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Bastidores: após denúncia de 'rachadinha', Bolsonaro deve ser mais cauteloso em apoiar Arthur Lira

Aliado do presidente, deputado federal é um dos postulantes à sucessão de Rodrigo Maia (DEM) na Presidência da Câmara

3 dez 2020 - 23h26
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BRASÍLIA - Interlocutores do Palácio do Planalto avaliam que o presidente Jair Bolsonaro não deve se manifestar sobre a revelação de que o deputado Arthur Lira (Progressistas-AL) esteve à frente de um esquema de "rachadinha" na Assembleia Legislativa de Alagoas, como aponta denúncia da Procuradoria-Geral da República revelada nesta quinta-feira, 3, pelo Estadão. Entretanto, esses assessores ponderam que o chefe do Executivo deve ser mais cauteloso em dar o apoio explícito à candidatura de Lira à Presidência da Câmara.

Em caráter reservado, integrantes do governo lembram que ainda não existe uma condenação de Lira na esfera criminal e que, portanto, Bolsonaro deve adotar a mesma postura que teve em outros casos de denúncias de pessoas próximas a ele, afirmando que se trata apenas de uma investigação, sem nada provado. O líder do Centrão, no entanto, já foi condenado em duas instância pelo mesmo caso das "rachadinhas" na esfera cível, por improbidade administrativa.

Em conversas reservadas, Bolsonaro nunca escondeu a preferência por Lira para suceder Rodrigo Maia (DEM-RJ) no comando da Câmara. Nos bastidores, agiu para incentivar a candidatura do parlamentar alagoano em contraponto ao atual chefe da Câmara. Maia tem afirmado que não disputará a reeleição mesmo que o Supremo Tribunal Federal dê o aval. Ele tentará emplacar um sucessor, mas ainda não definiu um nome dentro do seu grupo político.

Aliados do governo afirmam que o presidente nunca demonstrou interesse em se engajar publicamente na campanha na Câmara. Contudo, com a proximidade da eleição, que ocorrerá em fevereiro, havia a expectativa do grupo pró-Lira de que Bolsonaro se posicionasse no jogo. Com a revelação sobre a "rachadinha" em Alagoas, porém, volta a ganhar força o argumento de que o chefe do Executivo deve se manter neutro na disputa do Legislativo.

Outro motivo para Bolsonaro silenciar é o fato de Lira ser denunciado por um esquema de rachadinha, o mesmo pelo qual o seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), é acusado. Flávio foi denunciado no dia 4 de novembro pelo Ministério Público por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Além de Flávio, também foram denunciados o ex-assessor Fabrício Queiroz e outras 15 pessoas acusadas de participarem do esquema que desviou R$ 6.100.091,52 dos cofres da Assembleia Legislativa do Rio, mediante desvio de pagamentos em favor de doze "funcionários fantasmas". O senador nega as acusações do MP.

Como revelou o Estadão nesta quinta-feira, 3, documentos da denúncias até então sigilosos obtidos pela reportagem indicam desvio, entre 2001 e 2007, de R$ 254 milhões dos cofres públicos. Somente o líder do Centrão movimentou R$ 9,5 milhões em sua conta. Apenas três servidores da Assembleia Legislativa depositaram mais de R$ 1 milhão diretamente para o deputado estadual.

As investigações apontam que a "rachadinha" na Assembleia de Alagoas ocorreu, em parte, quando Lira ocupava um cargo no comando do Legislativo estadual. De 2003 a 2006, ele foi primeiro-secretário, uma espécie de "prefeito" que administra os recursos do órgão, razão pela qual seu papel era central, uma vez que cabia a ele liberar o dinheiro. O esquema envolveu pelo menos 12 deputados estaduais.

As informações estão em uma ação penal que Lira ainda responde na Justiça estadual. O caso de "rachadinha" na Assembleia Legislativa de Alagoas levou o deputado a ser condenado em segunda instância na área cível por improbidade administrativa. Esta decisão, de 2016, o impediria de disputar a eleição de deputado federal, em 2018, mas uma liminar do então vice-presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas, Celyrio Adamastor, suspendeu os efeitos da sentença e o liberou a concorrer. Foi eleito com 143.858 votos, numa aliança que reuniu PSDB, PSB, DEM, Republicanos, PTC, entre outros.

Lira foi indicado na terça-feira, 1, pelo seu partido para disputar a sucessão de Maia (DEM-RJ), em fevereiro do ano que vem. A presidência da Câmara é um cargo estratégico. O ocupante dessa cadeira define os projetos que serão votados e é o segundo na linha sucessória da Presidência da República. Na ausência do presidente e do vice, é ele quem assume o comando do País.

Em nota enviada por sua assessoria, Lira disse confiar que será absolvido pela Justiça alagoana. "O deputado Arthur Lira já apresentou sua defesa com todas as explicações necessárias, esclarecendo qualquer dúvida sobre a lisura de suas ações quando deputado estadual em Alagoas. Lira confia na Justiça e tem certeza de sua total e plena absolvição. Não há condenação contra o deputado", diz a nota. Ele já foi condenado na segunda instância pelo caso na esfera cível, por improbidade administrativa.

Estadão
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