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Apex cancela afiliação a instituição que ajudou Facebook a derrubar páginas ligadas a Bolsonaros

A parceria, que inicialmente iria até outubro, foi encerrada nesta quinta; agência alega 'questões estratégicas'

10 jul 2020 - 20h59
(atualizado às 21h02)
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A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) cancelou sua afiliação a uma instituição norte-americana que ajudou o Facebook a derrubar páginas ligadas a integrantes do gabinete do presidente de Jair Bolsonaro, seus filhos e o PSL.

A parceria da agência com o think tank Atlantic Council iria até outubro, mas foi encerrada na quinta-feira, 9, apenas um dia depois de a rede social tirar do ar as páginas. O Digital Forensic Research Lab (DRFLab), do Atlantic Council, foi um dos responsáveis pela investigação que identificou que as contas e perfis exibiam comportamentos "inautênticos e coordenados".

A Apex informou que a parceria com o Atlantic Council foi cancelada por "questões estratégicas". O custo da afiliação é de US$ 200 mil para o período de dois anos, dos quais US$ 150 mil já foram pagos.

O Broadcast/Estadão apurou, porém, que a cúpula da agência entendeu ser politicamente insustentável manter a afiliação ao think tank norte-americano depois da investigação. Tal parceria foi criticada pela ala ideológica do governo.

De acordo com a diretora associada do centro ao qual a Apex era afiliada, Roberta Braga, após a publicação do artigo sobre a remoção das páginas do Facebook, a agência informou que seria necessário revogar a parceria. "Isso não é comum. Entendemos que foi necessário para eles, mas operamos de forma intelectualmente independente. Isso nunca ocorreu no passado", afirma.

O cancelamento fez com que um seminário previsto para a próxima quarta-feira com o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azêvedo, fosse adiado para agosto em cima da hora. O evento será feito sem a participação da Apex.

Nesta sexta-feira, a relação da agência com a entidade foi usada como munição na briga entre olavistas e militares por espaço no governo. A Apex vem sendo disputada pelas duas alas desde que o presidente Jair Bolsonaro tomou posse.

No Twitter, o escritor Olavo de Carvalho e alguns de seus seguidores acusaram a agência de "financiar" a remoção das páginas. Carvalho escreveu: "A ala militar do governo trabalha para financiar (com dinheiro público da Apex) uma organização internacional de esquerda que trabalha para censurar conteúdos de apoio ao presidente.' (Kim Paim) Se isso é verdade, esses generais têm de ir para a CADEIA".

O tuíte faz referência ao youtuber Kim Paim, seu seguidor, que tratou da parceria entre a Apex e o Atlantic Council em um de seus vídeos. A Apex não comentou as declarações de Olavo e seus seguidores.

Parceria

Desde outubro de 2018, a agência brasileira é afiliada do centro Adrienne Arsht Latin America do Atlantic Council. Roberta ressalta que os recursos pagos pela Apex para se afiliar ao centro Adrienne Arsht não seriam utilizados no Digital Forensic Research Lab (DRFLab).

Na quarta-feira, o Facebook anunciou que derrubou 35 contas, 14 páginas e um grupo no Facebook e 38 contas no Instagram relacionada ao gabinete presidencial, aos filhos de Bolsonaro, ao PSL e a aliados. O levantamento que levou às contas removidas pela rede social foi feito em parceria com o laboratório do Atlantic Council.

De acordo com a Apex, o objetivo principal da afiliação ao Atlantic Council era "posicionar o Brasil como parceiro estratégico dos Estados Unidos e aprofundar as relações econômicas bilaterais, visando promover o comércio e a atração de investimentos". Durante o período da afiliação, foram feitos seminários e encontros entre representantes do governo brasileiro e da iniciativa privada com membros do Executivo e do Congresso dos Estados Unidos e empresários norte-americano.

Desde o início do governo Bolsonaro, a Apex, que é ligada ao Ministério das Relações Exteriores, vem sendo alvo de disputa entre grupos ideológicos e militares. O primeiro presidente escolhido do presidente para o cargo, Alexandre Carreiro, foi dispensado depois de apenas uma semana no cargo, em meio a uma disputa com diretores ligados à ala "olavista".

Em seguida, um diplomata foi indicado para o cargo, Mário Vilalva, que foi demitido em três meses depois de entrar em conflito com o chanceler Ernesto Araújo e com diretores ligados ao ministro. A presidência da agência então foi repassada para a "ala militar" para apaziguar os ânimos. O almirante Segóvia tomou posse e exonerou diretores ligados a Ernesto e aos olavistas.

Desde a posse de Segovia, as brigas internas "submergiram". O almirante colocou militares em cargos chaves no órgão, incluindo a diretoria de Gestão Corporativa.

Estadão
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