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As mensagens de uma mãe a um filho morto que causaram comoção em rede social

Assunção, de 69 anos, interage com as mensagens programadas em perfil do filho que morreu em 2019. Na quinta-feira (10/2), a história deles repercutiu no Twitter.

13 mai 2022 - 21h13
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Pedro morreu em decorrência de um câncer em 2019, aos 43 anos
Pedro morreu em decorrência de um câncer em 2019, aos 43 anos
Foto: Arquivo pessoal / BBC News Brasil

"Meu filho, meu amor. Não consigo ir dormir sem te dizer que o teu irmão já chegou. Estão bem. Queria tanto saber se tu estavas bem. Amo-vos tanto meus filhos", escreveu a professora aposentada Assunção Fernandes no Twitter no domingo (06/2).

A mensagem, assim como outras que ela escreve diariamente, foi direcionada a uma publicação feita no mesmo dia pelo perfil do filho mais velho dela, Pedro Gama.

O rapaz morreu em 2019. Assunção, porém, manteve uma rotina: responder a todas as mensagens compartilhadas diariamente no perfil de Pedro.

A história de mãe e filho ganhou repercussão na quinta-feira (10/2). Um post sobre o caso teve mais de 13 mil curtidas no Twitter e 500 compartilhamentos.

As mensagens de Assunção para o filho comoveram diversas pessoas em Portugal, o país da família, e também no Brasil.

Nas redes, ela agradeceu o carinho que passou a receber. "Fico feliz em saber que há tanta gente solidária e que ainda podemos acreditar no amor", escreveu a aposentada, de 69 anos, em seu perfil no Twitter.

Os tuítes

Pedro era funcionário público em Braga, Portugal, costumava viajar o mundo e gostava de conhecer diferentes culturas. Os amigos o descreviam como uma pessoa alegre e muito solidária.

"Ele sonhava com um mundo sem barreiras. Nunca, desde bem pequeno, admitia as palavras normal ou anormal para classificar as pessoas. Ele dizia que cada indivíduo era diferente e era assim que devíamos aceitar e respeitar", diz Assunção à BBC News Brasil.

Pedro e Assunção: mãe afirma que mensagens em rede social ajudam a lidar com a perda do primogênito
Pedro e Assunção: mãe afirma que mensagens em rede social ajudam a lidar com a perda do primogênito
Foto: Arquivo pessoal / BBC News Brasil

O rapaz costumava ajudar a mãe a mexer em diferentes tecnologias. Ele ensinou, por exemplo, Assunção a usar o Twitter.

"Ele era muito ativo no Instagram, no Facebook e no Twitter. Ele até ia a encontros com pessoas que tinha conhecido no Twitter", relembra o irmão caçula de Pedro.

Foi justamente nas redes sociais que Pedro viu a chance de continuar, de certa forma, ativo mesmo após morrer. No Twitter, ele recorreu a um bot (robô) para programar diariamente a publicação de emojis. "Acredito que ele fez isso sabendo que continuaria postando coisas mesmo após isso (a morte)", diz o irmão.

Pedro morreu aos 43 anos, em decorrência de um câncer de cólon (na parte do intestino grosso). Ele havia sido diagnosticado com a doença em 2018. Cerca de um ano depois, o quadro se agravou cada vez mais.

Nas redes, o perfil dele continuou compartilhando publicações diárias com emojis de teleféricos.

A escolha das figuras para essas publicações pode ser explicada por um post de Pedro no Twitter em novembro de 2018. Na época, ele fez uma publicação com esses emojis para lamentar que um perfil mencionou que eram os menos usados na rede social. "Os emojis menos utilizados não podem ser meios de transporte! Lute pelo que é certo", escreveu.

Enquanto convivia com a dor da saudade intensa do primogênito, Assunção viu as publicações programadas no perfil dele e começou a interagir com elas. Ali, começou a compartilhar as novidades, detalhes sobre o cotidiano da família e nunca deixou de demonstrar o amor pelo filho.

"Tu sabes que te amo e jamais deixarei de te amar. Posso ficar com a memória reduzida a zero, mas estarás sempre no meu coração. Ontem não houve novidades conosco. Amo-vos tanto meus filhos", escreveu em uma das interações recentes com o perfil do filho.

Professora aposentada interage com o perfil do filho
Professora aposentada interage com o perfil do filho
Foto: Reprodução/Twitter / BBC News Brasil

Segundo Assunção, essas publicações se tornaram uma forma de "desabafar" com Pedro. "Para atenuar a minha dor, e não podendo falar nele em casa por causa do meu marido, aproveitei a página dele do Twitter onde ele tinha um tuíte automático", explicou em uma publicação na rede social nesta sexta-feira (11/2).

Essa atitude, acredita a mãe, a ajuda a enfrentar a dor da saudade e faz com que ela sinta Pedro mais perto.

A repercussão

Algumas pessoas costumavam compartilhar ou interagir com as publicações dela nas postagens automáticas do perfil do filho. Ela admite que nunca pensou que "as conversas fossem descobertas, a não ser por amigos íntimos".

Na quinta-feira, a interação da mãe com o perfil do filho foi compartilhada por um perfil com 2,9 mil seguidores no Twitter e alcançou repercussão inesperada, pois passou a ser compartilhada por diversas pessoas.

"Ontem alguém encontrou uma das minhas conversas , comoveu-se, retuitou e a onda solidária tem sido tão grande que ainda não acabou. Não consigo responder a toda a gente e alguns tuítes que vi mas não respondi ontem, já não os consigo encontrar", escreveu a aposentada nesta sexta-feira em seu perfil na rede social.

Os inúmeros compartilhamentos surpreenderam Assunção e o filho caçula, que atualmente tem 44 anos. A aposentada passou a receber diversas mensagens de apoio.

"Assunção, que lindo o amor de vocês. Isso é eterno. Mandando muitas energias boas aqui do Brasil", digitou uma pessoa. "Fico sempre de coração partido quando a leio. Vejo nas suas palavras o amor que sente pelos seus e pelos outros. Ninguém neste mundo está preparado para a perda de um filho", escreveu outra pessoa.

Para Assunção, as suas mensagens para o perfil do filho ajudaram a "despertar o coração de muitos filhos para o grande amor de mãe".

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