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'Levantei o lençol e vi meu filho', diz mãe de jovem morto pela polícia no Rio

Aos 18 anos, Marcos Luciano se transformou, em janeiro do ano passado, em uma das 1.534 vítimas que perderam a vida durante ações policiais no Rio

11 set 2019 - 11h10
(atualizado às 13h53)
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RIO - Aos 18 anos, o jovem Marcos Luciano se transformou, em janeiro do ano passado, em uma das 1.534 vítimas que perderam a vida durante ações policiais no Rio. Ele morreu durante operação na favela do Muquiço, em Guadalupe, zona norte carioca.

As mortes cometidas por policiais contra suspeitos de crimes chegaram a 6,2 mil casos em 2018 e representaram aproximadamente um em cada dez assassinatos no País, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgados nesta terça-feira, 10. O número é 20,1% maior que os registros de letalidade policial em 2017 e quase o triplo de 2013, quando houve 2,2 mil relatos.

Em 17 Estados, a polícia matou mais no período, com destaque negativo para a violência das forças de segurança fluminenses. Foi no Rio que a maior taxa por 100 mil habitantes foi constatada (8,9).

"Meu filho estava com envolvimento (com traficantes), infelizmente. Mas estava querendo sair. Ele era 'radinho'. Tinha passado (por programa) socioeducativo, falei que ele tinha de cuidar da filha. Ele ia sair, mas não podia simplesmente entregar o rádio e dizer que não ia mais", conta a mãe de Marcos, a ambulante Bruna Cristina Mozer, de 38 anos.

Ela relata que o filho foi morto no início de uma manhã. Moradora da região central do Rio, recebeu um telefonema informando que deveria ir ao Muquiço. Na hora, conta, soube que algo de ruim havia acontecido.

"Entrei na comunidade e vi uma viatura parada, com vários policiais em volta e curiosos olhando. Passei por eles e vi um corpo. Levantei o lençol e vi o meu filho. Ele estava quentinho ainda. Parece até que deu um último suspiro quando deitei em cima dele para abençoar", relembra.

Conforme a ambulante, a polícia alegou ter encontrado um carregador de pistola no bolso do rapaz. Não havia armas e, diz Bruna, não foi feito exame nas mãos para buscar por vestígios de pólvora.

Segundo ela, o rapaz foi morto quando, baleado, já tinha se rendido. "Meu filho tomou tiro nas costas, correu e caiu. No que ele caiu, se entregou, colocou as mãos no alto e falou: 'Perdi, perdi'. O policial deu um tiro na cabeça dele. Todo mundo no prédio da frente viu", contou Bruna. Procurada, a polícia informou apenas que o caso continua sob investigação.

Estadão
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