, a atuação do cardeal americano Theodore McCarrick, acusado publicamente em julho de cometer abusos sexuais.

"Não vou dizer nem uma palavra sobre este caso. Acho que o comunicado fala por si só", declarou o pontífice ao ser questionado sobre o assunto no avião que o levava de volta a Roma, após sua visita à Irlanda.

Ex-embaixador do Vaticano em Washington, o arcebispo Carlo Maria Vigano acusou o papa Francisco, em carta aberta publicada no fim de semana, de ter anulado as sanções contra o cardeal McCarrick e de ter ignorado as advertências internas sobre o comportamento sexual dele com jovens seminaristas e párocos.

"Li esse comunicado esta manhã", afirmou o pontífice aos jornalistas que o acompanhavam na aeronave, em alusão à carta. "Leiam com atenção o comunicado e julguem vocês mesmos", disse.

"Vocês têm a capacidade jornalística suficiente para tirar conclusões. É um ato de confiança. Quando passar um pouco o tempo e vocês tirarem as conclusões, talvez falarei, mas gostaria que sua maturidade profissional fizesse o seu trabalho. Isso lhes fará realmente bem", aconselhou o papa.

"A corrupção alcançou o topo da hierarquia da Igreja", diz Vigano em sua carta, na qual pede inclusive a demissão do papa Francisco. O texto, de 11 páginas, foi difundido simultaneamente no sábado em várias publicações católicas americanas de tendência tradicionalista ou ultraconservadora, assim como em um jornal italiano de direita.

Conversa com as vítimas

O pontífice garantiu, por outro lado, que sofreu muito ao conversar no sábado com oito vítimas irlandesas de abuso sexual. Ele se reuniu durante uma hora e meia com pessoas que sofreram abusos cometidos por clérigos, religiosos ou membros de instituições católicas.

"Sofri muito. Acho que tinha de escutar essas oito pessoas. E dessa reunião saiu a proposta - que fiz eu mesmo, mas que elas me ajudaram a fazer - de pedir perdão hoje durante a missa, mas por coisas concretas", explicou.

O papa mostrou-se particularmente comovido com o destino de moças solteiras que foram obrigadas, maciçamente e com a cumplicidade de instituições religiosas, a entregar seus filhos à adoção.

"Nunca tinha ouvido falar disso", admitiu ele, referindo-se ao encontro com duas pessoas que foram adotadas ilegalmente. "Foi doloroso para mim", afirmou, destacando o "consolo de poder ajudar a esclarecer as coisas".

Entre as vítimas estava sua ex-conselheira sobre abusos do clero contra menores, a irlandesa Marie Collins, que aos 13 anos sofreu abusos sexuais de um sacerdote. Ela renunciou à comissão antipedofilia, lamentando os obstáculos criados por alguns nomes da Cúria. Também criticou o abandono, por parte do Vaticano, de uma proposta do papa de criar um tribunal especial para julgar os bispos que cometeram ou acobertaram abusos.

Reveja: papa reconhece resposta tardia sobre abusos no Chile

"Vimos que este tribunal não era viável nem prático por causa das diferentes culturas dos bispos que devem ser julgados", afirmou o papa no domingo ao sugerir em troca a formação, para cada caso, de um júri composto por prelados.

Francisco lembrou que "muitas vezes são pais que acobertam os padres que cometem abusos e se convencem de que isto não é verdade". É necessário "falar com as pessoas justas", um juiz ou um bispo, recomendou ele, e fazer uma investigação em caso de suspeitas, respeitando sempre a presunção de inocência. / AFP

Estadão
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