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Papa Francisco pede que pais apoiem e não condenem filhos por orientação sexual

Segundo o pontífice, embora a Igreja Católica não possa aceitar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, pode apoiar leis destinadas a dar a eles direitos conjuntos nas áreas de pensões e saúde e questões de herança

26 jan 2022 - 11h57
(atualizado às 15h57)
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CIDADE DO VATICANO - O Papa Francisco pediu nesta quarta-feira, 26, que os pais não condenem os filhos por causa de orientação sexual, mas sim ofereçam apoio a eles. O pontífice fez o comentário durante audiência semanal no Vaticano em referência às dificuldades que os pais podem enfrentar na criação dos filhos.

"Essas questões incluíam pais que veem diferentes orientações sexuais em seus filhos e como lidar com isso, como acompanhar seus filhos e não se esconder atrás de uma atitude de condenação", afirmou Francisco.

Em outros momentos, o pontífice já havia dito que os homossexuais têm o direito de serem aceitos por suas famílias como filhos e irmãos. Também tem defendido que os casais homossexuais tenham proteções legais, mas no que diz respeito à esfera civil, não dentro da Igreja Católica. Embora a instituição não possa aceitar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a Igreja Católica pode apoiar leis de união civil destinadas a dar a eles direitos conjuntos nas áreas de pensões e saúde e questões de herança.

Para Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, o cenário sinaliza acolhimento, até diante da necessidade de se evitar preconceitos, mas ao mesmo tempo não indica mudança na doutrina da Igreja Católica. Ao dizer que os homossexuais não têm que ser condenados, mas apoiados para encontrarem o melhor caminho para sua realização humana, o Papa Francisco demonstra que as coisas, aos poucos, vão se esclarecendo.

"O cristão tem o dever de amar todas as pessoas e denunciar todo ato que não leva à realização humana de cada um", diz. No caso do homossexualiadade, ressalta Borba, "uma série de preconceitos sociais, que não têm nada de cristãos, confundiram essa fórmula simples e o que deveria ser uma denúncia de comportamentos que não realizavam plenamente o ser humano se tornaram atos discriminatórios e de desamor para com pessoas concretas, que normalmente precisavam até mais do apoio dos cristãos que as demais. Francisco está empenhado em corrigir essa compreensão equivocada da prática dos valores cristãos", afirma.

No entanto, na opinião do sociólogo, um entendimento melhor da posição da Igreja Católica em relação aos homossexuais ainda cria, sem dúvida, uma série de novas dificuldades. "Para a Igreja, o sexo e o prazer sexual são o coroamento de um grande amor, puro e gratuito, entre homem e mulher. Nossa sociedade nem crê na existência desse amor e as ciências humanas trouxeram, de fato, várias interrogações ao modelo clássico de masculino e feminino. Nessa situação, as normas vindas de diferentes instâncias da Igreja Católica podem parecer confusas, mas o espírito geral é sempre o mesmo: deve-se fazer o máximo para acolher o homossexual, mas deixar claro que não se considera o ato homossexual construtor da realização plena da pessoa", diz.

"Também deve sempre ficar claro que a Igreja Católica considera que deve haver normas legais que garantam aos homossexuais o pleno gozo de seus plenos direitos como cidadãos, bem como o respeito, tanto no plano simbólico quanto no prático, à instituição do casamento entre homem e mulher. De que forma cada país garante esses dois aspectos depende muito da legislação própria de cada um e de um diálogo que busque respeitar a todos", acrescenta Borba.

Em alguns países, como os Estados Unidos e a Alemanha, paróquias e ministros começaram a abençoar uniões do mesmo sexo em vez de casamento, e houve pedidos para que os bispos as institucionalizassem de fato. Conservadores da igreja disseram que o Papa Francisco, ao enviar notas de agradecimento a padres e freiras que realizam a benção, estava dando sinais contraditórios sobre a homossexualidade, confundindo alguns fiéis.

Em 15 de março de 2021, o Vaticano decidiu que a Igreja Católica não pode abençoar a união entre pessoas do mesmo sexo porque Deus "não pode abençoar o pecado", uma decisão que desapontou muito os católicos homossexuais. No entato, segundo o decreto, homossexuais podem ser aceitos e podem receber bênçãos nas Igrejas Católicas.

A Congregação para a Doutrina da Fé, o organismo doutrinário do Vaticano, emitiu a determinação, na época, em resposta a dúvidas e ações de algumas paróquias sobre a concessão de tais bênçãos como um gesto de acolhimento de católicos gays, já que a Igreja Católica não permite o casamento homossexual. A resposta, contida em uma explicação de duas páginas publicada em sete línguas, foi autorizada pelo papa Francisco. /Reuters

Estadão
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