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As ruas de Paris testam Macron

3 dez 2018 - 12h12
(atualizado às 14h48)
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O que começou como um protesto contra o aumento no preço dos combustíveis virou um movimento amplo de contestação ao governo, que vive sua maior crise, e contra a deterioração da qualidade de vida na França.O presidente francês, Emmanuel Macron, enfrenta sua maior crise desde que assumiu o cargo há 18 meses, depois de mais um fim de semana de confusão e após semanas de protestos de rua iniciados em manifestações contra aumento de impostos sobre combustíveis e que se transformaram num movimento generalizado contra o governo.

Foto: DW / Deutsche Welle

Nesta segunda-feira (03/12), o primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, cancelou sua ida à Polônia - onde participaria da abertura da Conferência para o Clima da ONU - para se reunir com líderes dos principais partidos políticos num esforço para tentar contornar a situação.

Este foi o terceiro fim de semana consecutivo de confrontos em Paris. Os protestos começaram no mês passado com motoristas irritados com um aumento de impostos sobre combustíveis e cresceram, incorporando uma série de queixas de que o governo Macron não se importa pelos problemas das pessoas comuns.

A tropa de choque da polícia francesa e grupos dos manifestantes conhecidos como "coletes amarelos" voltaram a entrar em confronto em Paris no sábado. Segundo o Ministério do Interior, ocorreram 412 prisões a nível nacional e 262 pessoas ficaram feridas, durante os piores tumultos urbanos da França em uma décadas, em que dezenas de carros foram incendiados. O Ministério do Interior francês contabilizou cerca de 190 focos de incêndio e seis imóveis incendiados.

A polícia usou bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água contra os manifestantes, que responderam jogando pedras e tinta amarela nos policiais. Imagens de TV e vídeos na internet mostram encapuzados invadirem o Arco do Triunfo e atacarem o monumento pichando frases como "os coletes amarelos triunfarão" e "Macron renuncie". O pequeno museu localizado no Arco do Triunfo foi saqueado.

"Senhor presidente, precisamos de uma resposta", cobrou em primeira página o jornal Le Parisien nesta segunda-feira. "Submerso" estampou na manchete o diário de centro-esquerda Libération, afirmando que o governo parece "paralisado pelo movimento dos 'coletes amarelos', que não consegue parar e que ameaça transbordar".

O ministro francês da Economia, Bruno Le Maire, disse que a solução para atender os ativistas e resolver o problema do baixo poder de compra das famílias francesas está em reduzir a carga tributária do país, que é uma "das mais altas da Europa", mas assegurou que o governo manterá seu curso de redução das despesas estatais. "Temos que acelerar a redução de impostos. Mas para isso temos que acelerar a redução dos gastos públicos", ressaltou.

Macron, de 40 anos, parece determinado a não voltar atrás sobre o impopular aumento de impostos sobre combustíveis, que foi o estopim dos protestos. Ele foi eleito em maio de 2017 com uma plataforma liberal prometendo medidas para incentivar companhias a investirem na criação de empregos. Imediatamente após chegar ao poder, implementou cortes de impostos para empresários e para os mais ricos, medidas que são um dos principais pontos de revolta entre os "coletes amarelos".

A tarefa de Macron agora também é complicada por seu próprio desejo de não ceder aos protestos de rua, que no passado repetidamente forçaram seus antecessores a mudar de rumo.

Enquanto o premiê francês, Édouard Philippe promove nesta segunda-feira uma rodada de reuniões com líderes de diversos partidos políticos, os "coletes amarelos" continuaram seus protestos e piquetes em diferentes pontos do país, com bloqueios de rodovias, estradas e acessos a complexos petrolíferos. Outra grande manifestação já foi convocada para o próximo fim de semana.

A primeira a comparecer ao Palácio de Matignon, a residência oficial do primeiro-ministro, foi a prefeita de Paris, a socialista Anne Hidalgo. Também foram agendadas reuniões com a líder do partido de extrema direita Agrupamento Nacional (antiga Frente Nacional), Marine Le Pen; o primeiro-secretário do Partido Socialista, Olivier Faure; o presidente do conservador Os Republicanos, Laurent Wauquiez, e Stanislas Guerini, o novo delegado-geral do República em Marcha, o partido do presidente Macron.

O "número 1" do partido de esquerda França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, que, assim como Le Pen, pediu a dissolução da Assembleia Nacional para a convocação de eleições legislativas, não pôde comparecer e foi substituído por membros de sua equipe.

As conversas do primeiro-ministro devem continuar nesta terça-feira, com representantes do movimento dos "coletes amarelos". Mas Philippe afirmou que ainda vai iria avaliar se isto será possível e em que formato, depois do fracasso de um encontro similar na última sexta-feira.

O porta-voz do governo francês, Benjamin Griveaux, não quis antecipar se a administração atenderá à principal reivindicação dos "coletes amarelos" desde o início do movimento, a de suspender o aumento dos impostos sobre os combustíveis (à gasolina e, sobretudo, ao diesel), que entrará em vigor a partir de 1º de janeiro. "Não tomamos as decisões antes", afirmou Griveaux, em entrevista à emissora France Inter, frisando que as reuniões com os representantes do movimento e dos partidos é uma tentativa de diálogo.

O movimento dos "coletes amarelos" surgiu há aproximadamente um mês de forma espontânea, sem filiação a nenhum grupo político, e se organizou através das redes sociais para protestar contra um novo aumento dos impostos sobre os combustíveis. As reivindicações, no entanto, se ampliaram posteriormente, e passaram a incluir o aumento do salário mínimo e também a renúncia de Macron.

MD/afp/efe/lusa/ap

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