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Anhembi abre a folia em SP, sem 5 escolas tradicionais

Enredos viajam o mundo, da China ao Líbano, e fazem tributo ao negro e ao amor; não falta polêmica e até Jesus será citado

21 fev 2020 - 05h10
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SÃO PAULO - "Vamos ter uma mensagem de apoio ao povo chinês no fim do desfile da Unidos de Vila Maria." Segundo o carnavalesco Cristiano Bara, essa deve ser a única referência ao coronavírus durante o desfile da escola que vai homenagear a China.

A agremiação é a penúltima a entrar na avenida - já no segundo dia dos desfiles. Embora traga o enredo com o "gancho" mais conectado com o noticiário recente, O Sonho de um Povo Embala o Samba e Faz a Vila Sonhar foi definido e criado há mais de um ano. "A gente vai fazer um grande agradecimento pelas coisas boas que a China fez pela humanidade. Vamos falar das invenções e dos avanços tecnológicos daquele país", disse Bara. O diretor de Comunicação e Carnaval, Cassiano Franco Jr., ressaltou que o fato de a China ter construído um hospital em dez dias para combater a epidemia de coranavírus seria algo positivo que poderia ser mostrado. "Mas não tivemos tempo hábil. O carnaval já estava pronto." O desfile será uma parceria da escola com a fundação chinesa Ibrachina.

Mesmo evitando falar sobre o coronavírus, a escola não vai se furtar a apresentar outro ponto polêmico, o 5G. Um dos principais eventos econômicos previstos para 2020, o leilão do 5G no Brasil, já é palco de disputa tecnológica entre Estados Unidos e China. O presidente americano Donald Trump tem feito pessoalmente lobby para que uma empresa chinesa seja excluída das principais disputas no mundo.

A Vila Maria está entre as agremiações favoritas, em um ano em que cinco das escolas mais tradicionais da cidade estão no grupo de acesso. Além da Vai-Vai, rebaixada no ano passado, brigam pelo acesso Camisa Verde e Branco, Acadêmicos do Tucuruvi, Leandro de Itaquera e Nenê da Vila Matilde.

Mas, se a Vila canta a China, a Império de Casa Verde, a penúltima a desfilar no primeiro dia, vai para outro lado do mundo e aposta na história do Líbano. O desfile deve ter uma comitiva de mais de 150 libaneses e o grupo folclórico 1001 Noites. A escola anunciou a presença do cardiologista Roberto Kalil durante o desfile. O cantor Belo é outra personalidade confirmada. "Atenção no nosso abre-alas, ele é conceitual e diferente de tudo o que já foi feito. Vamos representar o Mar Mediterrâneo, a porta de entrada dos libaneses para o mundo", avisa o carnavalesco Flávio Campello.

Cultura e política

A Mocidade Alegre, que é a quarta agremiação a entrar na avenida no último dia, vai contar a história dos orixás femininos e o poder da mulher. Já a Barroca Zona Sul, que abre o carnaval de São Paulo, homenageará a líder quilombola Tereza de Benguela.

A Tom Maior falará da participação e da importância do negro na história do Brasil. Para defender o enredo É Coisa de Preto, a bateria fará um tributo ao humorista Mussum (1941-1994). A X-9, que fecha o primeiro dia, traz um passeio sobre batucadas de todas as regiões e religiões brasileiras.

Por falar em religião, a Mancha Verde, quarta escola do primeiro dia de desfiles, põe Jesus no sambódromo. No enredo Pai! Perdoai, eles não sabem o que fazem!, a agremiação compara o calvário ao sofrimento do povo.

Outras escolas que nasceram de torcidas organizadas trazem temas mais leves. A Dragões da Real, que também desfila no primeiro dia, falará do riso e do humor. Já a Gaviões da Fiel, que está no segundo dia de desfiles, se dedicará ao amor - aliás, a Gaviões tem como novidade a estreia do carnavalesco Paulo Barros no carnaval de São Paulo. Barros já venceu quatro títulos no carnaval carioca - defendendo a Portela e a Unidos da Tijuca. E quem sai novamente à frente da Bateria da Gaviões é a apresentadora Sabrina Sato, uma das atrações do Anhembi.

A Rosas de Ouro, escola que fechará o carnaval de São Paulo, vai apostar na tecnologia para emocionar a avenida. Com Tempos Modernos, a escola promete uma série de inovações. Com o uso de um aplicativo, quem estiver acompanhando a escola na avenida terá uma experiência de realidade aumentada e, por meio de um QR Code, poderá conferir um carro projetado unicamente para o mundo virtual.

Miscelânea

Os temas dos desfiles deste ano compõem um cardápio bastante variado. A Pérola Negra vai ganhar a avenida falando sobre os povos ciganos. Já a Acadêmicos do Tatuapé vai defender a história e a cultura da cidade de Atibaia, no interior de São Paulo. A Colorado do Brás vai contar a trajetória de Dom Sebastião, rei de Portugal. E a Águia de Ouro traz um enredo sobre a importância do saber na sociedade brasileira.

Veja a ordem dos desfiles do carnaval em São Paulo

  • Sexta, Grupo Especial

23h15 - Barroca Zona Sul

00h20 - Tom Maior

01h25 - Dragões da Real

02h30 - Mancha Verde

03h35 - Acadêmicos do Tatuapé

04h40 - Império de Casa Verde

05h45 - X-9 Paulistana

  • Sábado, Grupo Especial

22h30 - Pérola Negra

23h35 - Colorado do Brás

0h40 - Gaviões da Fiel

1h45 - Mocidade Alegre

2h50 - Águia de Ouro

3h55 - Unidos de Vila Maria

5h00 - Rosas de Ouro

  • Domingo, Acesso

21h - Independente Tricolor

22h - Estrela do Terceiro Milênio

23h - Nenê de Vila Matilde

0h - Leandro de Itaquera

1h - Mocidade Unida da Mooca

2h - Acadêmicos do Tucuruvi

3h - Camisa Verde e Branco

4h - Vai-Vai

Com crise e sem verba, a icônica Vai-Vai luta para se reerguer

Entre as oito escolas de samba que desfilam no domingo, no Grupo de Acesso 1, cinco delas estão entre as mais tradicionais do carnaval de São Paulo: Vai-Vai, Camisa Verde e Branco, Acadêmicos do Tucuruvi, Leandro de Itaquera e Nenê de Vila Matilde.

A Vai-Vai, a escola mais icônica do carnaval de São Paulo, foi rebaixada no ano passado e, em consequência, viveu uma revolução política no último ano. Atualmente, a escola é administrada por dois gestores e precisou se capitalizar com dinheiro da própria comunidade e de apoiadores. "Não temos um tostão de dinheiro público. O que era dinheiro público foi retido por questões trabalhistas", disse o gestor de carnaval Clariço Aparecido Gonçalves.

Segundo Clariço, com as dificuldades, a escola já irá se sentir vitoriosa em ter conseguido chegar à avenida. "Vai ser um desfile emocionante e pé no chão", avisou. O enredo da Vai-Vai foi batizado de De Corpo e Álamo - uma tentativa de erguer o orgulho dos componentes da agremiação.

A assessoria da Nenê da Vila Matilde afirmou que escolas tradicionais como ela precisam se adaptar e entender de regulamento - sem perder a força que a escola tem no chão. A expectativa também é voltar para o Grupo Especial, com O Presente da Deusa e o Brinde da Águia.

O diretor da Acadêmicos do Tucuruvi, Renato Cipriano, afirmou que a situação pode ser explicada pelas mudanças no próprio carnaval. "Está a cada ano mais competitivo. Atualmente poucos décimos são o suficiente para rebaixar uma escola. Aquelas que não estiverem preparadas para acompanhar esta evolução, ou até mesmo organizadas internamente, correm o risco de serem rebaixadas e permanecerem anos no Grupo de Acesso, independentemente da tradição que a agremiação possua."

A agremiação do Tucuruvi levará para o sambódromo do Anhembi uma homenagem ao saudoso humorista Chico Anysio, com Faces de Anysio, o eterno Chico. Sorrir é… e sempre será o melhor remédio.

Além das escolas mais tradicionais, também desfilam no domingo a Independente Tricolor, a Estrela do Terceiro Milênio e a Mocidade Unida da Mooca.

Programação para quem vai para os blocos

  • Sexta

>Ilú Obá De Min

Bloco afro, criado em 2004, só com mulheres na bateria (Praça da República. 19h).

>Emílias e Viscondes

Com marchinhas, é voltado ao público infantil (Praça Rotary, Vila Buarque. 14h).

  • Sábado

>Minhoqueens

Com nome que une os termos Minhocão e drag queen, o bloco reúne o público LGBTQ+ (Av. Ipiranga, nº 1.216, República. 14h).

>Tarado Ni Você

O grupo homenageia o cantor e compositor Caetano Veloso. Neste ano, o tema será Terra em Transe (Av. Ipiranga com Av. São João, centro. 10h).

  • Domingo

>Explode Coração

A cantora Maria Bethânia é homenageada pelo grupo. (Lgo. do Paiçandu, s/nº, centro. 12h)

>Saia de Chita

O repertório, variado, é voltado a músicas brasileiras de diferentes épocas. (Pça. Dr. Vicente Tramonte Garcia, s/nº, Lapa. 11h)

  • Segunda-feira

>Esfarrapado

Considerado um dos blocos de carnaval mais antigos de São Paulo (R. 13 de Maio, alt nº 518, Bela Vista. 10h).

>Domingo Ela não Vai

Para reviver os sucessos da axé music dos anos 1990, o bloco é uma boa opção. (Av. Ipiranga com Av. São João, centro. 12h)

Estadão
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