Do ouro ao latão: descaso atinge bairro do Engenho de Dentro
Em 18 de agosto de 2016, Usain Bolt ganhava com folga mais uma medalha olímpica – nos 200m rasos – e fazia tremer o Engenhão. A saga do jamaicano eternizou o bairro do Engenho de Dentro, na zona norte do Rio, como referência mundial do esporte. Orgulho dos moradores, o estádio é um oásis na localidade. Em torno dele há problemas crônicos que se arrastam há décadas e sucumbem a cada promessa vazia de políticos e demais autoridades públicas.
O Terra fez no ano passado uma série de reportagens sobre o entorno do Engenhão. Durante os últimos anos, o então prefeito do Rio, Eduardo Paes, havia garantido que todo o bairro seria bastante beneficiado com a Olimpíada. Quem mora ali e acreditou no discurso continua até hoje à espera das melhorias.
Basta atravessar a linha do trem, colada ao estádio, para se constatar que nada mudou em 12 meses. Na única comunidade do Engenho de Dentro, chamada de Camarista Méier, a menos de três quilômetros da pista de atletismo que recebeu Usain Bolt, a falta de água permanece crônica e sem solução.
“É todo dia a mesma coisa. Nunca tivemos aqui água potável, uma vergonha”, lamenta Carlos Alberto Policeno, morador antigo da Camarista. Assim como seus vizinhos, ele ouviu de vereadores da cidade e de representantes da prefeitura que a Olimpíada no Rio acabaria com o problema no bairro.
“É de chorar. A gente mostra, reclama, protesta, denuncia e ninguém se responsabiliza. Existe a falta de água e também a questão do esgoto a céu aberto, passando ao lado das casas. É emergencial, estamos falando de saúde pública, de dignidade da vida humana e nada acontece”, desabafa o repórter fotográfico André Luís Bezerra da Silva, que mora no bairro há muitos anos e costuma registrar o dia a dia da região.
A ausência de coleta de lixo sistemática também atinge quem mora em algumas ruas do Engenho de Dentro – notadamente no lado ‘B’ do bairro, o que mais afastado do Engenhão, separado pela estação ferroviária. Apesar da omissão pública, André afirma que não vai desistir. “Se eu pudesse, eu trazia o Usain Bolt pra ele ver a vergonha que é isso aqui. Tenho certeza que ela ia botar a toca no trombone.”