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ANÁLISE-Técnico habilidoso, CEO da Petrobras firma-se no cargo

16 nov 2018 - 14h16
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O presidente eleito Jair Bolsonaro animou investidores com a promessa de enxugar e alterar o papel do Estado no maior país da América Latina.

Ivan Monteiro, durante entrevista em São Paulo 10/92018 REUTERS/Nacho Doce
Ivan Monteiro, durante entrevista em São Paulo 10/92018 REUTERS/Nacho Doce
Foto: Reuters

Mas quando o assunto envolve a Petrobras, a abordagem radical pode ser diferente, mantendo o comando da empresa.

Nos últimos dias, a equipe de Bolsonaro disse que o CEO da petroleira, Ivan Monteiro, poderia continuar no cargo --uma rara demonstração de confiança em uma empresa com 37 presidentes em seus 65 anos de história.

Isso, por sua vez, chama a atenção para Monteiro, natural do Estado do Amazonas, que assumiu o controle da empresa depois que seu antecessor demitiu-se repentinamente em junho.

Muitos tomaram Monteiro como um substituto com dias contados, já que o presidente da República, Michel Temer, deixa o cargo em 1º de janeiro.

Investidores, analistas e fontes da companhia disseram à Reuters que Monteiro, que antes era diretor financeiro da Petrobras, tem habilidade tanto para transitar no complicado meio político do Brasil quanto para levar balanços enfraquecidos de volta ao azul.

Essa combinação, aprimorada por décadas no Banco do Brasil, pode ser crucial para a Petrobras, cujas finanças foram impactadas no passado quando governos a utilizaram para objetivos políticos.

O antecessor de Monteiro, o especialista em recuperação de empresas Pedro Parente, traçou uma linha sobre a intromissão política na Petrobras durante seu mandato e, eventualmente, desistiu de seguir no comando quando o governo a atravessou. Em contraste, os colegas de Monteiro dizem que ele pode trabalhar habilmente dentro do sistema.

"Ele conhece bem o mercado financeiro e também conhece Brasília", disse um alto executivo da Petrobras, que pediu anonimato.

"Além de ser ótimo tecnicamente, ele tem um bom relacionamento com o governo", acrescentou o executivo. "Isso, eu acho, faz um excelente perfil para um chefe da Petrobras."

Talvez o mais importante, dizem analistas e investidores, é que Monteiro tenha desempenhado um papel central nos esforços da Petrobras de redução da dívida bruta a 88 bilhões de dólares, o que tem impactado sua capacidade de investir nos novos achados de petróleo offshore do Brasil.

Monteiro conhece os meandros de um ambicioso programa de desinvestimento, bem como acompanha as controversas tratativas com o governo sobre a chamada "cessão onerosa", que, se resolvida, poderia trazer à empresa uma enorme riqueza financeira.

"Ele está envolvido em todos os desinvestimentos, ele está envolvido na 'cessão onerosa'", disse Luiz Carvalho, principal analista de petróleo e gás, petroquímica e agronegócio do UBS na América Latina. "Então, no final do dia, a continuidade de Ivan Monteiro seria positiva."

No início de novembro, Monteiro disse que ainda não havia sido abordado pela equipe de Bolsonaro para ficar na companhia. Assessores do executivo não o disponibilizaram para uma entrevista.

TURBULÊNCIA

A capacidade de Monteiro de ler os ventos em Brasília pode ser testada pela turbulência na nova administração.

O principal guru econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes, defendeu uma privatização total da petroleira, enquanto generais em torno de Bolsonaro se opõem a essa ideia. O próprio Bolsonaro disse que prefere manter a empresa nas mãos do Estado, mas está aberto à privatização de certos ativos.

No início de novembro, Bolsonaro disse que Monteiro provavelmente seria substituído quando o novo governo assumir em 1º de janeiro, como parte da mudança costumeira em empresas estatais.

Mas logo depois, o vice-presidente eleito Hamilton Mourão destacou Monteiro em uma mensagem no Twitter, dizendo que ficou "muito bem impressionado" após se encontrar com executivos da Petrobras. Nesta semana, ele disse que Monteiro e outros na Petrobras podem continuar.

Natural de Manaus, Monteiro trabalhou no Banco do Brasil por décadas, assumindo o cargo de CFO de 2009 a 2015.

Esse foi um período em que a então presidente Dilma Rousseff colocou uma pressão intensa nos bancos estatais para aumentar o crédito e reduzir as taxas de juros.

Enquanto a Caixa Econômica Federal, credor hipotecário do Estado, ainda está se recuperando de um balanço dramaticamente sobrecarregado, o Banco do Brasil conseguiu se manter em terreno firme e até melhorar algumas medidas de lucratividade.

Aqueles próximos a Monteiro dizem que isso se deveu a seus controles de custos disciplinados e ao talento de cumprir a ordem do governo via soluções alternativas.

"Se não fosse por ele, o Banco do Brasil teria se transformado na Caixa", disse um executivo do setor bancário à Reuters em 2015.

Quando Monteiro chegou à Petrobras naquele ano, alguns no mercado estavam céticos, disse Carvalho, do UBS, em parte porque isso coincidiu com a ida de Aldemir Bendine, então CEO do Banco do Brasil, para assumir o cargo máximo na empresa de petróleo.

Fiel a Dilma Rousseff, que sofreu um impeachment em 2016 por violar regras orçamentárias, Bendine foi condenado no início do ano por acusações de corrupção e cumpre pena de 11 anos.

No entanto, Carvalho disse que Monteiro conquistou os céticos com a execução hábil dos planos de cortar dívidas e controlar os custos operacionais. Desde 2015, a dívida líquida da Petrobras foi reduzida em cerca de 27 bilhões de dólares, enquanto as ações preferenciais da empresa subiram 360 por cento desde o início de 2016.

Três pessoas ao redor de Monteiro o descreveram como "tecnicamente orientado".

"Quando se trata de um assunto que ele entende bem, Ivan não gosta de ouvir a palavra 'não'", disse o executivo da Petrobras, que pediu anonimato. "Mas, em geral, ele é de conversar bastante com a equipe enquanto toma decisões."

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