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1919: A "lenda da punhalada pelas costas" fomenta o nazismo

18 nov 2017 - 07h32
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Em 18 de novembro de 1919, o marechal Paul von Hindenburg usa a teoria da "punhalada pelas costas" para se eximir da responsabilidade pela derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial.A comissão parlamentar de inquérito investigava a questão das responsabilidades pela Primeira Guerra Mundial, que se encerrara um ano antes. Em seu depoimento em 18 de novembro de 1919, o marechal-de-campo Paul von Hindenburg defendia a teoria de que movimentos revolucionários da Alemanha teriam "apunhalado" o Exército pelas costas.

"Um general inglês disse, com razão: 'O Exército alemão foi apunhalado pelas costas'." Essa foi uma das frases usadas por Von Hindenburg ao tentar se eximir, diante do Parlamento, de qualquer responsabilidade pela derrota da Alemanha na Primeira Guerra. Nascia ali a chamada "lenda da punhalada pelas costas" (em alemão, Dolchstosslegende), que anos mais tarde ajudaria os nazistas a tomar o poder.

O estopim do primeiro conflito mundial havia sido o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, por um nacionalista sérvio, em 28 de junho de 1914. Um mês depois, a Áustria declarou guerra à Sérvia.

No início de agosto, a Alemanha declarou guerra à Rússia e à França. A invasão da Bélgica pelos alemães, que não tinham outra forma de atingir a França, foi pretexto para a entrada da Grã-Bretanha na guerra, que envolveria ainda muitos outros países.

O plano alemão de cercar rapidamente o Exército francês fracassou. Já em outubro de 1914, a guerra na Europa Ocidental passou a ser tática, com pesadas perdas para todos e praticamente sem alteração nas frentes de batalha até 1918.

O abastecimento piorou a tal ponto na Alemanha que 260 mil civis morreram de fome em 1917. O anúncio alemão de contrabloqueio por submarinos provocou a entrada dos Estados Unidos no conflito.

Em março de 1918, a Alemanha ainda forçou a Rússia a assinar um acordo de paz no Leste Europeu; em agosto, praticamente capitulou diante dos aliados na frente ocidental. Segundo anotações de um comandante da região de Flandres, milhares de soldados alemães e divisões inteiras de tanques estavam virando cinza.

Fome tirou entusiasmo pela guerra

Para antecipar-se a uma vitória das tropas aliadas no ocidente, o comandante geral Erich Ludendorff pediu um cessar-fogo imediato. Na Alemanha, as mortes de civis famintos no inverno de 1917 quebrara o entusiasmo inicial pela guerra. Naquele ano, operários da indústria de armamentos entraram em greve em protesto contra a fome.

Em julho, os partidos democráticos formaram uma comissão interpartidária e exigiram do governo imperial - sem sucesso - uma "paz de entendimento, sem anexação forçada de territórios".

No início de novembro de 1918, em meio às negociações do cessar-fogo, marinheiros em Kiel impediram a partida da frota da Marinha para um combate e, com essa insubmissão, desencadearam uma reação em cadeia na Alemanha.

Na disputa pelo poder, as forças democráticas, comunistas e nacionalistas derrubaram a monarquia. Os democratas saíram vitoriosos e foram legitimados, mais tarde, pela Assembleia Nacional Constituinte. O antigo regime entregou à comissão interpartidária o governo e o pesado fardo de aceitar um acordo de paz desvantajoso, do ponto de vista da Alemanha.

Todos esses acontecimentos internos, que causaram a derrocada do antigo regime e o nascimento da democracia, serviram ao Comando Superior das Forças Armadas para desviar a atenção da própria culpa pela guerra.

O argumento de Von Hindenburg, de que as forças revolucionárias teriam desmoralizado e apunhalado o Exército pelas costas, foi propagado por militares e políticos monarquistas, através de jornais conservadores e de extrema direita, e ganhou um teor explosivo subestimado pelos democratas.

A população, inicialmente castigada pelas reparações de guerra pagas pela Alemanha, sofreu as consequências do desemprego e da inflação, sem ter um esclarecimento amplo dos verdadeiros motivos da guerra. Os nazistas aproveitaram essas circunstâncias para difamar a democracia e chegar ao poder com promessas de salvação.

Henrike Scheidsbach (gh)

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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