Camilla De Lucas detalha caminho até a fama, BBB e bastidores de cenas quentes em filme

Patty é estrondosa. Um metro e oitenta, pernas longas, maquiagens coloridas e marcantes, voz alta e firme – um pouco grave; cabelos pretos, crespos e longos, geralmente presos em um rabo de cavalo e um piercing robusto no septo. A personagem extravagante ganhou vida com a ex-BBB e produtora de conteúdo Camilla de Lucas, que estreou nos filmes com o lançamento de “O Lado Bom de Ser Traída”, em outubro.

Patty é a melhor amiga da personagem principal, Babi, interpretada por Giovanna Lancelotti, e é um afago ao enredo brutalmente sexual do filme, produzido pela Netflix. Suas cenas bem-humoradas trouxeram a Camilla uma repercussão inesperada, e com ela, a vontade de focar totalmente na carreira de atriz. 

Nunca foi uma profissão sonhada por ela, já que a falta de representatividade entre atores na televisão era uma realidade. Ainda assim, queria ser modelo quando menina – sempre foi mais alta que a média – ou secretária. Se inspirava em Beyoncé, uma mulher preta que já estava no topo.

Camilla queria chegar ao topo também. E chegou. Em entrevista exclusiva ao NÓS na Vitrine, ela, que lança agora em dezembro sua primeira collab de roupas com a Shein, relembra a infância, as conversas que os pais tinham sobre racismo e detalha sua estreia como atriz.

“O projeto todo do filme foi desafiador. Foi meu primeiro longa, e ainda por cima foi um filme voltado para o público adulto. A equipe foi muito transparente, fez tudo para que eu me sentisse o mais à vontade possível nas cenas, mesmo as mais picantes. Eu estava em sintonia tanto com a produção quanto com a própria história e a personagem. Mergulhei de cabeça”, afirma.

O começo

Camilla produz conteúdo na internet desde 2017, e o que a fez despontar foram os vídeos de humor. Três anos depois, foi considerada uma das jovens mais influentes do ano pela Forbes Under 30. No ano seguinte, participou do Big Brother Brasil e viu a fama que tinha até então se alavancar absurdamente. Camilla terminou em segundo lugar na competição.

O convite veio via telefone, e ela aceitou sem pestanejar. Depois, caiu a ficha.

Quando quero uma coisa, não fico em dúvida

Camilla prossegue: "Com o BBB foi assim também. Aceitei o convite prontamente e só depois parei para pensar sobre. Foi no impulso. Eu sabia que seria um grande divisor de águas na minha vida, mas não tive medo. Foi uma grande oportunidade.”

No Big Brother, Camilla protagonizou uma das cenas mais icônicas da edição: a discussão com Karol Conká, que, à época, era o grande algoz dos participantes e do público. Suas caras e bocas, até hoje, estampam figurinhas de WhatsApp e memes pelas redes sociais. Apesar da fama que antecedeu o programa, Camilla sabe que o BBB abriu centenas de portas.

“Minha vida pré-BBB estava tranquila. Estava bom para mim. Ainda assim, eu sei que entrar na casa me proporcionou novas oportunidades. Até hoje, colho frutos dessa participação e continuo imensamente grata pela experiência”, diz. 

Camilla de Lucas, o caminho do humor até o sucesso: “É só o começo”

O papel do humor

Os vídeos no TikTok, que tiraram Camilla do anonimato, eram uma forma que ela encontrou de brincar e exaltar seu humor – sua característica desde a infância. Camilla era uma criança divertida, fazia todos ao redor caírem na gargalhada.

Natural de Nova Iguaçu, cresceu em uma família presente e estruturada, em que as conversas duras também existiam. Havia amor e carinho, mas também cobrança pelos estudos e por responsabilidades, além de visões de mundo não tão simples.

Menina preta, ela ouvia dos pais com certa frequência conselhos sobre como agir em eventuais casos de racismo. 

No ano passado, já na fama, Camilla protagonizou uma situação constrangedora em um avião, e botou a boca no trombone. Na classe executiva, foi a única passageira obrigada a mostrar sua passagem. À época, ela fez publicações nas redes sociais bastante abalada, entendendo que aquele constrangimento só aconteceu por ela ser uma mulher preta. 

“Voo de executiva para o Brasil, e a segurança entra no meu voo e pergunta se aquele é meu lugar. Respondi que sim, então ela pediu para que eu mostrasse o bilhete. De 14 lugares, só eu precisei comprovar. Perguntei o porquê de ela ter pedido só o meu e ela falou que era ‘só para saber’”, disse, à época, no Twitter. “Eu falo para vocês que as coisas acontecem e vocês acham que não acontecem”, continuou o desabafo em um vídeo chorando no Instagram.

Raízes

A força para expor e falar sobre vem de casa, onde recebeu desde sempre todo suporte e acolhimento. “Meus pais sempre me ensinaram a contar para eles caso eu fosse vítima de comentários de cunho racista. Isso sempre me deu força, senti que não estava sozinha”, diz.

“Sempre senti que podia ser o que quisesse. Quis ser modelo, secretária. Fiz faculdade de Ciências Contábeis, trabalhei em imobiliária e acho que poderia ter seguido na área administrativa. Mas a internet me escolheu. Sempre acompanhei blogueiras querendo fazer a mesma coisa. Comecei a postar sem expectativa, pela brincadeira, e o alcance me surpreendeu muito. O que era um hobby evoluiu para um trabalho.” 

No mesmo ano em que começou, Camilla já assinou seu primeiro contrato com uma marca de produtos para cabelo, e foi aí que a ficha começou a cair. “Tem hora que ainda me surpreendo com o alcance do meu trabalho. Parece que não caiu a ficha. Venho conquistando muita coisa e tudo é muito importante pra mim. Já consegui comprar uma casa e minha vida pessoal está ótima. Me casei, minha família está bem. Só sinto paz e felicidade”.

Camilla de Lucas e outras noivas negras incríveis

Foco na carreira de atriz

Os alcances como influenciadora não impedem Camilla de Lucas de investir na carreira de atriz. Seu longa de estreia ocupa o primeiro lugar no ranking mundial da Netflix. “É só o começo. Quero ocupar cada vez mais espaços de referência e representatividade para outras meninas e mulheres negras. Quero continuar evoluindo como atriz e participando de mais projetos incríveis como foi “O Lado Bom de Ser Traída”. Ainda temos muito para conquistar”.