PUBLICIDADE

Cidades

Homem mata advogada e marido dela após perder ação judicial no litoral

Suspeito está foragido; em 2018, ao menos cinco defensores foram mortos em razão do exercício profissional

5 nov 2018 - 19h56
(atualizado às 19h59)
Compartilhar
Exibir comentários

SOROCABA - A advogada Marleni Fantinel Ataíde Reis, de 68 anos, e seu marido, Marcio Ataíde Reis, de 46, foram assassinados a tiros e facadas, na noite de sábado, 3, quando passavam o fim de semana em Peruíbe, no litoral sul de São Paulo. O suspeito do crime, segundo a Polícia Civil, estava inconformado por ter perdido uma ação judicial em que Marleni atuou como advogada da parte contrária. Neste ano, ao menos cinco advogados foram assassinados no Estado, quase sempre em razão do exercício da profissão.

A advogada Marleni Fantinel Ataíde Reis foi morta a facadas, em Peruíbe, no litoral de São Paulo
A advogada Marleni Fantinel Ataíde Reis foi morta a facadas, em Peruíbe, no litoral de São Paulo
Foto: Marleni Fantinel Ataíde Reis/Facebook / Estadão

Marleni e o marido moravam em Santos, mas costumavam passar fins de semana na chácara, na Estrada Armando Cunha, em Peruíbe. O imóvel foi invadido pelo suspeito que, armado de espingarda, atirou nas costas de Marcio. A advogada tentou fugir, mas foi alcançada pelo agressor, que a atingiu com várias facadas. Vizinhos chamaram a polícia. A advogada foi levada com vida à Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Peruíbe e chegou a ser transferida para o Hospital Regional de Itanhaém, na mesma região, porém, não resistiu. Antes de morrer, ela contou aos policiais quem era o autor dos crimes.

O suspeito, Antonio Ferreira Silva, de 61 anos, teve a prisão decretada, mas está foragido. Conforme a Polícia Civil, em agosto de 2011, a filha da advogada, Virgínia Conceição Fantinel Dias, vendeu um Fusca ano 1983 para Antonio, mas ele não transferiu o veículo para o seu nome. A vendedora passou a receber as multas de trânsito sofridas pelo homem e, sem acordo, entrou com ação na Justiça, tendo como advogada a própria mãe. Em junho, o juiz Alexandre das Neves condenou Silva a pagar R$ 2 mil a Virgínia por danos morais e a regularizar a documentação do carro, sob pena de multa diária de R$ 100. Conforme o relato da filha, ela e sua mãe passaram a receber ameaças de Silva.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Santos classificou o assassinato da filiada como uma afronta a toda a advocacia. "Quando se cala a voz daquele que busca a Justiça por alguém, no exercício de sua profissão, se cerceia uma liberdade individual", disse o presidente da subseccional, Luiz Fernando Afonso Rodrigues. Os corpos do casal foram sepultados na manhã desta segunda-feira, 5, no Cemitério Metropolitano de São Vicente.

Cinco mortes

Somente neste ano, ao menos cinco advogados foram assassinados no Estado e, na maioria das vezes, o crime teve relação com o trabalho profissional das vítimas. No dia 13 de julho, o advogado Nilson Aparecido Carreira Mônico, de 56 anos, foi morto a tiros em seu escritório, em Presidente Venceslau, no oeste paulista. O autor dos disparos, um ex-policial, e o suspeito de ser mandante do crime, um empresário, foram presos. Conforme a investigação, o advogado foi morto por ter movido ação, em defesa de seu cliente, contra o empresário.

Uma semana depois, o advogado Kleber Martins de Araújo, de 60 anos, foi morto a tiros no interior de seu escritório, em Campos do Jordão. Ele era criminalista e foi baleado cinco vezes. O crime ainda é investigado, mas, segundo a OAB, há indícios de estar relacionado à atividade profissional do advogado.

No dia 26 do mesmo mês, o advogado Jonatas Fernando Venturini da Silva, 32 anos, foi assassinado a tiros por homens numa moto quando saía de casa, em Atibaia. A Polícia Civil ainda busca suspeitos do crime.

Em 14 de agosto, o advogado Carlos Roberto Binelli, de 65 anos, ex-presidente da OAB local, foi morto dentro de casa, em Espírito Santo do Pinhal. A investigação inicial apontou para latrocínio. De acordo com o presidente da OAB-SP, Marcos da Costa, todos os casos estão sendo acompanhados pela entidade. "O advogado atua na defesa dos direitos do seu cliente e, quando acontece algo assim por conta do exercício da profissão, o que está sendo atacada é a possibilidade do cidadão defender seu direito", disse.

No caso da advogada Marleni Reis, representantes da Ordem acompanharam as providências e o rápido esclarecimento da autoria e motivação do crime. Conforme Costa, os ataques não se restringem ao Estado de São Paulo. "Infelizmente, tivemos mais de 70 assassinatos recentes de advogados em todo o País. Estamos vivendo momentos difíceis. Num momento de intolerância, como o que vivemos, quem está na linha de frente na defesa do estado de direito sofre as consequências", disse.

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Publicidade