PUBLICIDADE

ANÁLISE: Demissão de Levy mostra que governo não consegue reduzir percepção de risco

"Sinais tortos" do Executivo inibem efeito positivo que se espera com encaminhamento da reforma da Previdência

16 jun 2019 - 16h10
(atualizado às 19h06)
Compartilhar
Exibir comentários

Há dois pontos a destacar após o pedido de demissão do presidente do BNDES, Joaquim Levy. O primeiro é a forma que a mudança ocorreu. A troca veio como resultado de uma exposição por parte do presidente Jair Bolsonaro de um nome importante na condução da política econômica. Não foi a primeira vez que ele expôs nomes próximos ao Planalto, seja no âmbito político ou no âmbito da condução da política econômica.

O segundo ponto tem a ver com a motivação dessa decisão. Parece haver no bolsonarismo uma tentativa de dar ao BNDES um caráter político, além da importância na gestão da política econômica. A passagem de Levy por governos do PT foi o suficiente para gerar um descontentamento com o presidente, mesmo que ele tivesse credenciais muito associadas à política econômica sinalizada pelo governo. O caráter político imposto ao BNDES é utilizado como uma forma de marcar diferenças em relação ao petismo, a partir das críticas que foram sendo desenhadas ao papel do banco nos governos anteriores. Essa dimensão se materializou de forma significativa na eleição de 2018.

O episódio da demissão é mais um ruído nos sinais emitidos pelo governo, que se soma a outras ocasiões, como a reação do ministro da Economia, Paulo Guedes, ao relatório da reforma da Previdência aprovado na comissão temática da Câmara dos Deputados. O texto foi objeto de duras críticas por parte de Guedes, apesar do valor proposto de economia ser bastante significativo.

Esses "sinais tortos" acabam reforçando o grau de incerteza de percepção de risco em relação à condução da política econômica do governo. Isso inibe o efeito positivo que se espera com o encaminhamento de uma reforma da Previdência bastante relevante em termos de impacto das contas públicas. O ano de 2019 deve se encerrar com o crescimento econômico esperado para o cenário pessimista. Esse aparente paradoxo tem a ver com a ideia de que o governo é uma "usina de crises", para usar uma expressão do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Novamente, o efeito disso é que a credibilidade da política econômica vai ficar cada vez mais associada a Paulo Guedes. No plano político, a percepção é que o governo é fraco e que o destino da reforma da Previdência depende cada vez mais da dinâmica do interior do Legislativo. De todo modo, o início do governo Bolsonaro é uma administração que não consegue reduzir a percepção de risco, mesmo com o encaminhamento da reforma da Previdência.

*CIENTISTA POLÍTICO DA TENDÊNCIAS CONSULTORIA INTEGRADA

Estadão
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade