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As polêmicas 'bombas de cianureto' usadas nos EUA para matar animais selvagens

Grupos de defensores de animais selvagens condenam o uso desses dispositivos e alertam para perigo a humanos.

30 jun 2020 - 12h27
(atualizado às 12h36)
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Defensores da vida dos animais condenam uso de dispositivos contra animais selvagens
Defensores da vida dos animais condenam uso de dispositivos contra animais selvagens
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

M-44 é o nome de uns dispositivos usados nos Estados Unidos há décadas para matar animais selvagens por "motivos de proteção".

São cápsulas presas a algum tipo de isca que soltam uma quantidade de pó de cianureto de sódio fatal para coiotes, raposas e cães selvagens.

Elas são conhecidas também como bombas de cianureto.

O governo americano defende seu uso, apesar de haver centenas de milhares de petições para que sejam suspendidas devido aos seus perigos associados.

Um dos principais argumentos do Departamento de Agricultura (USDA, na sigla em inglês) é que essas espécies mencionadas devem ser controladas pois elas são uma ameaça ao gado, às aves e a alguns animais em extinção.

Apesar disso, alguns defensores da vida selvagem consultados pela BBC disseram que esse método não é imprescindível, podendo inclusive trazer perigos para as pessoas.

As 'bombas'

Segundo a descrição feita pelo USDA, uma vez ativados esses dispositivos, o pó pode entrar no organismo do animal pela boca, nariz ou até pelos olhos.

Em um relatório realizado pelo departamento e apresentado em 2019 calcula que essas bombas mataram cerca de 14 mil animais. Pelo menos 17 Estados americanos as utilizam.

"Representa uma ferramenta altamente efetiva no manejo de dados da vida selvagem", diz o relatório.

Os dispositivos são plantados em zonas rurais onde há muitos coiotes e raposas
Os dispositivos são plantados em zonas rurais onde há muitos coiotes e raposas
Foto: USDA / BBC News Brasil

O documento sobre o M-44 foi feito a pedido da Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês), que aceitou reavaliar a efetividade e segurança deste método.

Finalmente, no fim do ano passado, foi decidido permitir o uso de "bombas de cianureto".

A EPA admitiu que durante o processo de avaliação foram recebidas cerca de 200 mil cartas solicitando o fim do uso desses dispositivos.

Por outro lado, grandes grupos de criadores de gado e consórcios de agricultura defenderam o método.

Foram estabelecidas novas restrições de uso — agora nenhuma "bomba" pode ser colocada a menos de 100 metros de uma via pública ou estrada, e deve haver sinalizações para as pessoas de onde elas foram plantadas.

Os motivos da recusa

Collette Adkins, diretora do programa de conservação de animais do Centro de Diversidade Biológica, disse para a BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, que o uso das "bombas de cianureto" é indiscriminado nos Estados Unidos e que isso representa um grande perigo pois elas podem estar em qualquer campo aberto.

"Qualquer pessoa, espécie ou animal pode ser atingida por esses dispositivos com veneno, se encostar neles. Por isso não faz sentido seguir usando", indica.

Os detratores do uso das "bombas" dizem que eles são "dispositivos cruéis de matança"
Os detratores do uso das "bombas" dizem que eles são "dispositivos cruéis de matança"
Foto: Centro de Diversidade Biológica / BBC News Brasil

Adkins acrescenta que existem muitas outras formas mais seletivas e preventivas para manejar o problema dos animais selvagens.

"As bombas de cianureto não podem ser usadas de maneira segura por ninguém e em nenhum lugar", diz.

Ela afirma que diferentes grupos de defesa da biodiversidade pedem "uma proibição permanente em nível nacional" contra esse tipo de veneno.

Tentativas de proibição

Em maio do ano passado, o Estado do Oregon proibiu o uso do M-44 após a morte de um lobo.

Em 2017, um menino ficou cego temporariamente quando encostou em um dos dispositivos, que explodiu.

Kelly Nokes, advogada do Centro de Direito Ambiental do Ocidente, com sede no Oregon, qualificou as bombas como "dispositivos cruéis de matança".

"Os M-44 são uma relíquia desumana do passado e um risco desnecessário", diz.

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