PUBLICIDADE

Cidades

'Greve é abusiva, desrespeitosa e inconsequente', diz Nunes sobre nova paralisação de ônibus

Prefeito chamou sindicalistas de 'irresponsáveis'; na segunda paralisação em 15 dias, motoristas e cobradores reivindicam, entre outros benefícios, remuneração no horário de almoço

29 jun 2022 - 12h58
(atualizado às 15h52)
Compartilhar
Exibir comentários

SÃO PAULO - O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), voltou a subir o tom diante de uma nova greve de motoristas e cobradores do transporte coletivo na capital paulista. Segundo ele, a paralisação - que foi deflagrada na madrugada desta quarta-feira, 29, e é a segunda em um período de 15 dias - é "abusiva, desrespeitosa e inconsequente", uma vez que já havia sido marcada uma audiência para discutir os pontos reivindicados pelos trabalhadores. "Consideramos irresponsável a postura desses sindicalistas do transporte coletivo, que trouxeram um grande prejuízo para a cidade mais uma vez, deixando, de 2,3 milhões passageiros, 1,5 milhão desassistidos no transporte público", disse.

Das 13 empresas que operam o sistema de transporte estrutural, apenas uma está com os veículos em circulação nesta quarta. Os funcionários das concessionárias de transporte coletivo cobram remuneração no horário de almoço, pagamento das horas extras a 100% e participação nos lucros e resultados (PLR). O grupo é representado pelo Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo (Sindmotoristas), que rebateu as declarações do prefeito.

"Do ponto de vista da administração municipal, nós consideramos a greve abusiva, desrespeitosa e inconsequente", disse Nunes em cerimônia realizada nesta quarta em prédio da Cavalaria da Polícia Militar localizado na região da Luz, centro da cidade. O prefeito destacou que, após a greve do dia 14 maio, foram concedidos 12,47% de aumento sobre o salário dos funcionários de transporte público e que os demais pontos, que já foram levantados naquela ocasião, "estavam em negociação para julgamento do TRT (Tribunal Regional do Trabalho)".

"Deveria o sindicato aguardar esse julgamento, que está marcado para hoje às 15h, e mesmo assim eles mantiveram a greve", afirmou o prefeito, mencionando que a audiência com o sindicato patronal está agendada para a tarde desta quarta na Justiça do Trabalho. Às 16h, uma nova assembleia está convocada pelo Sindmotoristas para decidir sobre a manutenção da paralisação.

Nunes afirmou que aguarda o julgamento do TRT e reforçou que, assim como na última greve, os motoristas e cobradores não mantiveram ao menos 80% dos veículos circulando em horário de pico e 60% em outros horários, como determina o Tribunal de Justiça. "Mais uma vez esse sindicato irresponsável descumpre a decisão judicial de manter os 80% no horário de pico e os 60% no horário de não pico", disse. "Esses três itens (reivindicações), sinceramente, são importantes, motoristas e cobradores são profissionais importantíssimos para a cidade, mas a gente há de considerar que não é motivo para fazer uma greve."

Em nota publicada no site, o Sindmotoristas disse que repudia os pronunciamentos de Nunes. "O sindicato da categoria lamenta e repudia tal posição, considerada pela direção da entidade como 'leviana, covarde, e infeliz'", disse o sindicato que representa os motoristas e cobradores. Conforme o presidente em exercício da entidade, Valmir Santana da Paz, o Sorriso, o prefeito tem "desprezado os profissionais que atuaram na linha de frente da pandemia e não pararam um único dia no transporte da maior cidade do País".

No último dia 14, a categoria também realizou uma greve, que durou da meia-noite às 15h20 daquela terça-feira. A paralisação foi considerada legal pela Justiça do Trabalho e resultou em uma negociação entre o sindicato dos motoristas e a entidade que representa as empresas, que estabeleceu o pagamento do reajuste de 12,47% contado a partir de maio.

Ainda diante do acordo, a Prefeitura de São Paulo penalizou as empresas pela paralisação dos motoristas e cobradores. "Na última greve do dia 14, além dos R$ 20 milhões que nós não pagamos às 13 empresas que não operaram, nós aplicamos uma multa de R$ 1,4 milhão às empresas por elas não terem colocado os ônibus para fazer viagens", disse o prefeito.

Subsídio e aumento de tarifa de ônibus não têm correlação com a greve, diz prefeito

Questionado sobre os possíveis efeitos da greve nos subsídios concedidos pela Prefeitura às empresas que atuam com o transporte e sobre um eventual reajuste das tarifas, Nunes tergiversou. "A questão do subsídio, e de eventual aumento (da tarifa), não tem correlação com a greve. A licitação foi feita em 2019, existe um contrato, a gente tem que seguir o contrato, e esse contrato prevê quais são os repasses com relação às 24 empresas que têm concessão do transporte público de São Paulo", afirmou o prefeito.

"Não vejo realmente relação das empresas para fazerem a greve ou incentivarem a greve, porque isso não impacta diretamente a questão do subsídio. O que eu vejo é uma irresponsabilidade desse pessoal do sindicato", acrescentou. Nunes reforçou que a Prefeitura está há dois anos consecutivos pagando R$ 3,3 bilhões às empresas.

Ele disse ainda que a gestão municipal tem somado esforços com o governo do Estado para conter um eventual aumento da tarifa. "A gente está trabalhando com essa atenção, de não aumentar impostos, tentar segurar as tarifas. É um grande esforço, que o Rodrigo (Garcia, governador) tem feito por parte do Estado, o Metrô, e eu aqui, da Prefeitura."

À época da última greve, o prefeito disse ao Estadão que iria estudar se o repasse financeiro para que as empresas banquem o aumento das categorias viria de maior subsídio do Município ao setor ou de aumento da tarifa, hoje em R$ 4,40. "Vai depender da quantidade de passageiros. Se entra bastante passageiro, aumenta a receita e diminui a diferença para dar o subsídio", disse Nunes no último dia 14.

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Publicidade