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Cidades

Depoimento: 'Fica a saudade da presença e a gratidão'

O padre Raphael E. do Carmo, que mora em Roma, perdeu um amigo no desmoronamento da mina do Córrego do Feijão

20 jul 2019 - 16h12
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BRUMADINHO - Leia o depoimento do padre Raphael E. do Carmo, que mora em Roma, e foi parceiro de jogos de futebol do engenheiro Alexis Adriano da Silva, da Vale, que morreu no desmoronamento da mina do Córrego do Feijão, e do pai dele, José Maria da Silva, hoje com a tarefa de criar os dois filhos da vítima.

"Conheci o Alexis, seus filhos e Zé Maria, seu pai, em uma turma que se reúne semanalmente pra jogar futebol. Alexis sempre muito bem humorado, zeloso com as crianças e mostrava um grande amor pelo pai. Às vezes tínhamos oportunidade de conversar por mais tempo e entre estas, algumas partilhas da vida aconteciam. Ele sempre se mostrou preocupado com o bem-estar dos filhos, dizia querer dar o melhor possível para eles. Estou agora morando fora do País, em Roma, acompanhei todo o ocorrido de longe, pelos meios de comunicação e como foi doloroso saber que um rapaz jovem, pai de família, cheio de sonhos e projetos, teve sua passagem de maneira trágica.

É doloroso ver o pai e a mãe que perdem o filho, invertendo a ordem natural da vida, é doloroso ver os amigos que perdem o companheiro de todas as horas, mas de maneira especial é muito cruel ver os filhos que não terão a companhia física do pai. Tal ausência será aliviada pela presença do avô, Zé Maria, grande homem, que foi exemplo para Alexis e agora não se furtará a oferecer-se como suporte aos netos. Para nós cristãos, a vida não acaba, pois todo batizado é inserido como membro do Corpo de Cristo, a Igreja, e se Cristo Ressuscitou, a morte já não tem poder sobre Ele.

Também nós, como membros do Corpo de Cristo, não estamos sujeitos à morte eterna, mas saímos desta vida para entrar na eternidade da casa do Pai. É nossa fé que nutre na esperança. É nesta fé que nos apoiamos sabendo que Alexis, junto do Pai, nos aguarda para a festa eterna. Para nós fica a saudade de sua presença e a gratidão por tudo o que vivemos juntos. Fica também a grande lição que deve ser aprendida: a vida humana não pode ser objeto de negociação, é valor absoluto.

O cuidado para com esta dádiva é um imperativo. Deste modo, que os responsáveis por este grande crime sejam exemplarmente punidos, que o sofrimento dos que sobreviveram seja mitigado, e quanto a nós, nos consolemos uns aos outros até que nos encontremos na casa do Pai."

Estadão
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