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Atos expõem disputa entre Bolsonaro e governadores

Clima de rivalidade fica explícito durante agendas do presidente com Doria em SP e Witzel, no Rio; paulista é alvo de vaias ao participar de formatura de sargentos da PM

11 out 2019 - 22h38
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SÃO PAULO e RIO - O clima de rivalidade nas relações do presidente Jair Bolsonaro (PSL) com os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio, Wilson Witzel (PSC), ficou explícito nesta sexta-feira, 11, em duas cerimônias públicas que reuniram os três políticos.

Em São Paulo, durante evento de formatura de sargentos da Polícia Militar, Doria foi vaiado pelo público, enquanto o presidente foi recebido aos gritos de "mito". Mais tarde, na cerimônia de integração do submarino Humaitá, em Itaguaí (RJ), Bolsonaro se dirigiu ao governador fluminense e disse que trabalha para entregar no futuro um governo "muito melhor" para quem queira assumir a Presidência "de forma ética, moral e sem covardia".

Bolsonaro e Witzel se afastaram após o governador manifestar diversas vezes que sua intenção é chegar ao Palácio do Planalto. Bolsonaro também olhou para o governador quando falou em "inimigos internos".

Tanto Witzel quanto o governador de São Paulo foram eleitos com campanhas associadas ao então candidato do PSL. Na capital paulista, Doria e o presidente se encontraram pela primeira vez em um evento público após o desgaste provocado por críticas mútuas. Bolsonaro chegou a afirmar que o tucano é "ejaculação precoce" ao comentar a possibilidade de o governador concorrer em 2022. Doria, por sua vez, fez duras críticas ao discurso do presidente na Assembleia-Geral da ONU e recentemente afirmou que "nunca foi bolsonarista" - apesar de ter utilizado o slogan "Bolsodoria" no segundo turno da eleição do ano passado.

Nesta sexta, porém, ao discursar, Doria fez um gesto para o presidente e disse que ele é um "amigo dos brasileiros em São Paulo".

"Fiz questão de estar presente para mostrar que o Estado de São Paulo é parceiro das boas ações do Brasil. O que for positivo para o Brasil e para São Paulo, o governador estará ao lado. Em São Paulo, não fazemos oposição ao Brasil", disse Doria, cuja presença era dúvida até horas antes da formatura, quando o compromisso foi incluído em sua agenda oficial. Doria foi vaiado ao chegar e ao discursar no evento, que reuniu um público de cerca de 5 mil pessoas, conforme a PM.

No entorno do governador, a avaliação é de que as vaias aconteceram por causa da presença do senador Major Olimpio (PSL), da reserva da PM e que tem um histórico de oposição aos governos tucanos no Estado. Doria não comentou as vaias.

Bolsonaro, ao discursar, elogiou militares, criticou governos que o antecederam disse "os únicos a quem deve obediência" são as pessoas. Citou protocolarmente Doria no início de sua fala e depois não fez mais menções ao governador. Os dois deixaram o evento sem falar com a imprensa.

Horas depois, na região metropolitana do Rio, no Complexo Naval, o presidente se referiu aos inimigos ao se dirigir ao governador fluminense. "Como político digo a vocês, o nosso partido é o Brasil. Temos inimigos dentro e fora do Brasil. Os de dentro são os mais terríveis", afirmou Bolsonaro. "Trabalho para que, no futuro, quem, por ventura, de forma ética, moral e sem covardia um dia por acaso venha assumir o destino da nossa nação encontre a nossa pátria numa situação bem melhor do que assumi."

Pivô da crise entre Witzel e o PSL de Bolsonaro no Rio, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que preside o partido no Estado, estava na plateia de convidados. O governador e Bolsonaro estavam lado a lado na cerimônia. Mas, quando vagou uma cadeira durante o discurso de Azevedo e Silva, o presidente pulou para ela. Ao falar no púlpito, Witzel saudou Flávio e lembrou que eles "caminharam juntos" durante a eleição do ano passado.

O presidente também destacou, ao lembrar um dos lemas da campanha de 2018, que "seu partido é o Brasil". Ele vive uma crise com o PSL, ao qual se filiou antes do pleito do ano passado.

As relações conturbadas dos governadores com o presidente preocupam parlamentares no Congresso. Fontes próximas dos governos de Bolsonaro e de Doria dizem tentar "baixar a fervura". A leitura é de que as eleições de 2022 ainda estão distantes e que o desgaste institucional será grande se os governantes trocarem farpas até lá.

O estranhamento, porém, não é negado. "Bolsonaro jamais ignoraria o governador, que é o chefe da PM. Mas é errado achar que existe aproximação entre eles", afirmou odeputado Capitão Derrite (PP-SP), vice-líder do governo na Câmara. / COLABOROU MATEUS VARGAS

Estadão
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