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Crack: professora vê eficácia nula em internação compulsória

11 jan 2013 - 17h02
(atualizado às 17h11)
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A professora Luciana Boiteux, coordenadora do Grupo de Pesquisas em Política de Drogas e Direitos Humanos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que a eficácia das internações compulsórias de dependentes de drogas é praticamente nula sem uma estratégia de prevenção, que é avaliada por ela como a medida mais importante para se diminuir o problema do crack, principalmente nas grandes cidades. Nesta sexta-feira, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), assinou o termo de cooperação técnica entre o governo do Estado de São Paulo, o Tribunal de Justiça (TJ-SP), o Ministério Público (MP-SP) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) para autorizar a internação involuntária de viciados, após uma avaliação médica.

Três seguranças fazem vigia da região da Cracolândia, todos contratados por um grupo de comerciantes do local
Três seguranças fazem vigia da região da Cracolândia, todos contratados por um grupo de comerciantes do local
Foto: Adriano Lima / Terra

Crack: OAB-SP vê internação involuntária como alento

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"Quando se implanta um tipo de medida como essa, é preciso ter um protocolo muito bem definido. Não se pode ir pegando as pessoas na rua e forçando uma internação. Esse tema é muito mais complexo e multifacetado, mas as autoridades tendem a setorizar essa questão", diz ela.

A professora afirma que o problema precisa ser visto pela perspectiva médica e psiquiátrica. De acordo com ela, o abuso no consumo de qualquer substância traz problemas que vão além do vício. "Não se pode generalizar. Os problemas decorrentes estão no contato do ser humano com aquela substância. Cada um tem um tipo de uso. No caso do crack, envolve muitas vezes uma população de rua. E o problema não está só em elas morarem na rua. Precisa saber o que levou a pessoa para lá, suas angústias, o uso da droga como fuga para problemas familiares. Muitos deles são portadores também de problemas mentais. Não se pode fazer uma política generalista", diz.

De acordo com ela, o maior risco é justamente de se fazer uma política generalista. "Esse tipo de ação acontece muitas vezes para se dar uma satisfação à opinião pública. Tem de se pensar que a pessoa que ficará internada e vai retomar a vida, não vai ficar lá eternamente. E é aí que o Estado deve agir, senão volta tudo ao ponto de partida", diz ela.

A professora cita o que aconteceu no Rio de Janeiro, quando foi utilizada a força policial para a internação das pessoas. "Foi uma política sem protocolo definido. Com a intenção de 'limpar' as ruas. E nós criticamos esse método, que é violador dos direitos fundamentais do ser humano".

Ela diz que a abordagem tem de ser complexa, integral, humana, caso contrário pode trazer efeitos ainda mais danosos. "É preciso, definitivamente, respeitar os direitos e a dignidade humana".

Fonte: Terra
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