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Análise: 'Nova política' de Bolsonaro não traz novidades na articulação

Ao indicar nomes da 'velha política' e do Centrão para cargos de confiança, presidente nega discurso eleitoral

22 set 2019 - 05h11
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Maquiavel, em O príncipe, asseverou que "um soberano prudente não pode nem deve manter a palavra quando tal observância se reverta contra ele e já não existam os motivos que o levaram a empenhá-la". O presidente Jair Bolsonaro parece seguir, mesmo sem saber, o autor florentino.

Em recente levantamento do Estado, a promessa de campanha de não franquear espaços no governo por indicações políticas não encontra eco na realidade da atual gestão. A partir de um "banco de talentos", filtrou-se as solicitações de deputados e senadores para a ocupação de cargos no bojo do governo, objetivando, com isso, apoio no Congresso. Atacados no discurso bolsonarista - a "velha política" e o Centrão - estão lépidos.

Para se ter uma ideia, das cerca de cem nomeações feitas pelo governo para os cargos de confiança com grande poder de decisão, praticamente a metade está com o Centrão, seguido pelos militares, por servidores de carreira e alguns sem uma clara definição da origem de quem indicou.

Politicamente, nada de desabonador. Governar é isso mesmo. Sem dialogar, sem construir consensos e sem acomodar os aliados em posições chave no aparato burocrático estatal não se avança. O fulcro, portanto, é compreender quais os valores norteadores das nomeações e, especialmente, a qualidade técnica, intelectual e moral dos indicados aos referidos cargos.

Novamente, aqui, vislumbra-se a fragilidade de um discurso que foi certeiro na campanha eleitoral, mas que não pode continuar durante as ações governamentais. A chamada "nova política" não traz novidades e a "velha" não pode ser, ainda, enterrada, como os mais afoitos desejariam.

* PROFESSOR DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE E DOUTOR EM SOCIOLOGIA PELA UNESP

Estadão
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