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Aliados de Bolsonaro afirmam que situação no PSL é 'insustentável'

Presidente, no entanto, baixa o tom, diz que não há crise, mas sugere que parlamentares do partido querem uma sigla 'diferente'

9 out 2019 - 18h38
(atualizado às 20h08)
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BRASÍLIA - Aliados do presidente Jair Bolsonaro afirmaram nesta quarta-feira, 9, que a situação dele no PSL, partido pelo qual foi eleito, está "insustentável". Ao sair de uma reunião com o presidente e deputados da bancada do partido, a advogada de Bolsonaro, Karina Kufa, atribuiu a insatisfação à falta de transparência interna por parte da direção do partido.

Presente na reunião, o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral Admar Gonzaga, que tem atuado como um conselheiro do presidente, afirmou que Bolsonaro não está confortável no ambiente em que se encontra. O encontro foi pedido pelos parlamentares, que integram o grupo insatisfeito com o presidente da legenda, o também deputado Luciano Bivar (PE).

"Bolsonaro sempre levantou bandeira da ética e da transparência e exigia isso dos dirigentes do partido. Mas foi muito difícil entrar em um acordo quando um partido não está disposto a abrir simplesmente uma votação democrática, seja para alteração de estatuto, seja para eleição dos dirigentes. Ficou insustentável em razão desses motivos internos", disse Karina.

À noite, no entanto, Bolsonaro, que havia dito a um simpatizante para "esquecer" a sigla, baixou tom e disse que está "tudo bem" com a legenda. "Por enquanto, tudo bem. Não tem crise. Briga de marido e mulher, de vez em quando acontece. Não tem crise, não tem o que alimentar. Não tem confusão nenhuma", disse ao deixar o Palácio do Planalto.

O presidente ainda afirmou que a sua declaração a um apoiador que se apresentou como pré-candidato pelo PSL no Recife para que esquecesse a legenda foi um alerta de que a fala do rapaz poderia configurar campanha eleitoral antecipada. "Falei para o garoto: 'Esquece o PSL'. Por que? Ele é pré-candidato a vereador, se começar a falar em partido é campanha antecipada, isso que eu falei para ele", explicou.

Bolsonaro afirmou ainda que a insatisfação de uma parte da bancada com a direção do PSL, principalmente com o presidente da sigla, deputado Luciano Bivar (PE), não é um problema seu. "O pessoal quer um partido diferente, atuante. Este partido está estagnado", afirmou.

"Bolsonaro sempre levantou bandeira da ética e da transparência e exigia isso dos dirigentes do partido. Mas foi muito difícil entrar em um acordo quando um partido não está disposto a abrir simplesmente uma votação democrática, seja para alteração de estatuto, seja para eleição dos dirigentes. Ficou insustentável em razão desses motivos internos", disse Karina.

Advogada nega que disputa seja por fundo partidiário

A advogada Karina Kufa também atribuiu a insatisfação de diversos deputados da bancada às dificuldades de acesso às contas da legenda. Ela negou que a disputa interna seja motivada pela disputa em torno do fundo partidário. "A briga é por um partido que seja ético, transparente, que não macule a imagem de nenhum dos parlamentares e do presidente", disse.

Mesmo rachado, o partido terá na próxima campanha a maior fatia dos fundos públicos usados para financiar candidatos - estimada em R$ 400 milhões -, porque foi o mais votado na disputa de 2018, na esteira da eleição de Bolsonaro.

Questionada sobre se Bolsonaro pode deixar o partido de fato, Karina disse apenas que cabe ao presidente decidir. Por enquanto, segundo ela, só está sendo conversado entre os deputados o futuro da legenda. Gonzaga também atribuiu o desgaste do presidente com o PSL à falta de clareza em relação ao uso dos recursos partidários.

"Como isso não foi permitido no ambiente em que se encontra, ele, como tem a bandeira da nova política, da transparência com dinheiro público, não está confortável no ambiente onde se encontra", disse o ex-ministro.

Karina confirmou que deixou de atuar na defesa do partido, mas disse que continua como advogada de Bolsonaro. Ela, no entanto, negou que tenha sido demitida, até porque não tinha vínculo empregatício com o partido, mas um acordo contratual que foi rompido. No ano passado, a advogada assumiu a parte jurídica da sigla para cuidar da campanha de Bolsonaro. Karina também é diretamente ligada a Eduardo Bolsonaro, filho do presidente e deputado pelo PSL.

Gonzaga diz que deputados poderiam sair do PSL sem perder mandato

Gonzaga contou que está em análise a estratégia que os deputados insatisfeitos poderão usar caso decidam sair do PSL para garantir a permanência no mandato. De acordo com ele, há uma jurisprudência no TSE que permite o uso do argumento de justa causa. Neste caso, para ele, poderia ser a da falta de transparência com o uso da verba do partido.

"Justa causa é quando há descumprimento do manifesto do partido reiterado, questões de ordem pessoal como perseguição pessoal, como retirar deputados de comissão, ameaça de expulsão, algum tipo de verborragia ou deselegância em meios sociais. Sobretudo, a justa causa você tem quando não se tem transparência com recursos do fundo partidário, que é entregue ao partido em face dos votos dedicados aos parlamentares pelos eleitores do Brasil", disse.

Questionado sobre se as denúncias de que candidatas tenham sido usadas como laranjas nas eleições do ano passado poderiam motivar o pedido de justa causa, Gonzaga reiterou que o problema é "só a responsabilidade com o dinheiro público". "Essas outras questões acessórias serão analisadas pela justiça eleitoral", disse.

O deputado Filipe Barros (PSL-PR) afirmou que todos os parlamentares que estiveram na reunião hoje no Palácio do Planalto manifestaram apoio a Bolsonaro. "Estamos incondicionalmente com o presidente", disse.

A expectativa é de que o grupo divulgue até o fim do dia uma nota sobre qual a decisão que será adotada. Questionada se o presidente sairia do PSL, Bia Kicis afirmou que não há ainda como definir o que vai acontecer. "Nada está certo ainda", disse. "A gente prefere não falar, porque se mexer acaba atrapalhando", completou. Não há, ainda, um cálculo sobre quantos integrantes do PSL acompanhariam o presidente numa eventual movimentação.

Estadão
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