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Bolsonaro lamenta eleição de Fernández na Argentina

28 out 2019 - 13h09
(atualizado às 13h24)
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Presidente diz que não vai cumprimentar o argentino, volta a ameaçar isolar o país do Mercosul e chama apoio a Lula Livre de afronta à democracia brasileira. Fernández e Bolsonaro trocaram farpas durante a campanha.O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira (28/10) que não vai cumprimentar o presidente eleito da Argentina, o peronista Alberto Fernández, que derrotou o atual mandatário, Mauricio Macri, na eleição presidencial realizada no domingo no país vizinho.

Bolsonaro sobre a eleição de Alberto Fernández: "Não tenho bola de cristal, mas acho que os argentinos escolheram mal"
Bolsonaro sobre a eleição de Alberto Fernández: "Não tenho bola de cristal, mas acho que os argentinos escolheram mal"
Foto: DW / Deutsche Welle

"Eu lamento. Não tenho bola de cristal, mas acho que os argentinos escolheram mal. O primeiro ato do Fernández foi 'Lula livre', dizendo que ele está preso injustamente. Já disse a que veio, sem contar que tem gente da esquerda lá", disse Bolsonaro, ao deixar os Emirados Árabes Unidos.

"Não pretendo parabenizá-lo, mas não vamos nos indispor. Vamos esperar o tempo para ver qual a posição real dele na política", completou o brasileiro.

Eleito em primeiro turno, o peronista Fernández fez um gesto de apoio ao movimento Lula Livre em seu discurso de vitória e pediu que o mundo escutasse esse grito. "Hoje [domingo] é o aniversário do Lula, um homem injustamente preso. Devemos continuar a pedir pela sua liberdade", disse o presidente eleito, soltando, em seguida, o grito "Lula livre".

Fernández convidou diversas personalidades da esquerda brasileira para acompanhar a votação na Argentina, incluindo o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, com quem visitou Lula na prisão em Curitiba durante a campanha eleitoral argentina. Essa visita é sempre recordada por Bolsonaro como um limite imperdoável para Fernández.

Nesta segunda-feira, já no Catar, o brasileiro voltou a comentar o sinal de apoio do argentino ao movimento Lula Livre. "É uma afronta à democracia brasileira e ao sistema judiciário brasileiro. Ele está afrontando o Brasil de graça", declarou.

Fernández terá como vice a ex-presidente Cristina Kirchner, que governou o país entre 2007 e 2015. Ela e seu marido, o também ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), morto em 2010, presidiram a Argentina no mesmo período dos governos de Lula (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016) no Brasil, e todos eles mantiveram laços próximos.

Para Bolsonaro, os argentinos elegeram neste domingo os responsáveis pela atual crise econômica no país, referindo-se aos ex-governantes de esquerda. "As reformas do Macri não deram certo, mas o povo colocou lá quem colocou o país no buraco", refletiu.

Além disso, o presidente brasileiro voltou a admitir a possibilidade de retirar a Argentina do Mercosul se os demais parceiros do bloco - Uruguai e Paraguai - concordarem.

Na visão de Bolsonaro, o Mercosul corre o risco de se desmembrar caso Fernández queira adotar medidas protecionistas em vez de prosseguir com a abertura comercial que o bloco almeja. O presidente eleito argentino havia avisado em julho que pretende rever o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.

Antes da votação, Bolsonaro fez campanha contra Fernández, alertando para o risco de a Argentina se tornar uma nova Venezuela. Em agosto, classificou os peronistas de "esquerdalhada" e afirmou que "não quer irmãos argentinos fugindo para cá". Em resposta, Fernández disse que as críticas vindas de um "racista, misógino e violento que é a favor da tortura" só o beneficiavam.

Na semana passada, durante visita ao Japão, Bolsonaro voltou a ameaçar isolar a Argentina do Mercosul. "Sabemos que a volta da turma do Foro de São Paulo da Cristina Kirchner pode, sim, colocar em risco todo o Mercosul. E possivelmente, repito, possivelmente, temos que ter uma alternativa no bolso."

Em sua primeira viagem ao exterior como presidente eleito, Fernández deve ir ao México, e não ao Brasil, quebrando assim uma tradição dos presidentes eleitos na Argentina de viajarem a seu principal sócio político e comercial. Bolsonaro já tinha quebrado essa mesma regra ao viajar primeiro aos Estados Unidos e depois ao Chile após assumir o cargo neste ano.

Ao contrário de Bolsonaro, outros governos de países latino-americanos parabenizaram a vitória do peronista neste domingo. Entre eles estão líderes de Venezuela, Cuba, Chile, México e Bolívia.

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