PUBLICIDADE

MinC inaugura obra de 29 milhões em prédio histórico no Rio

Fachadas do Palácio Gustavo Capanema, construído em 1945, foram restauradas; reforma interna deve durar dois anos e meio

19 set 2018 - 19h59
Compartilhar
Exibir comentários

RIO - Projetado por seis dos mais famosos arquitetos brasileiros, o Palácio Gustavo Capanema, situado no centro do Rio de Janeiro e inaugurado em 1945 para ser sede do então Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública (Mesp), encerra nesta quinta-feira, 20, uma reforma iniciada em dezembro de 2014. As fachadas da construção, que reúnem importantes elementos do modernismo mundial, foram restauradas ao custo de R$ 29 milhões e serão entregues pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) às 16 horas, em cerimônia com a presença do ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão.

O prédio é usado pelo Ministério da Cultura e abrigava em seus 16 andares a representação dessa pasta no Rio, além de segmentos do Iphan (o Centro Lúcio Costa), da Biblioteca Nacional, da Fundação Nacional de Artes (Funarte), da Fundação Palmares e do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).

Cenário de trechos de Tropa de Elite 2 e O Divã, o palácio ganhou destaque quando foi ocupado, em 16 de maio de 2016, por um grupo contrário ao impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Os ativistas protestavam contra a extinção do Ministério da Cultura, anunciada pelo presidente Michel Temer (MDB). Ele recuou da decisão, mas a ocupação continuou até 25 de julho daquele ano, quando a Polícia Federal invadiu o prédio e retirou os manifestantes.

Em março de 2017 o palácio foi desocupado para a conclusão da reforma das fachadas, e vai continuar assim para a próxima etapa, uma reforma interna que deve durar dois anos e meio e está estimada em R$ 80 milhões. Ainda que a reforma não esteja concluída, em 2020 o prédio deve ser usado pela União Internacional de Arquitetos para eventos do 27º Congresso Mundial de Arquitetos. Depois o palácio voltará a ser usado pelas instituições brasileiras.

Em 1935 o governo federal lançou um concurso para escolher o projeto do novo prédio do ministério, mas o então ministro Gustavo Capanema não gostou da proposta vencedora. Encomendou então um projeto ao arquiteto Lucio Costa (1902-1998), que chamou outros cinco colegas - Oscar Niemeyer (1907-2012), Affonso Eduardo Reidy (1909-1964), Carlos Leão (1906-1983), Ernany de Vasconcelos (1912-1989) e Jorge Machado Moreira (1904-1992). Também conseguiu a consultoria do suíço Le Corbusier (1887-1965).

O projeto tornou-se um ícone do modernismo mundial, porque segue os "cinco pontos da nova arquitetura", instituídos por Corbusier em 1926. Eles são: planta livre (as paredes não são utilizadas como estruturas de sustentação, podendo ser derrubadas e construídas em outros lugares sem prejuízo para a estrutura da construção); fachada livre (assim como as paredes internas, a fachada também não é usada como estrutura de sustentação, podendo privilegiar a estética e a funcionalidade); janelas em fita (sequência de janelas formando uma fita horizontal, viável porque a fachada não é estrutura de sustentação); pilotis (sistema de pilares que elevam o prédio do chão, permitindo o trânsito sob o imóvel); e terraço-jardim (a cobertura do edifício é usada como espaço de convivência e lazer, forma de "devolver" aos cidadãos a área "roubada" pelo prédio).

Para aproveitar a ventilação e a luz naturais, na fachada norte foram instaladas lâminas horizontais móveis, conhecidas como brise-soleil (quebra-sol, em francês). O sistema fora inventado por Le Corbusier três anos antes e foi usado no palácio pela primeira vez em larga escala. Outra novidade mundial foi o curtain wall, fachada envidraçada voltada para a face menos exposta ao sol.

O prédio ganhou paisagismo de Roberto Burle Marx e foi decorado com azulejos de Cândido Portinari, pinturas de Alberto Guignard e José Pancetti e esculturas de Bruno Giorgi, Adriana Janacópulos, Jacques Lipchitz e Celso Antônio Silveira de Menezes. A construção começou em 1936, terminou nove anos depois e ganhou o nome do ministro da Educação mais longevo da história do Brasil. Gustavo Capanema ocupou esse cargo de 1934 a 1945. O prédio abrigou o Ministério da Educação até 1960, quando a capital foi transferida do Rio para Brasília.

"Um dos maiores desafios foi executar a restauração dos sistemas de engrenagem, com contrapeso, para movimenta cerca de 1.100 conjuntos de esquadrias, produzidas especialmente para o edifício, executando todo o trabalho sem tirar as esquadrias", conta o diretor do Departamento de Projetos Especiais do Iphan, Robson de Almeida. "Também tivemos que trocar todos os elementos dos brises soleils, que eram de amianto, por peças de fibrocimento."

Os técnicos do Iphan também restabeleceram o tom de azul original dos brises soleils, chamado azul Lucio Costa. A tonalidade possui um código no sistema de cor de Munsell, que foi especificado pelo próprio Lucio Costa e registrado na década de 1980.

Além das fachadas, a reforma já incluiu a restauração dos revestimentos de pedra dos pilotis, a impermeabilização do terraço-jardim e da cobertura do bloco de auditórios, a modernização dos elevadores e a troca de esquadrias e revestimentos de alguns pavimentos e do teto dos pilotis. Na próxima etapa, a reforma interna vai incluir a substituição dos sistemas de detecção e combate a incêndio e do ar-condicionado, a modernização dos auditórios e a restauração do mobiliário de madeira e dos painéis de azulejos de Portinari.

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Publicidade