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Alta do dólar reaviva velhos fantasmas na Argentina

Argentinos acompanham apreensivos desvalorização do peso, que já chega a 30% este ano e pressiona governo Macri.

16 mai 2018 - 15h26
(atualizado às 15h37)
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A sociedade argentina acompanha com incerteza a depreciação da moeda nacional perante o dólar, que esta semana chegou a alcançar o valor recorde de 25,30 pesos. Desde o início do ano, a desvalorização supera os 30%, o que levou o governo a elevar a taxa básica de juros para 40% no início de maio e, dias depois, pedir ajuda financeira ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Manifestantes protestam em Buenos Aires contra o pedido de ajuda ao FMI
Manifestantes protestam em Buenos Aires contra o pedido de ajuda ao FMI
Foto: DW / Deutsche Welle

O governo teve uma boa notícia nesta terça-feira (15/05), ao conseguir renovar os títulos da dívida pública de curto prazo conhecidos como Lebac e, assim, evitar que os investidores optassem pelo dólar, o que elevaria ainda mais o valor da moeda americana. A notícia da renegociação fez o dólar cair um pouco, para 24,50 pesos.

Os argentinos são muito sensíveis ao dólar, que costumam adquirir como forma de proteger suas economias da inflação tradicionalmente alta. "Na Argentina, ao contrário de outros países, a alta do dólar causa preocupação e até pânico, o que retroalimenta a pressão sobre a moeda", diz o economista-chefe da consultoria Radar, Martín Alfie.

O governo já reconheceu que, com a alta do dólar e dos juros, o crescimento econômico será menor e haverá mais inflação, mas defendeu sua política para "preservar o país de uma crise" e descartou que haja tensão social. No ano, a inflação já chega a 9,6%.

Mesmo diante dessa situação, o presidente Mauricio Macri garantiu que o país está longe de sofrer uma crise como as que atravessou no passado. Porém, ele disse entender a angústia dos cidadãos depois da forte queda do peso e do início das negociações com o FMI.

Desequilíbrio no comércio exterior

A Argentina foi um dos mercados emergentes afetados pela decisão do Banco Central dos Estados Unidos de elevar sua taxa de juros. Isso levou investidores a retirar dinheiro de mercados emergentes em todo o mundo. Com menos dólares disponíveis nesses países, o valor da moeda aumenta.

Mas, segundo Alfie, há ainda outros fatores que explicam a forte depreciação do peso. Uma delas é o déficit na balança comercial, que é muito elevado - o país importa muito mais do que exporta.

Segundo o economista, esse desequilíbrio estava sendo compensado com recursos de fundos especulativos internacionais, o que permitia ao país financiar sua necessidade de dólares. "Esse foi o pilar do modelo econômico dos últimos dois anos, durante o governo de Macri", diz Alfie.

"A saída abrupta e forte desses dólares gerou uma situação de corrida cambial", explica. Além disso, a política econômica do governo nos últimos meses foi "inconsistente" e "houveram certas desavenças entre o gabinete econômico e o Banco Central", assinala.

Ele também criticou a liberalização extrema do mercado de câmbio pelo governo Macri, que terminou com a âncora cambial criada pela ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner. "Isso deixou o país muito vulnerável às mudanças de humor do mercado. Deveriam ter deixado mais restrições e uma regulamentação que reduzisse a vulnerabilidade perante os movimentos de capital."

Longe de 2001

Já para a cientista política Mariana Llanos, do instituto alemão Giga, a crise surpreende, pois o governo "conta com técnicos muito competentes na área econômica". Segundo ela, "parece que houve uma superestimação quanto ao manejo da imprevisibilidade do contexto internacional". Ela ressalva, porém, que o governo "está fazendo o que deve fazer ao buscar o diálogo com todos os setores".

Ela acrescenta ser muito importante que a oposição coopere com as reformas planejadas pelo governo, que tem minoria parlamentar. "Se a polarização continuar, vamos retornar à Argentina de sempre", assinalou. "Este governo não está em situação terminal, como o do ex-presidente Fernando de la Rúa, em 2001. Mas não me parece uma situação fácil de resolver", diz.

Já Alfie afirma que a Argentina está longe de uma crise forte e de uma quebra generalizada, como em 2001. "As condições econômicas são muito distintas. Naquele ano, grande parte do empréstimos estava em dólar. Hoje, não", observa. "Mas todos os economistas preveem que a alta do dólar se reflita nos preços, elevando a inflação e gerando recessão na economia."

Para Macri, a Argentina aprendeu as lições da história. "Estamos preparados para prevenir crises", garantiu. Segundo ele, a maior crise foi evitada com a sua chegada ao governo, depois de "décadas de irresponsabilidade".

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