Amado ou execrado. Leonel Brizola nunca foi uma unanimidade. Passados 10 anos de sua morte, o político gaúcho ainda é motivo de debates fervorosos. Veja a seguir episódios mais marcantes de sua trajetória, as principais polêmicas e as frases célebres. Brizola, 10 anos CAPA Brizola, 10 anos - Uma década sem o velho caudilho Amado ou execrado. Leonel Brizola nunca foi uma unanimidade. Passados 10 anos de sua morte, o político gaúcho ainda é motivo de debates fervorosos. Foi um dos protagonistas da campanha da Legalidade, governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, um dos fundadores do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), com Getúlio Vargas e, mais tarde, fundador do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Tentou por duas vezes ser presidente da Repúblicas sem sucesso. Foi um homem de extremos. O velho caudilho se tornou líder da esquerda brasileira, lutou pelas Diretas, mas apoiou o governo de Fernando Collor de Melo. Foi um dos maiores rivais de Lula, mas se tornou aliado posteriormente. Veja a seguir episódios mais marcantes de sua trajetória, as principais polêmicas e as frases célebres. Imagem: Brizola_capa Crédito: reprodução HISTÓRIA A infância e juventude Brizola nasceu em Cruzinha, zona rural de Carazinho, no interior do Rio Grande do Sul, no dia 22 de janeiro de 1922. Era o caçula dos cinco filhos de Oniva Albuquerque de Moura Brizola e José Oliveira Brizola. O pai lutou na Revolução de 1923 ao lado dos federalistas (Maragatos) e foi morto após a paz estar selada. O filho mais novo, com apenas dois anos de idade, viu o corpo do pai chegar sem vida, no lombo de um cavalo. A personalidade forte era evidente já na infância: Brizola escolheu o próprio nome. O menino, que nasceu Itagiba virou Leonel, uma referência a Leonel da Rocha, comandante maragato de quem sempre ouvia falar. Assim escolheu o nome com o qual foi registrado aos quatro anos. De família pobre, foi alfabetizado pela mãe. Como os irmãos tiveram poucas possibilidades de estudo, a matriarca insistiu para que o mais jovem estudasse. Terminado o primário, o jovem Leonel morou um ano com um casal protestante. Mais tarde, com uma passagem doada pela prefeitura, Brizola foi a Porto Alegre. Estudou no Instituto Agrícola de Viamão. Trabalhou como engraxate, foi ascensorista. Cursou o científico no Colégio Júlio de Castilhos, onde fundou o grêmio estudantil. Imagem: revolucao23_rep Crédito: Reprodução Getúlio e a política Aos 23 anos, ingressou na faculdade de Engenharia Civil, curso que concluiria em 1949, já como deputado estadual. Durante o movimento Queremista, que pedia Getúlio na presidência, Brizola conheceu o trabalhismo e ajudou a fundar o núcleo gaúcho do PTB. Foi eleito presidente da ala moça do partido. Também militante trabalhista, Sereno Chaise dividia um quarto de pensão com Brizola e lembra do amigo como "muito organizado e metódico". "Eu o ajudava a estudar. Íamos em festas, ele teve algumas namoradas, mas isso acabou quando conheceu a Neusa.” Em 1947, Neusa, irmã do amigo e também deputado João Goulart, conheceu o futuro marido em uma reunião para escolher o novo presidente da juventude petebista, já que Brizola havia sido eleito deputado estadual. Brizola e Neusa casaram-se em 1950 e tiveram três filhos: José Vicente, João Otávio e Neusa Maria. Padrinho do casamento, Getúlio Vargas foi eleito presidente no mesmo ano. No ano seguinte, Brizola perdeu a eleição municipal de Porto Alegre para lldo Meneghetti. Em 1952, assumiu a Secretaria de Obras do governador Ernesto Dornelles. Dois anos mais tarde, foi eleito deputado federal, cargo que deixaria para ser eleito prefeito de Porto Alegre em 1955. Já em 1956, deixou a prefeitura e foi eleito governador do Estado do Rio Grande do Sul, com 55% dos votos. Como governador, Brizola estatizou bancos, energia e telefonia. Seu governo criou um plano educacional, construindo seis mil escolas, apelidadas de Brizoletas. Brizola foi pioneiro na reforma agrária. Auxiliou na criação do Master (Movimento dos Agricultores Sem Terra). Organizou o grupo em um acampamento, com sete mil pessoas. A Fazenda Sarandi, de 25 mil hectares, no município de Sarandi, foi desapropriada e as famílias reassentadas. No dia 8 de agosto de 1961, Brizola participou de delegação brasileira da Conferência da Organização dos Estados Americanos, em Punta del Este, no Uruguai. Na assembleia, os EUA apresentaram a proposta da Aliança para o Progresso, programa que previa ajuda dos EUA aos países latino-americanos. O representante de Cuba, Ernesto Che Guevara, definiu o projeto como um "programa para construir latrinas". Brizola foi um dos poucos a aplaudir o guerrilheiro, o que não agradou o chefe da delegação brasileira, o Ministro da Fazenda, Clemente Mariane, da UDN. Após uma reunião fechada com Che, o governador do Rio Grande do Sul decidiu abandonar a delegação. O jornalista Flávio Tavares, que cobria o evento, lembra o que ouviu de Brizola “vou embora, Flávio, por que esta não é uma reunião dos povos da América Latina, é uma reunião das oligarquias da América Latina”. Imagem: getulio_briza_rep (Cortar as inscrições que tem na foto) Crédito: Reprodução A legalidade e o Golpe de 1964 No dia 25 de agosto de 1964, Jânio Quadros renunciou à presidência. Diante da tentativa de impedir a posse do vice, João Goulart, Brizola organizou a resistência ao golpe, no movimento que ficou conhecido como Campanha da Legalidade. Embalado pela popularidade adquirida com a Legalidade, Brizola foi eleito deputado federal com 269 mil votos pelo Estado da Guanabara, em 1962. Jango prometeu reformas de base, como a reforma agrária, o que assustou os setores mais conservadores do país. A situação política do Brasil se polarizava. Para as eleições de 1965, muitos defendiam que Brizola representava a continuidade do governo do cunhado. Mas como a lei eleitoral não previa reeleição e proibia a candidatura de parentes do presidente, partidários do ex-governador lançaram a campanha “cunhado não é parente, Brizola presidente”. Mas as eleições de 1965 não aconteceram. No dia 31 de março, as tropas do general Olímpio Mourão Filho partiram de Juiz de Fora em direção ao Rio de Janeiro, onde encontrariam outras tropas golpistas para derrubar o presidente João Goulart. Brizola quis resistir. O presidente preferiu evitar o confronto. Sereno Chaise, então prefeito de Porto Alegre cassado pelo governo militar, lembra que, muito tempo depois, o presidente deposto lhe disse, “se resistíssemos, talvez tivéssemos vencido, mas o Brasil seria da Bahia para baixo.” O Coronel Emílio Neme, subchefe da Casa Militar da Brigada Militar no período da Legalidade, lembra que o ex-governador do Rio Grande do Sul não queria deixar o País: “Ele ia ser preso e iria desaparecer. Ele não queria, mas ele tinha que sair, então o Ajadil de Lemos (amigo de Brizola) convenceu ele a ir para o Uruguai. Eles queriam matar o Brizola, o Jango, todo mundo.” Imagem: brizola1_museu da comunicacao hipolito jose da costa Crédito: Reprodução O exílio Neusa Goulart e os filhos foram para Montevidéu primeiro. Brizola foi disfarçado até Cidreira, no litoral gaúcho, onde embarcou em um avião para o mesmo destino da família. Após alguns meses na capital uruguaia, por pressão do governo brasileiro, o político é obrigado a sair da cidade, indo morar no pequeno balneário de Atlântida, a 45 quilômetros da Montevidéu. A esposa e os filhos permanecem na capital até o fim do ano escolar. No Uruguai, Brizola participou do Movimento Nacionalista Revolucionário, que planejava resistir ao golpe através da luta armada. O MNR tentou organizar focos de guerrilha em diversas regiões. O jornalista Flávio Tavares foi o responsável por organizar politicamente o grupo norte de Goiás. Ele lembra dos riscos que corriam: “muita coisa estava em jogo, não era apenas um devaneio, a vida de todos os participantes estava em jogo.” Por questões de segurança, usavam codinomes, Tavares era Félix, Brizola mudava de nome de acordo com o mês: foi Júlio, Agostinho, Setembrino, mas entre os aliados era citado como Pedrinho. Com a derrota da guerrilha na Serra da Caparaó, no Rio, o político gaúcho abandona a luta armada. Em setembro de 1977, Brizola é expulso do Uruguai. Com os países vizinhos governados por ditaduras e sem passaporte, o gaúcho recebe asilo dos Estados Unidos e embarca com a família para Nova York. Pouco tempo depois, o primeiro-ministro português, Mário Soares, concede o visto ao brasileiro, que embarca para Lisboa. Em Portugal, acompanhando a pressão por uma abertura política no Brasil, Brizola começa a planejar a estruturação de um partido. Então, com o apoio da Internacional Socialista, foi realizado em Lisboa o Encontro dos Trabalhistas Exilados e Trabalhistas no Brasil. Os participantes escrevem a Carta de Lisboa, que seria o documento da refundação do PTB. Imagem: Exilio_brizola_rep Crédito: Reprodução A volta ao Brasil e o PDT Com a Lei da Anistia, em 1979, Brizola voltou para o Brasil. A deputada estadual Juliana Brizola, neta do ex-governador, lembra quando o avô chegou a Porto Alegre: "no aeroporto, estava um tumulto. Eu era pequena, tinha quatro anos, fiquei até com medo. Me colocaram no colo dele, mas naquela época não tínhamos muito contato”. Com a abertura política, os signatários da Carta de Lisboa tentam refundar o PTB, mas esbarram em uma disputa com o grupo liderado pela ex-deputada federal Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio. Em 1980, o TSE concede a sigla para Ivete Vargas. O partido agora passou a contar com personalidades como Jânio Quadros e Sandra Cavalcanti, que havia sido secretária de Carlos Lacerda. Os correligionários de Brizola acusam o general Golbery do Couto e Silva de tramar a cessão da sigla ao outro grupo para enfraquecer o ex-governador gaúcho. Como resposta, Brizola funda então o Partido Democrático Trabalhista. Imagem: PTB_rep Crédito: Reprodução O Rio de Janeiro Eleito governador do Rio de Janeiro em 1982, Brizola cria, em parceria com o vice, Darcy Ribeiro, os Centros integrados de Educação Pública (CIEPs). Apelidadas de Brizolões, as escolas de turno integral ofereciam três refeições por dia para os alunos. Em 1984, Brizola inaugura o Sambódromo da Marquês de Sapucaí. Além do uso durante o Carnaval, durante o resto do ano, a estrutura passou a ser utilizada como escola. Os CIEPs e o sambódromo contaram com projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer. Brizola sofreu muitas críticas em relação à questão da segurança pública. Os opositores acusavam o governo fluminense de não combater a violência. Nas eleições de 1986, o candidato do PDT à sucessão do governo, Darcy Ribeiro, foi derrotado pelo oposicionista Moreira Franco. Em 1984, com o PT, a esquerda do PMDB, e diversas personalidades da cultura brasileira, Brizola participou ativamente da campanha das Diretas, que buscava eleições diretas para presidente do Brasil. Mas as eleições diretas só aconteceriam em 1989. Brizola foi candidato mas, por meio ponto percentual, 453 mil votos, perdeu para Lula a vaga no segundo turno contra Fernando Collor. Fora da disputa, o ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul apoiou o candidato petista. Com o apoio de Brizola, Lula venceu as eleições nos dois estados, mas não foi o suficiente para derrotar o adversário na disputa pela presidência. No ano seguinte, Brizola novamente foi eleito governador do Rio de Janeiro. Em seu segundo mandato, construiu a Linha Vermelha, que liga a Baixada Fluminense ao Centro do Rio. Brizola novamente investiu nos CIEPs, terminando o governo com 506 em funcionamento. Novamente a oposição critica o seu desempenho na gestão de segurança pública. Outra crítica dura é em relação à proximidade entre Brizola e o presidente Fernando Collor. Os defensores do pedetista argumentam que a relação entre os dois era apenas institucional entre um governador e um presidente. Imagem: briza_oscar_rep Crédito: Reprodução Facebook Os últimos anos Os últimos anos de vida marcaram perdas na vida política e pessoal de Brizola. No dia 7 de abril de 1993, no Rio de Janeiro, morreu a mulher, Neusa. Um ano depois, Brizola se candidatou novamente à presidência do Brasil, mas encontrou um Fernando Henrique Cardoso embalado pelo sucesso do Plano Real e perdeu no primeiro turno. Em 1998, Brizola e Lula saíram juntos em uma chapa encabeçada pelo petista. Novamente o vencedor foi FHC. Brizola amargaria mais derrotas políticas: na eleição para a prefeitura do Rio de Janeiro em 2000 e para o Senado em 2002. Após a coligação com o PPS no primeiro turno, o PDT apoia Lula no segundo turno contra Serra. Já no primeiro ano do novo governo, o partido deixa a base aliada. No dia 21 de junho de 2004, no Hospital São Lucas, em Copacabana, Brizola morreu, vítima de um ataque cardíaco. O político se queixava de gripe desde que voltara do Uruguai na semana anterior. No dia de seu falecimento, foi levado ao hospital com vômito e diarreia. Mais tarde sentiu dores no peito e foi submetido a exames quando sofreu um infarto agudo do miocárdio. Brizola foi velado no Palácio da Guanabara, no Rio de Janeiro, dia 22 e no Palácio Piratini, em Porto Alegre, no dia 23. Foi sepultado em São Borja, no mesmo local de Neusa Goulart e dos amigos e ex-presidentes João Goulart e Getúlio Vargas. O ex-presidente Lula foi vaiado na cerimônia no Rio de Janeiro. Dilma Rousseff, então ministra de Minas e Energia, lamentou a perda e disse, à época, que a vida política de Brizola é "indissociável da história do Brasil". Imagem: brizola_fim Crédito: reprodução Facebook LEGALIDADE Jânio renuncia No dia 25 de agosto de 1961, Brizola estava nas comemorações do Dia do Soldado, quando recebeu a informação da renúncia do presidente Jânio Quadros. O então governador do Rio Grande do Sul deixou a solenidade e foi ao escritório da Caixa Econômica Estadual, no centro de Porto Alegre. Tentou ligar para Jânio, mas conseguiu apenas conversar com o assessor de imprensa do presidente, Carlos Castelo Branco. Brizola, acreditando que um golpe estava em andamento, ofereceu ajuda. Convidou Jânio para ir ao Rio Grande do Sul e organizar uma resistência. Castelo Branco disse que passaria a informação ao presidente e retornaria a ligação. Enquanto aguardava um retorno, o gaúcho mobilizava o secretariado para medidas de emergência. Na manhã seguinte, soube que Jânio viajaria para a Europa e que os ministros militares não estariam dispostos a empossar o vice-presidente, João Goulart, que estava em viagem à China. Imagem: 03_golpe Crédito: Reprodução Cadeia da Legalidade Brizola ligou para os comandantes militares de cada região, buscando, sem sucesso, apoio para a posse do Jango. Quando falou com o comandante do 4º Exército (Pernambuco), general Costa e Silva, recebeu a ordem de não ligar novamente; o governador respondeu chamando o militar de golpista. O ex-ministro marechal Teixeira Lott, candidato derrotado por Jânio nas eleições presidenciais, divulgou um manifesto apoiando a posse do vice-presidente. As rádios gaúchas que transmitiram o manifesto foram fechadas. Em Porto Alegre, a única emissora que permaneceu aberta foi a Guaíba, que não havia divulgado a carta de Lott. No dia 27, Brizola requisitou os equipamentos da rádio que foram levados ao porão do Palácio Piratini, também ordenou à Brigada Militar, que guardava o Palácio, que protegesse também a antena da rádio, localizada na Ilha da Pintada, em Porto Alegre. O governador, que tinha um programa na rádio Farroupilha, começou então a transmitir os discursos de defesa da Constituição, chamando a população a aderir à campanha da legalidade. A rádio começou a ser retransmitida, chegando a abranger 200 outras emissoras, formado a Cadeia da Legalidade. “fiquei todos os dias no Palácio Piratini, comia lá, dormia lá. Dormia quando podia, os primeiros quatro dias eu quase não dormi. Eles mandaram dois jipes fazer um ataque de observação, mas o povo paralisou os jipes na Rua Fernando Machado (atrás do Palácio Piratini). Mas nós ficamos aguardando, todos armados, civis e militares”, recorda o jornalista Flávio Tavares. Imagem: 016_brizola_porao Crédito: Reprodução Tensão no RS Tomando conhecimento do que acontecia no Rio Grande do Sul, o Ministério da Guerra ordenou que a Base Aérea de Canoas atacasse a sede do governo do Estado. Às 11h, do dia 28, Brizola denunciou a ordem de ataque, orientando que as crianças fossem levadas para fora da cidade e novamente chamou a população à luta. O coronel Emilio Neme, que era major e subchefe da Casa Militar da Brigada Militar na época, lembra hoje, aos 88 anos, que o governador se recusava a sair do Palácio. “Eu encontrei uma sala escavada, pronta para sair e ir em direção ao porto, havia um barco esperando por ele, que não quis sair.” Em Canoas, sargentos furaram pneus de aviões e atravessaram caminhões na pista de pouso e decolagem, impedindo o bombardeio. O comandante do 3º Exército (Região Sul), general Machado Lopes, foi ao Palácio Piratini e manifestou apoio à posse de Jango. No dia 30, tropas do marechal Odylio Denys marchavam para o Sul. Aproximadamente 40 mil pessoas lotavam a Praça da Matriz, em frente à sede do governo gaúcho, para manifestar apoio à Legalidade. Para Sereno Chaise, prefeito de Porto Alegre na época, é fácil entender o apoio popular. “O vice-presidente era eleito em votação separada. Jango foi eleito pelo povo. Que direito os militares tinham de dizer que ele não poderia assumir?”, questiona ainda hoje. Imagem: 016_brizola_metralhadora Crédito: Reprodução Jango aceita parlamentarismo O Congresso criou uma comissão para a instituição do regime parlamentarista e pela posse de João Goulart. No dia seguinte, o marechal Machado Lopes, destituído do comando do 3º Exército, declarou que não obedeceria mais as ordens de Brasília. Quando Jango chegou a Montevidéu, recebeu Tancredo Neves e aceitou a proposta da emenda parlamentarista. Na noite do dia 1º de setembro, Jango chegou a Porto Alegre; Brizola esperava que o cunhado fizesse um discurso para a população que permanecia em frente ao Piratini. João Goulart, então, revelou a emenda parlamentarista, mal recebida pelo governador que, no dia seguinte, denunciou a proposta como um golpe. O Congresso aprovou o parlamentarismo e a realização de um plebiscito que decidiria entre a manutenção do novo regime ou o retorno ao presidencialismo. A votação estava prevista para 1965, mas acabou sendo antecipada para janeiro de 1963. Brizola, que entendia o parlamentarismo como um golpe, reforçou a campanha pelo plebiscito e não compareceu à posse do cunhado. No dia 7 de setembro, João Goulart foi empossado presidente, dando fim à Campanha da Legalidade. Imagem: briza_jango_rep (Fazer o recorte e tirar a frases da foto) Crédito: Reprodução POLÊMICAS Neusinha Brizola Dos três filhos de Brizola, Neusa Maria Goulart Brizola, a Neusinha, foi a que mais deu dor de cabeça ao pai. Morta em 2011, vítima de complicações de hepatite, sua vida tumultuada por uso excessivo de drogas foi muito noticiada, o que acabou envolvendo o nome Brizola em situações difíceis. Entre os episódios polêmicos está a vez em que, em 1987, Neusinha fez um ensaio fotográfico para a revista Playboy. Quando soube, Brizola entrou com uma ação judicial para impedir a circulação da revista. A alegação era que a publicação iria constranger e causar transtornos psicológicos aos filhos de Neusinha. O político conseguiu evitar que a revista fosse às bancas. Outra vez, após uma desavença com o pai, Neusinha concedeu uma entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo, em que afirmou: “Meu pai não sabe nem administrar a família, quem dirá um país”. Para o jornalista Lucas Nobre, que participou da elaboração da biografia Neusinha Brizola – Sem Mintchura, lançada em 2014, o exílio de Brizola foi um divisor de águas na vida de todos da família. Esse seria o principal motivo para o seu envolvimento com as drogas e a sua vida turbulenta. “O que ficou na memória coletiva foram as brigas, por causa da cobertura da mídia, mas a relação deles não era só isso. Bem pelo contrário, Neusinha era muito apegada ao pai, principalmente na infância”, conta Lucas. Imagem: neusinha_rep Crédito: Crédito PTB versus PDT Em 1979, Leonel Brizola e outros exilados articulavam com políticos brasileiros a reorganização do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que havia sido extinto em 1965. Porém, a legenda foi cedida para Ivete Vargas, sobrinha do ex-presidente Getúlio Vargas, numa decisão da Justiça Eleitoral. Brizola e seus companheiros acusaram o general Golbery do Couto e Silva, então chefe da Casa Civil no governo de João Baptista Figueiredo, de ser o responsável pela perda da sigla. "Uma sórdida manobra governamental conseguiu usurpar a nossa sigla para entregá-la a um pequeno grupo de subservientes ao poder... O objetivo dessa trama é impedir a formação de um partido popular e converter o PTB em instrumento de engodo para as classes trabalhadoras”, declarou Brizola, na época. Após isso, Leonel Brizola fundou o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Imagem: brizola.chora_1 Crédito: reprodução Caso Proconsult Leonel Brizola e Roberto Marinho, fundador da Rede Globo, tiveram um longo histórico de alfinetadas. O caso Proconsult foi um dos mais marcantes na briga entre o político e a emissora. Em 1982, Leonel Brizola era candidato a governador do Rio de Janeiro nas primeiras eleições diretas após o regime militar. Naquele ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu informatizar a fase final da apuração. Na maioria dos Estados, a empresa estatal Serpro foi contratada para realizar o processamento eletrônico dos dados. No entanto, no Rio de Janeiro, a responsável pelo trabalho foi a Proconsult. A votação ocorreu no dia 15 de novembro. O problema foi que a apuração dos votos pela Proconsult fez com que o resultado no Rio de Janeiro demorasse muito mais do que o dos outros Estados. O jornal O Globo fez uma apuração particular a fim de dar resultados com rapidez, mas acabou surtindo efeito contrário. Além disso, as notícias do jornal O Globo sobre a grande quantidade de votos ao também candidato a governador, Moreira Franco, abalaram Brizola. A emissora explica que os números divulgados eram sobretudo do interior, onde Moreira era favorito. Se sentindo prejudicado, Brizola convocou uma coletiva de imprensa, no dia 18, para denunciar o boicote à sua candidatura. A Globo também deu espaço a Brizola e o entrevistou no programa Show das Eleições. No dia 27 de novembro, o TRE pediu abertura de inquérito na Polícia Federal e aprovou uma auditoria técnica na Proconsult. Em 4 de dezembro, a auditoria da Serpro entregou o seu relatório ao TRE, apontando erros de procedimento da Proconsult e mostrando que a totalização de votos tinha sido mal planejada. Depois das medidas corretivas, finalmente, no dia 13 de dezembro, o TRE divulgou o resultado final das eleições no Rio: Leonel Brizola venceu com 1.709.264 votos (34,2%) contra 1.530.728 (30,6%) de Moreira Franco. Para o atual presidente do PDT, Carlos Lupi, Brizola estava certo nas suspeitas de que havia uma manipulação para impedir a sua candidatura. “Havia um esquema muito forte para impedir que o Brizola chegasse ao governo. Roberto Marinho não queria a eleição do Brizola”, disse. Imagem: Briza_Marinho_rep Crédito: Reprodução Facebook Outras brigas com a Globo Outra briga com a Globo envolveu o carnaval do Rio. Em 1984, Brizola, então governador do Rio de Janeiro, concedeu à TV Manchete o direito de transmitir o primeiro desfile de carnaval no Sambódromo. A medida atingiu diretamente a TV Globo, que perdeu audiência no período, e foi uma reação às críticas que a emissora de Marinho fez ao governo de Brizola no período de construção da Passarela do Samba. Brizola sempre deixou claro seu descontentamento com a emissora. Sobre o diário O Globo, afirmou em uma entrevista que o jornal “ajudou a implantar a ditadura. Manteve a ditadura. Foi à sombra da ditadura que esse jornal se tornou o centro de um império de comunicação: as Organizações Globo”. O auge das polêmicas entre Brizola e Roberto Marinho foi em 1994, quando o político conseguiu, por meio da Justiça, que Cid Moreira, apresentador do Jornal Nacional, lesse uma carta sua no programa do dia 15 de março. O documento era o direito de resposta em relação a um editorial da emissora que havia chamado Brizola de "senil". No texto, o político declara: “Todos sabem que critico, há muito tempo, a TV Globo, seu poder imperial e suas manipulações. Mas a ira da Globo, que se manifestou ontem, não tem nenhuma relação com posições éticas ou de princípio. É apenas o temor de perder negócio bilionário que, para ela, representa a transmissão do carnaval. Dinheiro, acima de tudo”. O site em memória a Roberto Marinho afirma que os dois se reconciliaram em 2002 e que, no velório do fundador da Rede Globo, Brizola teria dito: “Divergimos, sim. Para que o Brasil pudesse ser como nós sonhávamos”. Para o jornalista Carlos Bastos, brizolista e militante pelo PDT, a reconciliação nunca aconteceu. “Não é possível porque eles estavam em campos opostos”, opina. Imagem: GLOBO Crédito: reprodução O apoio a Collor Após disputarem a presidência da República, a aproximação entre Leonel Brizola e Fernando Collor em 1991 surpreendeu a todos. Inspirado nos Centros Integrados de Educação Pública (CIEP) e na educação em tempo integral idealizada por Brizola, então governador do Rio de Janeiro, o presidente Collor lançou um programa federal para construir cinco mil escolas integrais, os Centros Integrados de Assistência às Crianças (CIAC). Em 1992, após boatos sobre a união com Collor, Brizola provocou desconforto no PDT por demorar a apoiar a campanha de impeachment do presidente Collor que mobilizava o País. Pressionado, ele concordou em fazer um comício, mas fez questão de colocar nas faixas que a luta não era só contra Collor, mas também contra a corrupção de modo geral. Para o atual presidente do PDT, Carlos Lupi, Brizola concordava com algumas iniciativas de Collor. “Collor quebrou algumas oligarquias e investiu na Educação. E para o Brizola, o mais importante era o investimento em Educação”, afirma Lupi. O jornalista Carlos Bastos também acredita no apoio, mas por um outro motivo: “Ele tinha o sonho de também chegar à presidência da República e achava que fariam uma campanha idêntica contra ele, Brizola, caso chegasse ao Palácio do Planalto. Mas a posição de Brizola, contrariando a maioria esmagadora da opinião pública, foi fatal para o seu projeto político futuro.” Já o jornalista Flávio Tavares acredita que Brizola não apoiou Collor e que a relação dos dois foi totalmente "institucional". Imagem: briza_collor_agbr Crédito: Agência Brasil PDT x PT “Esta é a parte triste da história, prefiro não falar”, diz Sereno Chaise, companheiro de longa data de Brizola, quando perguntado sobre a saída de importantes personalidades do PDT para o PT, no início dos anos 2000. Entre eles estavam o próprio Chaise, Dilma Rousseff e o filho mais velho de Leonel Brizola, José Vicente Goulart Brizola. Carlos Araújo, fundador do PDT no Rio Grande do Sul, também deixou o partido na época, mas ficou ausente da política e voltou a se filiar ao PDT neste ano. “O partido se ressentiu, pois se tratava de lideranças de primeira linha. Não houve prejuízo eleitoral, contudo. O PDT gaúcho continuou do mesmo tamanho pela força da liderança de Brizola, consequência de seu governo no Rio Grande”, afirma o jornalista Carlos Bastos. Leonel Brizola Neto comenta a ruptura política de seu pai, José Vicente Brizola, com o seu avô: “Eu e meus irmãos entendemos que a ida para o PT foi um erro político do pai”. Imagem: lula_brizola Crédito: reprodução FRASES Relembre frases marcantes de Brizola Com personalidade forte, Leonel Brizola não deixava uma pergunta sem resposta. Muitas de suas frases marcaram a história política do Brasil e são lembradas até hoje. Confira algumas: “Serei como um cavalo inglês: só vou morrer na cancha” Declaração aos que sugeriram que ele abandonasse a política depois da derrota eleitoral em 1998, quando concorreu como vice-presidente da República na chapa de Lula (PT). "Cá para nós. Um político de antigamente, o senador Pinheiro Machado, dizia que a política é a arte de engolir sapo. Não seria fascinante fazer agora a elite brasileira engolir o Lula, sapo barbudo?" Sobre apoio a Lula no segundo turno das eleições presidenciais de 1989. "Vamos fazer uma coisa: eu leio os seus (livros) e você lê o meu.” Em 1986, para o economista Roberto Mangabeira Unge, ao entregar uma obra que reunia os ideais de Júlio de Castilhos. "Deixem que pensem que sou um cachorro morto. Sou de uma geração que durará 110 anos. Nos últimos 10, vou descansar, mas até os 100 anos estarei aí, andando para a frente, feliz com a vida". Em 2002, após perder a candidatura ao Senado. “Filhote da ditadura!” Em debate com Paulo Maluf em 1989. Na época, os dois concorriam à presidência da República. “Subversivo, general, é quem decide dar golpe de Estado.” Em um diálogo com Costa e Silva, em 1964, buscando apoio para a Legalidade. “Não há desavenças. Nós pensamos diferentes. O Lula é a espuma da história. Ele não teve a oportunidade ainda de entrar em águas mais profundas.” Em resposta ao jornalista José Carlos Kupfer no programa Roda Viva, em 1994, sobre desavenças com Lula. mais especiais de notícias