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Milagre da multiplicação, pelos cientistas

Embriões de rinocerontes quase extintos são criados em laboratório para salvar espécie

6 jul 2018 - 03h03
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Se há dez anos você perguntasse a Thomas Hildebrandt se os rinocerontes-brancos do norte poderiam ser salvos, sua resposta seria negativa. O número de rinocerontes diminuiu para um dígito e os poucos remanescentes têm graves problemas de reprodução.

"Achamos que a história chegou ao fim", disse Hildebrandt, biólogo do campo da reprodução da vida selvagem do Institute for Zoo and Wildlife Research em Leibniz e da Universidade Livre de Berlim. Seu prognóstico foi ainda mais desalentador quando Sudão, o último macho da subespécie, morreu em uma reserva no meio do semestre passado. Mas, na quarta-feira, ele e seus colegas escreveram na revista Nature Communications que a história desse rinoceronte não acabou.

Utilizando esperma congelado de rinocerontes-brancos do norte e óvulos de fêmeas rinocerontes do sul muito próximas deles, os cientistas criaram embriões híbridos que potencialmente podem ser implantados em fêmeas rinocerontes-brancas do sul, que servirão como barrigas de aluguel.

Este é um primeiro passo com o objetivo de ressuscitar a população de rinocerontesbrancos do norte, disse Jan Stejskal, diretor de projetos internacionais do Dvur Kralove Zoo na República Checa e autor do estudo. Várias equipes no mundo vêm trabalhando em colaboração no campo da alta tecnologia para ressuscitar a subespécie que hoje está funcionalmente extinta. Só duas fêmeas, mãe e filha, chamadas Najin e Fatur, ainda estão vivas na reserva de Ol Pejeta no Quênia.

Um caminho seria a fertilização in vitro de óvulos e esperma de rinocerontes brancos do norte. O que envolveria a produção de embriões precoces (ovócitos) em placas de petri que seriam então transferidos para fêmeas brancas do sul.

Hildebrandt e seus colaboradores começaram a investigar esta possibilidade. Congelaram amostras de esperma de quatro machos-brancos do norte e usaram uma amostra para fertilizar óvulos de duas fêmeas brancas do sul, criando quatro embriões híbridos. Além disso, criaram três embriões plenamente desenvolvidos de rinocerontes-brancos do sul.

A próxima etapa é implantar os embriões híbridos nas rinocerontes que servirão de barrigas de aluguel, o que deve ocorrer nos próximos meses. Se houver êxito, eles pedirão às autoridades do Quênia aval para coletar óvulos de duas fêmeas e depois fertilizá-los com esperma do rinoceronte-branco armazenado. A equipe espera que o primeiro filhote por esse método nasça em três anos.

Um inconveniente é que o pool genético de só duas fêmeas e quatro machos é limitado e pode levar a uma séria endogamia. Por isso, a equipe e um grupo liderado por pesquisadores do San Diego Zoo Global analisam outra estratégia: usar células-tronco pluripotentes induzidas (iPS). Elas são reprogramadas a partir do zero e podem se tornar outro tipo de célula, incluindo as de espermas e óvulos. /TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Estadão
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