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Armazenamento de CO2 no fundo do mar ganha força na Noruega

20 out 2018 - 08h05
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Captura e armazenamento de gás carbônico, ou CCS, é criticada por ser cara e vista como mera desculpa para continuar exploração de combustíveis fósseis. Mas há quem aposte na tecnologia.Para aqueles que pensavam que instalar painéis solares, plantar árvores e comprar um carro elétrico bastaria, o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, publicado este mês, foi um impressionante grito de alerta.

O mundo está enfrentando uma catástrofe climática, e mudanças urgentes e inéditas são necessárias, diz o documento. Isso inclui o processo de captura e armazenamento de gás carbônico (CCS, em inglês), uma tecnologia repleta de problemas no passado.

O CCS é extremamente caro, e críticos afirmam que ele não passa de uma desculpa para a indústria de combustíveis fósseis continuar operando normalmente, em detrimento da evolução de alternativas renováveis. Porém, na Noruega, a tecnologia vem ganhando impulso - o que não surpreende, dados os contínuos planos do país de explorar suas enormes reservas de petróleo.

"O desafio do clima é tão grande que temos de usar todas as ferramentas à disposição", afirma Trude Sundset, presidente da Gassnova, a companhia estatal norueguesa responsável pela busca de soluções de CCS para o futuro.

A produção de energias renováveis cresce rapidamente, mas muitas indústrias, como as de cimento e aço, emitem vastas quantidades de dióxido de carbono em seus processos produtivos. É aí que a tecnologia de captura e armazenamento de carbono aparece como a única solução, já que a outra alternativa seria encerrar completamente a produção, argumenta Sundset.

"Podemos colocar quantos painéis solares quisermos em todas as fábricas de cimento que quisermos - ainda assim teremos emissões de CO2 muito altas nessa indústria", constata. "E a única solução que conhecemos hoje é capturar o dióxido de carbono e armazená-lo no subterrâneo", explica.

Com apoio do governo norueguês, a Gassnova agora está nos estágios finais de um projeto piloto que poderá concluir as primeiras unidades de captura completa de carbono numa fábrica de cimento, assim como a primeira unidade de incineração de lixo. Cada unidade capturaria 400 mil toneladas anuais de CO2, o equivalente às emissões de 171 mil automóveis.

"O próprio processo de fabricar cimento emite muito CO2, e a produção total de cimento no mundo representa entre 5% e 7% do total anual de emissões de carbono", calcula Per Brevik, diretor de sustentabilidade e combustíveis alternativos na Heidelberg Cement Northern Europe, fábrica que faz parte do projeto piloto da Gassnova.

A fábrica, que fica a duas horas de carro da capital norueguesa, Oslo, já testou vários métodos de captura de gás carbônico e espera que uma solução completa esteja funcionando até 2024. "Tiraremos o CO2 do gás da chaminé, o condicionaremos e armazenaremos no fundo do Mar do Norte", detalha Brevik.

A ideia de remover CO2 do ar para armazená-lo em rochas porosas sob o leito marinho não é nova. A empresa estatal de energia da Noruega, Equinor, opera uma unidade de CCS numa de suas plataformas de gás natural no Mar do Norte desde 1996, provando que a tecnologia funciona.

Esse projeto específico faz sentido economicamente graças ao imposto de 52 euros por tonelada de CO2 emitida em instalações de petróleo e gás offshore. A Equinor teria pagar 105 mil euros por dia para poder liberar o gás carbônico na atmosfera, o que faz da tecnologia CCS uma alternativa mais barata.

"O problema é que não existe um modelo de negócios para isso em terra firme", diz Sverre Overa, diretor de projetos na Equinor. O imposto europeu atual de CO2 é de menos de 20 euros por tonelada, apesar de haver previsões de que o valor deverá aumentar em 2019.

Talvez de forma um pouco paradoxal, a experiência da Noruega com a exploração offshore de petróleo e gás poderá trazer benefícios para o meio ambiente. A Gassnova está usando esse conhecimento tecnológico para preparar uma infraestrutura de armazenamento de CO2 que poderia ser implementada em toda a Europa.

O dióxido de carbono capturado será liquefeito e transportado por navio para uma unidade na costa oeste da Noruega. De lá, poderá ser canalizado para o Mar do Norte e bombeado cerca de 3 mil metros abaixo, para dentro de formações rochosas porosas.

"Se conseguirmos estabelecer nossa própria infraestrutura, indústrias no Reino Unido, na Alemanha e em outros lugares verão que, se capturarem as suas emissões, poderão realmente enviá-las para algum lugar e alguém garantirá que o CO2 está armazenado de forma segura", diz Sundset, da Gassnova.

Insiders da indústria afirmam que já existe interesse no modelo de CCS norueguês em outras empresas por toda a Europa. "A Noruega é, certamente, uma das pioneiras do CCS na Europa, e realmente mostrou que CCS pode ser usado como tecnologia que ajuda a reduzir emissões de CO2 em escala industrial", pondera Luke Warren, da Zero Emission Platform (Plataforma Zero Emissões, em tradução livre), uma organização que defende os interesses da indústria de CCS e de grupos de pesquisa sobre o assunto e que também aconselha a Comissão Europeia sobre a tecnologia.

Governos anteriores na Noruega arquivaram projetos de CCS em larga escala, mas o governo atual forneceu os fundos necessários para os projetos piloto até agora. Em sua última proposta de orçamento, em outubro, o governo separou mais 71 milhões de euros para duas unidades completas de captura de CO2 e para a infraestrutura de armazenamento de dióxido de carbono sob o fundo do Mar do Norte até 2021.

O custo total foi estimado em 1,6 bilhão de euros. As empresas de energia Equinor, Shell e Total já estão envolvidas no desenvolvimento do projeto de CCS da Noruega, arcando com parte dos custos, em conjunto com o Estado norueguês. Mas ainda é preciso esperar para ver quem pagará a maior parte da conta.

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