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A educação transformou a minha vida

A série "Estudantes na Alma Preta" traz as histórias de jovens da rede estadual de ensino da Bahia narradas a partir da perspectiva deles

20 dez 2021 - 16h39
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Foto: Imagem: Alma Preta Jornalismo / Alma Preta

Desde pequena a educação sempre fez parte significativa da minha vida. Sou filha de educadora, a minha mãe Dulciana, que me é um exemplo e compartilhamos do mesmo sentimento: acreditar na educação.

Cresci estudando em uma escola particular. Lá criei a maioria dos meus laços, minhas melhores amizades, passei por momentos que me fizeram ser quem sou hoje. Como sempre vivi me dedicando à educação, ler e escrever fizeram parte de toda minha trajetória que não foi feita apenas de felicidade. Passei também por momentos que me fizeram amadurecer, por exemplo, quando tive paralisia facial e estudar sempre foi minha maneira de lidar com o que eu sentia. Quando quebrei o braço também me lembro de minha mãe ter me dado um conjunto de canetinhas com glitter e cheirinho de fruta. Aprendi a escrever com o braço esquerdo só pra mandar uma cartinha pra minha professora.

Depois de muito esforço para me alfabetizar, me mudei pra Holanda e fiquei distante de toda minha família materna, além das pessoas do meu convívio. Essa mudança teve grande impacto na minha trajetória, pois era um país completamente distinto, com pessoas, línguas e uma cultura diferente da minha. Lembro que eu sentia a minha vida naquela época como uma página em branco, porém não demorei muito para escrever mais uma etapa da minha história nela. Aprendi uma nova língua, conheci pessoas novas e criei laços.

Quando retornei para o Brasil, minha mãe decidiu que precisava fazer novamente a alfabetização. Lembra que eu disse que a minha mãe acreditava na educação? Por isso mesmo, recordo que foi frustrante, já que entrei em uma turma totalmente diferente. Eu mal sabia que seria incrível, foi nessa turma mesmo, na alfabetização, que conheci as melhores pessoas da minha vida, meus melhores amigos: Afra, Sophia, Fernanda, Pedro, Lua, etc.

Gosto de dizer que a educação transformou a minha vida porque foi com ela que eu me encontrei, que eu conheci os meus melhores amigos seja na quarta série, em outro país ou no primeiro ano de curso de inglês, aliás foi lá que eu conheci o meu melhor amigo Eric.

Hoje com 18 anos a educação continua mudando a minha vida. Não achei que isso aconteceria logo na pandemia, no meu último ano na escola, mas foi nesse ano que me tornei líder de classe, de colégio, município e vice territorial, mas dessa vez na rede pública, o que me orgulha tanto.

No dia 10 de novembro eu estava a caminho de mais uma autodescoberta, indo para a BAMUN (Bahia Model United Nations), a simulação da ONU (Organização das Nações Unidas) que me fez enxergar tudo que estou contando aqui. Lá eu descobri o que eu quero fazer, levar a educação e a informação para as pessoas porque foi assim que eu me reconheci como mulher e estudante. Falar disso me emociona, Eu sei que educação no nosso país hoje é sinônimo de revolução e não só de coragem como também de resistência. Eu sempre choro quando falo disso.

Escrevo isso também para a Guadalupe de 7 anos, que não queria mudar de turma por medo de perder seus amigos e não construir novas relações (deu tudo certo). Escrevo também para a minha mãe, que além de acreditar me apoiou em todos os momentos.

Como dizia Immanuel kant: "O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele". A educação transformou a minha vida e acredito que posso ajudar a transformar a de outras pessoas também.

Sobre a autora: Guadalupe de Almeida Souza é uma jovem de 18 anos, moradora da cidade de Lençois, na Bahia, e estudante do Ensino Médio no Centro Educacional Renato Pereira Viana (CERPV)

Alma Preta
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