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Política

A encruzilhada do PSDB em 2018

Lava Jato minou boa parte do capital político da sigla, que tenta voltar ao poder após 16 anos e quatro eleições

19 mar 2018 - 13h14
(atualizado às 16h55)
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Na tentativa de voltar ao poder há 16 anos e há quatro eleições presidenciais desde 2002, sempre numa disputa antagônica com o PT, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, chega à disputa eleitoral deste ano com tantos percalços quanto os enfrentados por seus opositores do campo da esquerda. A Operação Lava Jato dilapidou boa parte do capital político da legenda, assim como da maioria dos partidos políticos brasileiros.

Presidente do PSDB, governador Geraldo Alckmin, anuncia que quem votar contra  a reforma não será punido  (Arquivo/Agência Brasil)
Presidente do PSDB, governador Geraldo Alckmin, anuncia que quem votar contra a reforma não será punido (Arquivo/Agência Brasil)
Foto: Agência Brasil

Se em 2014 o senador Aécio Neves (PSDB-MG) conquistou o voto de quase 51 milhões de brasileiros, no melhor resultado obtido pelos tucanos desde a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2002, agora em 2018 o mineiro talvez nem ouse se candidatar para o Senado, por temer a derrota, e estuda uma candidatura a deputado federal por Minas Gerais.

O nome do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi o escolhido para o pleito de outubro sem que nenhum outro postulante do partido se apresentasse para a disputa nas prévias partidárias. Porém, a tímida colocação do tucano nas pesquisas de intenção de voto até o momento provoca receio interno, pois isso ocorre apesar de o governador ser um rosto bastante conhecido entre o eleitorado e de ter baixa rejeição (26%).

Alckmin disputou a Presidência em 2006 e é conhecido por 85% da população, de acordo com sondagens feitas pelo instituto Datafolha. Em estimativas do mesmo instituto, de janeiro deste ano, Alckmin atinge 11% das intenções de voto em seu melhor desempenho, isso sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa.

O governador deixará o cargo em abril, e a expectativa dos correligionários é que a partir de então ele consiga se projetar nacionalmente, viajando pelo país. A justificativa formal do PSDB para Alckmin empolgar tão pouco o eleitor brasileiro é o fato de o governador, ciente das regras eleitorais, não fazer campanha antecipada até a data da desincompatibilização, a exigência legal para que deixe o comando de São Paulo para disputar o cargo de presidente.

Para o tesoureiro nacional do PSDB, o deputado federal Sílvio Torres, um dos principais aliados de Alckmin, o cenário da eleição deste ano é totalmente peculiar. Além da Lava Jato, pondera ele, o Brasil viveu um impeachment presidencial em 2016 e o atual governo de Michel Temer (PMDB) é um dos mais impopulares desde a redemocratização.

Torres enfatiza que, segundo as últimas pesquisas eleitorais, mais de 60% dos brasileiros manifestaram o interesse de anular o voto ou se recusam a escolher um candidato no momento. "Há um claro afastamento do eleitor da vontade de votar, com tudo isso. Olhando as pesquisas agora, é clara a impressão de que o quadro atual não será o quadro real de setembro. O PSDB sofre os efeitos de tudo isso, como todos os partidos", admite Torres.

"Alckmin é uma candidatura consolidada no PSDB, que adquiriu a unanimidade no partido. Ele não fez, até agora, nenhuma ação de caráter eleitoral. O governador é um legalista, respeitador das leis. Ele não está autorizado a fazer isso, até que deixe o governo de São Paulo, em 7 de abril", afirmou o líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC).

Para os tucanos, o estilo sereno e conciliador de Alckmin vai assegurar a participação do partido no segundo turno da eleição presidencial. Em entrevista à Folha de S.Paulo publicada nesta segunda-feira, Alckmin incorpora a ideia de um candidato de centro, fugindo de radicalismos e polarizações com o PT.

"O povo está meio cansado dessa brigalhada política", declarou o pré-candidato à Presidência. O governador, porém, não passa incólume à Lava Jato. O nome de Alckmin aparece numa delação premiada de um ex-executivo da empreiteira Odebrecht, que diz ter repassado R$ 2 milhões para campanha do tucano em 2010, por caixa dois, numa negociação com o cunhado dele, o ex-banqueiro Adhemar Ribeiro. Alckmin é alvo de um pedido de inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O governador considera a delação e a acusação uma "aleivosia".

Obstáculos

Além da estagnação de Alckmin nas pesquisas e de possíveis complicações da Lava Jato, o PSDB vai enfrentar outras situações adversas, diferentes dos pleitos anteriores. Até o momento, o DEM, aliado tradicional do partido, que fez parte dos governos Fernando Henrique - o antigo PFL -, lançou uma candidatura própria, a do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (RJ). Os tucanos preferem acreditar que, mais adiante, o DEM vai recuar e deve se unir à chapa do PSDB. Os políticos do DEM, por ora, rechaçam a ideia. O presidente nacional da sigla, o prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto, afirma que o PSDB não é um partido inimigo, mas que não há hipótese de se discutir uma aliança neste momento.

Outra encrenca é uma possível candidatura do MDB, o antigo PMDB, que mudou recentemente o nome. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, era apontado como uma possibilidade de candidatura. Meirelles hoje está no PSD, mas sua migração para o MDB é incerta. A questão crucial, para os tucanos, é que candidaturas de centro-direita podem fragmentar o eleitorado tradicional do PSDB. O senador Álvaro Dias, do Podemos, será candidato a presidente. Ex-tucano, do Paraná, Dias tem boa popularidade em seu estado. A região Sul do Brasil é tradicionalmente um reduto de votos aos tucanos, o que poderá ser abalado neste pleito. "Em 2006, Alckmin fez 65% dos votos em Santa Catarina. Fará de novo", afirmou o senador Bauer, do estado.

A esperança do PSDB é que ainda seja possível, dentro de três meses, atrair o DEM e o MDB para o entorno de Alckmin. "Acho que haverá uma decantação natural", afirmou Sílvio Torres. Mesmo sem o DEM, o PSDB diz que já está formada uma aliança eleitoral forte que lhe garantirá um quarto do tempo de televisão para propaganda. "É um patamar seguro", enfatiza o tesoureiro.

"Não tenho dúvida de que o Geraldo vai atrair o DEM", afirmou José Aníbal, ex-presidente do Instituto Teotônio Vilela, uma espécie de "think-tank" do PSDB.

Já qualquer aproximação formal com o MDB de Michel Temer é uma incógnita, em especial porque Geraldo Alckmin foi um dos políticos do PSDB que se manifestaram contra a participação do partido no atual governo.

O efeito Minas Gerais

Em 2014, no segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), os tucanos chegaram a considerar a vitória, sobretudo porque acreditavam que o mineiro conseguiria uma vitória por ampla margem sobre a petista em Minas Gerais. A previsão não se confirmou, e a ex-presidente bateu o senador no estado que ele já havia governado. Entre as análises sobre as causas da derrota de 2014, está a votação em Minas, um estado com mais de 15 milhões de eleitores aptos a votar.

O desespero dos tucanos, neste ano, é com o imenso desgaste político de Aécio Neves no estado. Aécio é citado na Lava Jato, quase perdeu o mandato de senador. Foi flagrado num grampo feito pelo empresário Joesley Batista, da JBS, em que aparece pedindo a ele R$ 2 milhões. Como defesa, o PSDB e o senador dizem que ele nunca pediu e tampouco usou dinheiro público. Não se tratava de propina, rechaçam, mas de um pedido pessoal a quem Aécio considerava ser um amigo. O dinheiro seria usado para pagamento de advogados com a defesa de Aécio.

O problema é que, na gravação, além do pedido de dinheiro o senador mineiro fala com desdém das instituições, demonstrando possibilidade de ingerência política na Polícia Federal e no Judiciário, e uma grande articulação política no Congresso para aprovar projetos que dessem anistia aos políticos acusados de caixa dois, pagamentos irregulares e ilegais em campanhas eleitorais.

"Aécio foi um bom governador de Minas, fez um trabalho de transformação impressionante no estado e é reconhecido por todos, mas ele teve o pior momento de sua vida política, foi vítima de uma arapuca, de um diálogo treinado, um diálogo muito infeliz", diz o deputado federal Marcus Pestana, secretário nacional do PSDB e aliado de Aécio.

Pestana admite que o episódio teve um custo político alto para o partido e o ex-governador, mas assegura que Aécio é inocente e que está se articulando para a disputa eleitoral. O ex-candidato à Presidência tem participado de reuniões políticas semanais no Estado para definir seu futuro político.

"Aécio pode ser candidato a senador, a deputado, ou a nada. Mas vai ajudar o PSDB nacionalmente e em Minas", enfatizou Pestana. Cabo eleitoral de Alckmin certamente Aécio Neves não será, e os tucanos sabem perfeitamente disso. Tanto que o partido tentou convencer, desesperadamente, o senador Antonio Anastasia, também ex-governador, a disputar mais uma vez o governo de Minas e oferecer a Alckmin um palanque consistente no estado. Anastasia só deu o sinal verde ao PSDB no último fim de semana, mas disputará a contragosto a eleição.

O efeito São Paulo

No estado em que poderia ter uma situação confortável Alckmin terá outro desafio: conciliar um palanque duplo, apoiando o provável candidato do PSDB ao governo, João Dória, e do PSB, Márcio França. O PSB sempre foi aliado de Alckmin em São Paulo. Agora, o partido insiste na candidatura própria, pois França, o vice-governador, vai assumir o estado a partir de abril, quando Alckmin se desincompatibiliza para disputar a Presidência.

Dória também deixará a prefeitura de São Paulo em abril para a disputa estadual, contrariando uma promessa eleitoral que fez em 2016, quando disputou a eleição. Ele chegou a assinar uma carta afirmando que não deixaria a prefeitura para disputar outros cargos futuramente, antes do encerramento de seu mandato.

Assim como ocorreu na disputa para a prefeitura, em 2016, o PSDB paulista promoveu prévias para escolher o candidato ao governo. Dória foi o vencedor, após a divulgação do resultado no domingo, dia 18 de março, com a preferencia de mais de 80% dos votantes (dirigentes e militantes). As prévias, porém, voltam a deixar sequelas no partido. Outros três candidatos disputaram com Dória. Um deles foi José Aníbal, que insiste em críticas a Dória e levanta suspeitas sobre a lisura do processo eleitoral das prévias.

"Geraldo terá dois palanques em São Paulo, do PSDB e do PSB. O vice-governador Márcio França com certeza vai apoiar o Geraldo. O PSDB está bem. Toda unanimidade é burra", disse o presidente do partido em São Paulo, Pedro Tobias, minimizando os problemas e divergências internas. "Não é o Geraldo que vai apoiar dois candidatos ao governo de São Paulo. São dois candidatos ao governo de São Paulo, do PSDB e do PSB, que vão apoiar o Geraldo Alckmin para a presidência", afirmou o deputado federal Ricardo Tripoli, líder do PSDB na Câmara dos Deputados.

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