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Aliança de torcidas pressiona dirigentes por reformas

30 jun 2020 - 07h11
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Torcedores alemães esperam que crise do coronavírus sirva para repensar o futebol e seu papel na sociedade. Entre reivindicações estão maior engajamento dos clubes contra discriminação e redução no preço dos ingressos.Centenas de fã-clubes e grupos de torcedores formaram há alguns dias a Aliança Nosso Futebol (Bündnis Unser Fussball) para exigir dos dirigentes da Bundesliga e dos clubes profissionais profundas reformas na estrutura do futebol alemão. Em seu manifesto, mais de mil pequenos e grandes agrupamentos de torcidas organizadas se uniram para exigir da Bundesliga e da Federação de Futebol um novo começo: "Não queremos voltar a um sistema falido. Exigimos que clubes e federações deem o pontapé inicial visando acelerar reformas concretas antes da próxima temporada."

"Futebol sem torcedores não é nada", diz faixa estendida à frente de bonecos de papelão no Borussia Park
"Futebol sem torcedores não é nada", diz faixa estendida à frente de bonecos de papelão no Borussia Park
Foto: DW / Deutsche Welle

Christian Seifert, o diretor executivo da Bundesliga, havia prometido vagamente que, a partir de setembro do ano em curso, formaria uma força-tarefa denominada "Futebol Profissional do Futuro" com o objetivo de implementar algumas mudanças estruturais no mundo do futebol, mas sem precisar, pelo menos por enquanto, quais seriam essas mudanças.

De outro lado, as torcidas organizadas, agora unidas numa forte aliança, pleiteiam que o trabalho da força-tarefa comece imediatamente, aproveitando desse modo a temporada de férias de verão. "Em vez de se distanciar cada vez mais de suas bases, a classe dirigente precisa reconhecer as torcidas organizadas e os fã-clubes como parte integrante e elementar do futebol", afirma o manifesto.

Manuel Graber, porta-voz da Aliança, afirmou em entrevista ao site 11 Freunde (11 Amigos): "Devemos aceitar a atual crise causada pela covid-19 como uma chance para reestruturar o futebol em novas bases. A pausa durante o verão poderá ser um divisor de águas e inaugurar uma nova era para o futebol profissional: próximo à sua base popular, sustentável e contemporâneo."

Basicamente, o movimento recém-criado propõe quatro colunas mestras para a reforma.

A primeira diz respeito ao assim chamado financial fairplay. A Aliança exige que os valores obtidos dos direitos de TV sejam distribuídos equitativamente entre os 36 clubes profissionais da Alemanha. A falta de competitividade da Bundesliga é devida em grande parte às significativas diferenças nos valores pagos aos clubes. Entre Eintracht Frankfurt e Freiburg, por exemplo, há uma diferença de 10 milhões de euros, assim como entre Augsburg e Düsseldorf.

Outro pleito se refere a um maior engajamento social de todos os clubes profissionais com ações concretas, e não apenas através de meras palavras repletas de boas intenções, contra toda e qualquer manifestação de discriminação, seja no próprio clube, seja na comunidade local.

A terceira reivindicação diz respeito à uma significativa participação dos associados nas políticas internas dos clubes profissionais. Graças à norma 50+1, pelo menos teoricamente, os membros representam a base do clube. Entretanto, há clubes onde os processos de decisão não são transparentes nem democráticos.

Por último, mas não menos importante, a Aliança Nosso Futebol preconiza uma substancial redução no preço dos ingressos que deve ser acessível para todo e qualquer cidadão, não importando a sua classe social. O movimento exige ainda que os horários dos jogos atendam prioritariamente às conveniências do torcedor comum e não às da TV paga.

Não é a primeira vez que as torcidas organizadas encaminham um manifesto à Bundesliga e à Federação Alemã de Futebol, mas é a primeira vez que não se trata apenas de um ou dois agrupamentos de fãs, mas, isso sim, de uma união representativa de praticamente todas as grandes torcidas organizadas - por exemplo a "Unsere Kurve" e a "Pro-Fans' -juntamente com dezenas de fã-clubes espalhados pelo país. É uma aliança poderosa.

Existe sempre o risco de que, mais uma vez, a classe dirigente dê de ombros e arquive as reivindicações dos torcedores, mas os iniciadores do movimento estão confiantes e acreditam que, com a crise provocada pela pandemia que se abateu sobre o mundo, agora seja o momento oportuno para repensar o futebol como um todo e o seu papel na sociedade.

E o que a Aliança fará se continuar "tudo como dantes no quartel de Abrantes"?

Mais uma vez com a palavra, Manuel Graber, porta-voz da iniciativa: "Como grupo de iniciadores do movimento não sabemos ainda. Torcedores, fã-clubes e torcidas Ultra tem a última palavra para definir um plano de ação. De todo modo, me parece evidente que, se mais uma vez houver um engavetamento de nossos pleitos, com o passar do tempo cada vez mais pessoas irão se afastar do futebol e, consequentemente, dos estádios."

Em Mönchengladbach, no belo Estádio Borussia Park, uma enorme faixa foi estendida à frente dos bonecos de papelão numa das últimas rodadas da atual temporada. Lá estava escrito: "Futebol sem torcedores não é nada."

Que os dirigentes do esporte mais popular não só na Alemanha, mas praticamente no mundo inteiro, possam se lembrar disso, sempre.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no Twitter, Facebook e no site Bundesliga.com.br

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