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Análise: Visita de Eduardo aos EUA mistura política doméstica à internacional

Analista avalia que apoio simbólico de Donald Trump não é suficiente para reverter eventual derrota no Senado, que precisa aprovar a indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada

30 ago 2019 - 19h05
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A visita de Eduardo Bolsonaro e Ernesto Araújo aos Estados Unidos é mais um exemplo de como o presidente Jair Bolsonaro usa de instrumentos pouco comuns à diplomacia brasileira. Em primeiro lugar, existe o questionamento acerca dos objetivos estratégicos dessa visita, especialmente porque houve encontro recente entre os dois presidentes e seria de se imaginar que a agenda de cooperação já estivesse em execução a esse ponto.

Um segundo aspecto é a necessidade de um deputado federal acompanhar um ministro de Estado (diplomata de carreira, a despeito das qualificações do atual chanceler) em viagem oficial - e aí a política doméstica se mistura à internacional.

Jair Bolsonaro exalta o filho à categoria de para-chanceler enquanto não consegue os votos necessários à aprovação deste no Senado para o cargo de embaixador nos Estados Unidos.

A visita, portanto, é estratégica, no sentido de tentar demonstrar aos senadores brasileiros que o filho tem passe-livre com Donald Trump e que isso poderia acarretar em ganhos para o Brasil. Há que se reforçar, contudo, que não são claros quais esses ganhos, uma vez que os dois países têm sido mais concorrentes que complementares em uma série de questões comerciais.

E lembrar que o nosso País tem uma vasta oferta de diplomatas, concursados e aptos para o cargo de embaixador, sem que seja necessário recorrer ao próprio filho - mais objetivamente, ao nepotismo e ao favorecimento de alguém tão próximo. Não seria mais interessante se preocupar com as crises que já existem?

Por fim, resta saber se a viagem de Eduardo Bolsonaro terá efeitos práticos. A oposição está mais próxima dos votos que barram sua indicação, e somente com o apoio dos indecisos o governo poderia reverter uma provável derrota. Apenas demonstrar apoio de Trump não é suficiente - se o presidente americano não oferecer algo tangível e apontar o filho do presidente como um interlocutor responsável, o cenário provavelmente não se alterará no Senado.

*Doutor em Relações Internacionais e professor da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP)

Estadão
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