PUBLICIDADE

Cidades

Museu Nacional abrigava 20 milhões de itens, entre eles fóssil de Luzia

Prédio foi doação do comerciante Elias Antônio Lopes ao príncipe regente d. João VI, em 1808

2 set 2018 - 21h50
(atualizado em 3/9/2018 às 05h56)
Compartilhar
Exibir comentários

RIO - O Museu Nacional, destruído por um incêndio na noite deste domingo, 2, guardava 20 milhões de itens relativos a áreas como arqueologia, zoologia, etnologia e geologia, incluindo coleções da antiguidade, trazidas ao Brasil no século 19. O maior tesouro é Luzia, o esqueleto mais antigo já encontrado nas Américas, com cerca de 12 mil anos de idade.

Achado em Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1974, trata-se de uma mulher que morreu entre os 20 e os 25 anos de idade e foi uma das primeiras habitantes do Brasil. O crânio de Luzia e a reconstituição de sua face - revelando traços semelhantes aos de negros africanos e aborígenes australianos - estavam em exibição no museu. A descoberta mudou as principais teorias sobre o povoamento das Américas.

O prédio foi doação do comerciante Elias Antônio Lopes ao príncipe regente d. João VI, em 1808, ano da chegada da família real ao Rio. Após a morte de d. Maria I, em 1816, d. João mudou-se definitivamente para o Paço de São Cristóvão, onde permaneceu até 1821.

Os imperadores d. Pedro I e d. Pedro II também moraram por lá. Com o fim do Império, em 1889, toda a família se exilou na França. O palácio foi, então, palco da plenária da primeira Assembleia Constituinte da República, entre novembro de 1890 e fevereiro do ano seguinte. O Museu Nacional se mudou para o palácio em 1892. "Acho que o palácio em si é o item individual mais importante da coleção porque conta boa parte da história do nosso país", comentou Alexander Kellner, quando assumiu a direção do museu.

Outro destaque do acervo é o maior meteorito já encontrado no Brasil, o Bendegó, com 5,36 toneladas. A rocha é oriunda de uma região do Sistema Solar entre os planetas Marte e Júpiter e tem cerca de 4,56 bilhões de anos. O meteorito foi achado em 1784, em Monte Santo, no Sertão da Bahia e foi para o museu em 1888. Na época, era o segundo maior do mundo. Atualmente, ocupa a 16.ª posição.

A primeira réplica de um dinossauro de grande porte já montada no Brasil é uma das maiores atrações e era o preferido do público. Tanto que o Maxakalisaurus topai, um herbívoro de 9 toneladas e 13 metros de comprimento, tinha uma sala só para ele. O dinossauro viveu há cerca de 80 milhões de anos na região do Triângulo Mineiro.

O museu também chamava atenção pela coleção de múmias. É o caso do corpo mumificado de um índio Aymara, grupo pré-colombiano que vivia perto do Lago Titicaca, entre Peru e Bolívia. Era um homem, de idade entre 30 e 40 anos, cuja cabeça foi artificialmente deformada, uma prática comum entre alguns povos daquela região. Os mortos Aymara eram sepultados sentados, com o queixo nos joelhos e amarrados. Uma cesta era tecida em volta do defunto, deixando de fora apenas as pontas dos pés e a cabeça.

O acervo incluía, ainda, a maior coleção de múmias egípcias da América Latina. A maior parte das peças foi arrematada por d. Pedro I em 1826. São múmias de adultos, crianças e também de animais, como gatos e crocodilos. A maioria é proveniente da região de Tebas. Lápides com inscrições em hieróglifos também fazem parte da coleção.

Os fósseis da preguiça-gigante e do tigre-de-dente-de-sabre que viveram há mais de 11 mil anos são dois expoentes do período da megafauna brasileira e encantam as crianças há décadas, muito antes das primeiras réplicas de dinossauros serem montadas no museu. Diferentemente dos dinossauros, os animais da megafauna conviveram com os homens pré-históricos. A preguiça-gigante chegava a ter o tamanho de um carro como o fusca. "A preguiça foi, durante muito tempo, o maior organismo fóssil montado", contou Kellner. "Fiquei com o coração partido, ainda criança, quando descobri que não era um dinossauro."

O trono do rei de Daomé está na coleção do Museu Nacional desde 1818. O reino da África, criado no século XVII, se situava onde hoje está o Benin e durou até o fim do século 19. A peça foi uma doação dos embaixadores do Rei Adandozan (1797-1818) ao príncipe regente D. João VI. O reino ficou conhecido por ter um exército formado por mulheres guerreiras.

O Museu Nacional tem uma coleção significativa de peças indígenas, mostrando a importância desses povos na formação do país. Um dos maiores destaques são as máscaras feitas pelos índios Ticuna, que representam entidades sobrenaturais e são usados no "ritual da moça nova", que marca a primeira menstruação das meninas e sua entrada na vida adulta.

A Biblioteca Central do Museu Nacional foi criada em julho de 1863 e uma das maiores da América Latina na área de ciências antropológicas e naturais. São mais de 500 mil títulos, entre eles obras raras, como a publicação "Historia naturale", de autoria de Plínio, o Velho, datada de 1481 - a obra mais antiga da coleção.

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Publicidade