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Inspirado nos Racionais, grupo de rap indígena estreia no Rock in Rio

Live show do Brô MC’s, em março, serviu como um "esquenta" para a subida ao palco Sunset, que acontece em setembro

29 mar 2022 - 13h46
(atualizado às 17h54)
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Originários da Terra Indígena Francisco Horta Barbosa, Bruno Veron, Clemerson Batista, Kelvin Mbaretê e Charlie Peixoto ainda estavam na escola quando formaram o Brô MC's no Mato Grosso do Sul. O fator de união do quarteto foi o interesse comum em escrever canções que representassem a realidade dos povos indígenas. Na época, ouviam no rádio grupos como Racionais MC’s e Facção Central. Ao entender que o rap retratava as periferias das grandes cidades, Bruno decidiu fazer o mesmo para as aldeias. "Os caras falavam da realidade da 'quebrada'. Me identifiquei com aquilo, porque que era muito parecida com a nossa realidade”, lembra.

Na estrada desde 2009, agora os integrantes se preparam para viver uma experiência única em sua trajetória: eles subirão ao palco Sunset do Rock in Rio, em setembro, ao lado do rapper carioca Xamã.

Kelvin lembra que se inspirou na letra de "Negro Drama", do Racionais, para escrever as suas: "Nossas lideranças são constantemente mortas em conflitos por terra. Também sofremos discriminação quando vamos à cidade. Comparando o que acontece com o povo Guarani-Kaiowá e o negro, como cantava os Racionais em ‘Nego Drama’, resolvi compor”, explica.

Em março, o Brô MC's fez uma live show com recursos da Lei Aldir Blanc, por meio da Secretaria de Cultura de Dourados (MS). A performance serviu como uma pequena amostra do que o público do festival deve esperar: canções engajadas que servem como uma ferramenta de combate ao preconceito e ao racismo. Algumas são cantadas em guarani, como “Eju Orendive”. Outras criticam a colonização — é o caso de "A vida que eu levo", que serviu de tema até para um artigo acadêmico da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados).

Pioneiro, o trabalho musical não foi aceito de imediato por lideranças indígenas e familiares. Clemerson conta que a visão deles sobre o grupo e o rap foi mudando ao longo dos anos. "Hoje as lideranças curtem o trabalho e sabem que levamos nossa língua e cultura para muitas pessoas. É massa ver lideranças de outros povos e aldeias e até não indígenas dizendo que gostam da nossa música”, celebra.

Acostumados a quebrar paradigmas dentro e fora da comunidade, o Brô MC’s rompe mais uma barreira em 2022: serão os primeiros músicos indígenas a se apresentarem no Rock In Rio. "Diante de tanta violência contra os povos indígenas, ficamos muito felizes em poder levar nossa força para tanta gente. Queremos falar para o maior número de pessoas sobre nossas vivências”, diz Charlie, reconhecendo a importância de estar no palco.

O Brô MC’s também foi o estopim para que muitos outros artistas indígenas se destacassem na cena, como Oz Guarani, Katú Mirim, Oxóssi Karajá, Kunumi MC, Kaê Guajajara e Souto MC. Para Souto, cujo primeiro disco, "Ritual", fala sobre o resgate de sua ancestralidade indígena, o Brô MC's é uma fonte de inspiração. “Pessoas que estão há muito mais tempo falando sobre a retomada e luta indígena, como os integrantes do Brô MC's, me inspiram. Também admiro o trabalho da Katú Mirim e da Kaê Guajajara. Quando as escuto, fico no lugar de aluna, aprendendo", conta.

Fonte: Redação Nós
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